domingo, 21 de abril de 2013

Conto - O Zoológico


 

  Eric do Vale





Um grande circo com inúmeras pessoas

 e animais e aparatos que se ajustam

                                                                 e se completam uns aos outros pode arranjar utilidade para todos a qualquer hora.  
(Franz Kafka: Um Artista da Fome)









Josué classificou como um zoológico o setor onde Zé Mário trabalha. Todos estavam de acordo até o próprio Zé Mário, apesar de ninguém, naquela mesa de bar, ter-se pronunciado. Impossível em não discordar, a quantidade de figuras exóticas que constituem aquele departamento é mesmo digna de um zoológico ou circo ambulante.

Caracterizado por uma sisuda expressão facial, o Maestro encabeça a trupe, locomovendo-se, diariamente, a passos largos, rumo a sua sala sem cumprimentar ninguém. Com os pés sobre a mesa, ele acompanha o andamento da “orquestra” através de uma janela de vidro, mas a sua batuta não se restringe somente àquele setor. Abaixo do diretor- presidente, ele é o baluarte da instituição. Logo que Zé Mário entrou na sua sala e disse que um funcionário estava pedindo um reembolso de três meses atrás, o Maestro indagou:
-Por acaso, esse funcionário é novato?
-Não, já trabalha aqui há mais de dois anos.
-Se fudeu.
 Isso foi o de menos, perto da vez em que saiu de sua sala falando, aos gritos, no celular uma sinfonia de palavrões. Percebendo a burrada que fez, imediatamente desculpou-se em público sem fazer ideia de que todos ali já estavam habituados com os seus constantes arroubos, razão pela qual o torna mais temido do que respeitado pelos seus colaboradores.

Só mesmo Jandira para demonstrar algum afeto pelo Maestro. Sempre que há uma confraternização, ela faz questão de pegar alguns doces e salgados e levar para ele, que, por sua vez, nem agradece. Homem nenhum sucumbiria os seus caprichos, levando em conta a sua meiguice e beleza. Didi que o diga, vestindo uma camisa colada e ostentando o seu corpo bem cuidado para a ala feminina da empresa, ele faz às vezes de conquistador barato. Não há um só dia em que Didi deixe de falar de suas conquistas amorosas para os seus colegas de trampo, mas todos estão cientes de que ele não passa de uma mosca de padaria fantasiado de gogo boy.

Morcego,ao contrário de muitos, vara noite adentro no escritório e só chega ao batente na hora do almoço. Não seria nenhum espanto se na sua árvore genealógica apontasse algum parentesco com o Conde Drácula. Além de ser o decano, Coruja alcançou a proeza de tornar-se o primeiro funcionário contratado antes mesmo de a firma ser inaugurada. Conhecendo como ninguém os trâmites da casa, especialmente daquele departamento, ele é o braço direito de Diana que faz jus ao nome da deusa da caça e está sempre de tocaia, aguardando o momento oportuno para pegar os seus subalternos, quando derem um passo em falso.

Outro time que compõe o zoológico é gerenciado pelo Bicho Preguiça que não se levanta de sua cadeira nem pra ir ao banheiro. Se alguém depender de sua ajuda, tem que esperar sentado. O seu auxiliar até que tem boa vontade, embora seja muito vagaroso porque vive com a cabeça nas nuvens e é conhecido como Tonho da Lua por causa de sua aparência física. Aquiles tem a incumbência de honrar essa equipe desdobrando-se para atender às demandas que não cessam de chegar e ainda tem que ter saco para aturar uma dupla que não tá no gibi: Vera Fischer, como é conhecida, está sempre bem arrumada e com uma expressão altiva, misto de ar de primeira-dama com cara de fome, e Iracema porta-se da mesma forma que a sua parceira, achando-se a Beyonce do Pará.

História é o que não falta para quebrar a rotina do trabalho, como da vez em que se pensou que um gambá fosse o mais novo integrante do zoológico devido ao mau cheiro que impregnou o escritório, mas tal hipótese logo foi descartada, porque todos se deram conta de que o fedor vinha da mesa do Tonho da Lua.  A descoberta de um rato morto debaixo de sua escrivaninha assemelhava-se ao primeiro parágrafo do segundo capítulo de A Peste, do Albert Camus, o que não impediu que o pobre rapaz, por um triz, não tivesse sua alcunha alterada para Gambá.

Recentemente, correu a noticia de que três espécies entraram em extinção, houve quem dissesse que eles foram libertados do zoológico e agora estão por aí a solta. Chega a ser inimaginável pensar no zoológico sem a presença de uma das figuras, destacadas nesse texto, em função da sinergia que um complementa outro.

  




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