Eric do Vale
Bati uma carteira pra
pagar o meu pivô
Sorri cheio de dentes
para o meu amor
Ela nem ligou, foi me
xingando de ladrão
Pega ladrão!Pega Ladrão!
( Billy Negão:Cazuza &Guto Goffi)
( Billy Negão:Cazuza &Guto Goffi)
Atendia pela alcunha de Mão Leve desde
os dez para os onze anos e ficava furioso se alguém mencionasse o seu nome de
batismo. Diariamente, chegava em casa com o bolso repleto de frutas, doces,
brinquedos ou qualquer bugiganga que subtraíra por aí. Quando não se encontrava
bêbado, o pai trabalhava aplicando golpes e a mãe permanecia casada por
cumplicidade, mesmo apanhando do marido. Distante era o convívio com os
familiares, mas quando os visitavam, era certo de, depois, darem por falta de
alguma coisa. Conta-se que, ao receberem um parente distante em casa,
convenceram-no a pernoitar. Trazia consigo uma carteira que apresentava uma boa
quantia de dinheiro, mas, no dia seguinte, ele a encontrou vazia. A inconstância de moradia era outro motivo
que dificultava a manutenção do vínculo familiar e eles ficavam estabelecidos,
no máximo, por seis meses até partirem sem se despedir de ninguém, devendo a
Deus e ao mundo.
Instalada em uma nova cidade,
adquiriram a confiança dos moradores que logo definhava a partir do momento em
que alguém do grupo “se esquecia” de devolver os objetos que pedia emprestado
aos conhecidos. Seu Dedé que não vendia fiado a ninguém abriu uma exceção, duas
ou três vezes, para aquela família, mas se arrependeu quando se deu conta de que
tão cedo receberia o que lhe devia.
De saída do armazém, Mão Leve foi abordado por seu Dedé:
- Quero falar com você.
- Sim, já sei. O meu pai disse
que hoje mesmo vai pagar ao senhor.
- Posso ver os seus bolsos?
Antes que pensasse em dar no pé, Chicão,
empregado da loja, colocou-se na sua frente e disse:
- Você só sai daqui depois de
revistarmos o seu bolso.
Seu Dedé, apalpando-lhe os bolsos, disse:
- O que temos aqui? Veja só,
Chicão!_ Encontrando alguns objetos da loja.
O delegado apareceu nesse momento
e falou:
- Agora é por minha conta, seu
Dedé. Chicão faz favor de avisar aos pais dele e diga que quero falar com os
dois.
- Sim senhor.
Logo que os pais chegaram à
delegacia, a mãe protestou:
- Delegado, o senhor não pode
prender o meu filho, porque ele é de menor!
- Sei disso, mas posso prender
vocês. Guarda, algemem os dois.
- O que é isso, delegado?_ Perguntou
o pai.
- Vocês estão presos.
Seu Dedé desconfiou da constante
presença deles em seu estabelecimento, desde que proibira de vender fiado. De
um por um, os três surgiam e ficavam ali de bobeira por um longo tempo. Como
havia instalado umas câmeras ocultas, seu Dedé reparou na ação da família e,
quando deu parte na polícia, arquitetou com o delegado um plano para pegá-los
em flagrante. A população, em peso, acompanhou o momento em que o casal entrou
na viatura rumo à penitenciaria e todos ficaram perplexos ao saberem que já
vinham sendo procurados pela justiça de outras cidades pelos mesmos delitos.
Mão Leve que, naquele momento, tinha
quinze para dezesseis anos, foi conduzido ao juizado de menores onde acabara de
fazer amizade com Parafuso e Loirinho. Parafuso era craque em arrombar
residências, puxar carros e fazer ligação direta. Loirinho, apesar de mais novo,
já era mestre em assalto à mão armada. Os
seus novos amigos passaram a chamá-lo de 203, seu número de detento, vindo a
tornar-se a sua nova alcunha. Os três não perderam tempo quando o carcereiro
deixou o portão aberto, por alguns segundos, e fugiram. De noite, avistaram um
carro estacionado numa viela e não pensaram duas vezes, vendo que dentro havia
um casal, cada um foi cercando por um lado até rendê-los:
- Desce do carro!
Parafuso assumiu a direção e, ao
avistar uma blitz, tentou desviar, mas foi perseguido até bater num poste
quando entrou na contramão.
Mal foram conduzidos ao juizado e
novamente os três já estavam nas ruas. Após muitos êxitos alcançados,
inexplicavelmente o grupo se dispersou. Naquela altura, 203 tornara-se um expert em furto, invadia residências, assaltava
ora armado ou tomando na raça. Aprendera a dirigir e roubar carros com
Parafuso. Às vezes, era capturado, mas em pouco tempo já estava nas ruas, cada
vez mais fortalecido.
Perto da hora do almoço, viu uma
mulher com umas pernas bonitas caminhando para a rodoviária portando uma bolsa.
Com o ferro na cintura, pensou em puxar a arma, porém resolveu seguir os passos
dela e calculou o momento oportuno para dar-lhe o bote. Encaminhando-se para a
bilheteria, tomou-lhe a bolsa, numa fração de segundos, e correu. Histericamente,
ela gritou
- Pega ladrão! Pega ladrão!
O povo se solidarizou com ela:
-Pega ladrão!
À proporção que 203 ia se distanciando, o coro
aumentava:
- Pega ladrão!
Não se sabe quem foi que colocou o pé para ele
tropeçar e cair, mas naquela hora a multidão correu em sua direção e iniciou-se
um festival de chutes e socos. Dificilmente, 203 escaparia dali com vida.
Naquela hora, um grito tomou conta daquele linchamento:
- Circulando todo mundo!
Mostrando o distintivo, ordenava:
- Russo, algeme-o. Agora é por
nossa conta, pessoal!
A mulher recebeu a bolsa de volta, a multidão foi
diminuindo e 203, todo ensanguentado, foi colocado na viatura.
Para 203 aquilo já era hábito
corriqueiro. Preso, fugiria novamente e tornaria a roubar e quem sabe fazer coisa
pior? A viatura foi passando por um lugar que 203 pouco conhecia. Após
atravessar uma estrada, o carro estacionou em um terreno baldio. Quando
saltaram, Russo abriu a porta da viatura para 203 sair e ouviu o policial:
- Nós vamos te soltar. Você tá
livre, mas fique sabendo que não quero tão cedo ver a tua cara, entendeu?
Mesmo achado estranho, 203 confirmou
balançando a cabeça e o policial continuou:
- Espero que você tenha entendido
o recado. Russo, por favor!
O auxiliar obedeceu-lhe, tirou as algemas de
203 e o policial falou:
- O que está esperando? Se manda!
Ele deu uns quatro passos até o
policial falar:
- Só mais uma coisa.
Mal se virou quando o policial o
feriu mortalmente com um tiro na barriga. Agonizante, ele caiu no chão. O policial
e o seu colega continuaram atirando até acabarem as balas. Colocando o revólver
no bolso, o policial cantou o trecho de um samba: “Se gritar pega ladrão...”, e
o seu auxiliar completou: “Não sobra um meu irmão”; “Se gritar pega ladrão...”.
Entraram na viatura e foram embora.
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