segunda-feira, 28 de julho de 2008

LAMPIÃO E O CANGAÇO: ENTRE A MITOLOGIA E A HISTÓRIA







Eric do Vale






Ao observar as roupas, fotografias, recortes de jornais, armas e alguns pertences pessoais de Lampião, no Centro Dragão do Mar, adquirimos uma ótica romântica sobre o cangaço, que simultaneamente pode ser contrastado através do fundo musical, na voz de Luiz Gonzaga, com letras que apresentam um teor critico .

Após ser morto em uma emboscada policial, há exatos setenta anos, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, galgou o posto de "Rei do cangaço". Valendo-lhe um espaço mitológico na nossa História, equivalente a uma redenção, sobrepujando as suas ações criminosas.

A dúplice e controvertida trajetória de Lampião e do cangaço pode ser compreendida por intermédio de uma visita a exposição dos vaqueiros, também sediada no Dragão do Mar. A região Nordeste sempre foi qualificada como uma terra oligárquica e sem leis. Tais circunstancias determinaram o cangaço.

Através do roubo, do homicídio, do estupro e outras atividades relacionadas ao banditismo, os cangaceiros, conforme eles acreditavam, foram fazendo justiça. Como é possível fazer justiça aderindo à criminalidade?
Em entrevista concedida ao O POVO, em 1928, Lampião declarou que era cangaceiro por maldade de terceiros e não por maldade própria A sua justificativa se assemelha, na atualidade, aos das facções criminosas existentes, reforçando a tese de Jean Jacques Russeau: "O homem não é mau, a sociedade é que o corrompe". E quem faz a sociedade? Recorrer à força bruta, mesmo que seja para se fazer justiça, é uma medida cabível?

Aqueles que aderiram ao cangaço se igualaram aos coronéis no quesito de pegar em armas e impor o respeito junto à sociedade. E após muitas adversidades cometidas, pagaram com as suas vidas.
A capacidade de discernir o certo do errado é uma das essenciais virtudes apresentada e alcançada pela humanidade, tornando-se conveniente a lógica de se analisar o cangaço de maneira enfatizada