quinta-feira, 27 de junho de 2013

Crônica - Toda Unanimidade É Burra?




   Eric do Vale


Publicadas em situações distintas, as duas capas, postadas no Facebock, de uma revista trataram de um mesmo assunto: aborto. Enquanto uma expunha algumas mulheres, na maioria conhecidas do grande público, que passaram por essa experiência e com um titulo impactante: “Eu Fiz Aborto”, a outra edição destacava a presidenta da República, em campanha eleitoral, associada a uma frase sua em que demonstrava simpatia pela interrupção da gravidez.  

No instante em que divaguei no contexto dessas duas publicações, a voz da diretora ecoava por todo o colégio, expressando o seu descontentamento com aquelas mulheres que admitiram terem feito aborto. E em outro momento, testemunhei alguns conhecidos meus e opositores declarados da Dilma, reforçando criticas, após tomarem conhecimento desses pronunciamentos.

Mesmo que a justiça consinta na prática do aborto em ocasiões singulares, como riscos de gestação, anencefalia e estupro, grande parte da população insiste em condená-lo. Isso acontece, porque é muito fácil afirmar que a sociedade revela uma mentalidade arcaica, não estando preparada para se dar a discussões consideradas tabus, que tendem a mexer com as estruturas. Na verdade, o individuo se deixa influenciar por informações que apresentam ares terroristas, impossibilitando-o de dispor de uma amplitude para o desenvolvimento de suas convicções sobre tal assunto. 

Além de resultar em cisma da opinião pública, o aborto é apenas um tema, dentre tantos outros, que permite ao ser humano vestir- se com uma couraça puritana e, por meio de uma retórica ultraconservadora, assumir o perfil de um mero defensor dos bons costumes. As eleições presidenciais de 2010 é a cabal prova disso.

Sem se darem ao trabalho de entenderem as razões que levavam a presidenta a se posicionar favorável ao aborto, todos, com as suas sujeiras ocultadas debaixo do tapete, foram unânimes em crucificá-la. Houve ainda quem fizesse alusão aos tempos em que a, então, candidata à Presidência da República pertenceu a grupos guerrilheiros, no período do Regime Militar, levando a crer que, em plena era Pós- Guerra Fria, a real causa para não a eleger devia- se ao fato de ela se declarar comunista.  

Por mais absurdo que essas justificativas pareçam, esse moralismo mesclado de anacronismo permitiram que, mais uma vez, eu viesse a ter um contato direto com o mundo do Nelson Rodrigues.

A ideia de intitular o texto com uma das mais famosas frases do Nelson Rodrigues decorreu disso, assim que falei dele no parágrafo anterior.  A afirmação nelsonrodriguiana  sintetiza bem essa celeuma, porém resolvi utilizá-la de forma interrogativa.





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domingo, 23 de junho de 2013

Crônica - Estamos Evoluindo

      Eric do Vale



Se anunciássemos que ocorreria uma manifestação capaz de mobilizar  a população brasileira, ninguém levaria isso a sério até o momento em que um protesto contra o reajuste do preço das passagens de ônibus adquiriu maior intensidade e se propagou para outras cidades do país, servindo de estopim para que todos tivessem a iniciativa de comparecer às ruas com o intuito de reivindicarem outros direitos de cidadão.  

Além de espontâneo, o levante popular também pode ser considerado como um fenômeno isolado, porque não contou com nenhum suporte midiático e agremiação partidária, diferenciando-se de qualquer outra manifestação, no Brasil, já realizada. Esses protestos vieram a calhar, justamente, com os dias em que antecederam a dois eventos importantes para o nosso país: A Copa das Confederações e a votação do Congresso Nacional para a PEC 37.

Sem nenhuma demagogia, não há duvida de que, agora, estamos vivenciando um momento único e decisivo para a nossa história, considerando que, no próximo ano, além de sediarmos a Copa do Mundo, também serão realizadas eleições estaduais e federais, permitindo que a nossa vertente patriótica não se resuma somente em uma partida da seleção brasileira. 

Aqueles que apontam essa onda de protestos como um reflexo do atual governo, estão equivocados, porque a bandalheira que corrói o cenário político brasileiro é uma bola de neve que, com o passar do tempo, vem ganhando maiores proporções. Todo e qualquer líder político, quando eleito e empossado, tem por obrigação saber que jamais se subestima a população a quem governa e, mesmo a ludibriando, nada é perdurável. Tal erro é cometido, constantemente, por todos os governantes de qualquer parte do Brasil e do mundo.

A indignação misturada com a ânsia de melhores mudanças, estampada nos semblantes daqueles que aderiram ao protesto, transparece de tal forma, que pode ser traduzida por meio dos versos da canção É, do Gonzaguinha.

Em contrapartida, existem aqueles que afirmam que tudo isso não passa de uma ação de vândalos, visto que os veículos de comunicação dão margem aos “desordeiros”, omitindo a ação policial que não cessa em atirar balas de borracha e gases em pessoas de braços erguidos. É inevitável, nesse tipo de situação, não haver confrontos e, principalmente, presenciar pessoas que se portam de modo inadequado, vindo a denegrir o movimento. Mas nada disso desmerece o valor desse levante que vem ganhando maior credibilidade, impossibilitando os arsenais e batalhões de conterem uma população enfurecida.   

Esse ato corresponde a uma resposta do povo não apenas das elites, mas também de boa parte da sociedade desse país que padece ou se deixa contaminar pelo “Complexo de Vira Latas”.



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terça-feira, 11 de junho de 2013

Conto - Era Uma Vez No Ministério

                    Eric do Vale



A sua antipatia permitiu  que os funcionários a apelidassem de  Majestade e não era raro comentarem sobre ela, durante o intervalo:
- Aquele marido dela vai para o céu!
- Por quê?
-Você ainda pergunta? Haja saco de filó para aguentá-la! Tenho até pena dele e, digo mais, não sei o que ele viu nela.
-Nessa vida tem gosto para tudo
-Mau gosto, isso sim. Cá para nós, já pensou como deve ser, acordar, toda manhã, e deparar com aquela carranca.
- Prefiro nem imaginar.
Mas um dia, ela surgiu esbaforida, quase aos prantos, na sala onde eu trabalhava: 
- Ciro, onde está o seu chefe?_Perguntou ela para mim.
- Foi dar uma assistência, mas não demora muito. Posso ajudá-la?
-Por favor!
Era a primeira vez, em menos de três meses de serviço, que eu a ouvi pronunciar a palavra ”Por favor”. Qualquer um, naquele Ministério, ficaria de queixo caído, se estivesse no meu lugar. Quando o meu chefe chegou, ela implorou:
- Por favor, vocês podem bloquear um emaill que acabei de enviar?
- Impossível._Falou o meu chefe.
Tenho para mim que, naquele momento, ela viu a vida passar diante dos seus olhos. Caso essa história viesse à tona, certamente os jornais noticiariam: “O Ministério Desabou” e os colunistas políticos não perdoariam: “O Ministério foi à lona pouco antes de ser erguido.”.

A origem desta instituição decorreu de uma fusão com outro Ministério. Nessa época, eu trabalhava como terceirizado até ser efetivado, após aprovado no concurso. Os demais funcionários eram, na maioria, egressos de outras organizações públicas, principalmente do Ministério antigo. Era o caso da Majestade e de boa parte da cúpula. A instituição encontrava-se em funcionamento, pouco antes do Ministro ser nomeado pelo Presidente da República.

Logo que foi empossado, o Ministro recebeu um emaill da Majestade: “Como gerente dos Recursos Humanos desta instituição, é meu direito e dever informar a Vossa Excelência alguns detalhes importantes que remetem as pessoas que ocupam cargos de gerentes e diretores deste Ministério. Desde já, quero que não me interprete mal, pois sei que cada um faz da sua vida o que lhe convém, no entanto esse tipo de comportamento vem refletindo dentro desta organização. Por exemplo, o diretor do financeiro, é sabido que, há tempos, vem desviando a verba desta instituição. Coisa que ele já fazia, quando integrava o antigo Ministério. Digo isso, porque já trabalhei com ele antes e o conheço muito bem até demais. E o que dizer da gerente do financeiro? Não sei de quem foi ideia de nomeá-la para esse cargo, porque é notório que ela não tem a menor condição de exercê-lo. Várias vezes, ela tirou licença alegando problemas de saúde ,quando, na verdade, era internada em clínica de reabilitação. E sempre que compareceu ao expediente, era visível que não apresentava sinais de sobriedade. Também merece destaque, o responsável pelo jurídico, não é segredo para ninguém de suas aventuras amorosas. Tempos atrás, ele nomeou uma moça que, mais tarde, foi efetivada. Detalhe, essa moça trabalhava em uma casa de massagem. Todo mundo sabe de um caso velado que ele mantém com uma integrante de sua equipe, mas que foi abafado, após a transferência desta para outro departamento...”. E não parava por aí, ninguém que compunha o alto escalão deste Ministério ficou isento de suas denúncias.

Ao enviá-lo para o Ministro, ela se deu conta de que ao invés do emaill individual, as suas denúncias haviam sido transcritas no coletivo, utilizado para informar todos os funcionários sobre alguma eventualidade.




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sábado, 1 de junho de 2013

Conto - Acerto De Contas


Eric do Vale




"Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar."

(Chico Buarque. Futuros Amantes)





Apesar de não tê-la excluído, achou conveniente não procurá-la. Ligar pra quê? Ela não iria atender e, mesmo que atendesse, qual desculpa daria? Quando se conheceram, na aula de natação, ele estava iniciando um relacionamento que, diga-se de passagem, foi muito desgastante. Mesmo assim, ele fez questão de mantê-lo e arranjava um pretexto para aproximar-se dela, nem que fosse para bater um papinho. Fosse por medo ou bom senso, decidiu não arriscar e acabou perdendo-a de vista. Só alguns anos depois, quando já se encontrava solteiro, ao lembrar-se dela, questionou-se: “Por que eu não aproveitei? Deveria ter chutado o balde...”.

Um dia, ele recebeu em seu escritório um senhor chamado Augusto que tinha como finalidade propor-lhe um negócio. Ciente de que Augusto trabalhava na mesma empresa que ela, não titubeou:
-A propósito, conheço uma pessoa de lá, há tempos que não a vejo.
Quando disse o nome dela e a descreveu, imediatamente Augusto respondeu:
-Ela ainda trabalha conosco.
Admirado com a informação, perguntou:
-Você, por acaso, tem o telefone dela?
- É lógico!

Fornecido o número, ele anotou e, após Augusto ir embora, não perdeu tempo e ligou para ela. O dialogo foi curto, mas teve continuidade durante a semana até que um dia, pouco antes de sair para o almoço, ele, num rompante, ligou para ela convidando-a para almoçar. Aceitando o convite, os dois se encontraram num restaurante próximo de um Shopping Center. Informado de que ela estava solteira há quase um ano, constatou que agora o tempo havia se tornado o seu grande aliado, mas era preciso ter um pouco de paciência para alcançar o seu objetivo. Os telefonemas tornaram-se frequentes e eles marcaram novamente, de se verem, na hora do almoço. Passando perto do cinema, ele apontou para um filme em cartaz:
-Esse filme deve ser muito bom. Estou louco pra vê-lo.
 Prestes a convidá-la, ela disse:
-É sim, com certeza. Eu vi semana passada com aquele meu amigo.
- Amigo?_Fazendo-se de desentendido.
 -Aquele que te falei... o meu ex...
Para ele meia palavra bastava. Disfarçou a sua decepção, mista de espanto, e a conversa tomou outro direcionamento. Ao despedir-se dela, constatou: “Não tinha que ser, se naquela época não deu certo...”. Só restava-lhe ir a forra com a sua solteirice, o que não demorou muito. Noites, baladas, mulheres e em menos de um mês ele, praticamente, já havia se esquecido dela até telefonar-lhe e questionar a sua ausência. Informado de que ela havia terminado, de uma vez o seu namoro, combinaram de irem ao cinema. Findada a ligação, ele pensou: “É agora ou nunca”. No meio da sessão, segurou na sua mão, mas ela hesitou. Perto de irem embora, ela pediu-lhe um tempo, alegando que precisava colocar a cabeça no lugar. Nessas condições, ele achou coerente jogar a toalha e, mais uma vez, aproveitar a sua vida de solteiro. Passaram-se mais de dois meses, quando recebeu um torpedo: “O que aconteceu? Você está sumido!”. Desconhecendo o número e pensando que fosse algum rolo, resolveu ligar para saber quem era e ouviu a voz dela.







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