Eric do Vale
Um texto escrito por João Ubaldo Ribeiro e
publicado pela Veja, na primeira semana de agosto, inquietou-me,
porque falava sobre a conduta adotada pela população, nesse caso nós, ao
criticar as mazelas de nosso país. O título era muito sugestivo: “Nós, os
desordeiros”.
Uma semana após ler essa publicação, deparei-me com
a postagem, no Facebock, de alguém, que repudiou o comportamento
dos manifestantes aos quais invadiram o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo,
afirmando que o povo gosta de bagunça. Todos foram unânimes em apoiar o ponto
de vista dessa pessoa com comentários, soando como um quê de fascismo. Feito
esse: “Oba oba!!! Nojo!!! Falo mesmo sabendo
que já já aparece um ‘defensor! ’”.
Sem pretender fazer o papel de “defensor”, não
perdi a chance de contrapor, tendo como base a crônica redigida pelo escritor
baiano. Falei que é muito fácil usar a terceira pessoa para nos isentarmos de nossas
responsabilidades, visto que nós somos o povo. Tal justificativa possibilitou
que alguém se pronunciasse dizendo que não era o povo e salientou: “Eu lá vou
invadir hospital! Agora, esse povo, na terceira pessoa, gosta mesmo de
bagunça.”.
Alguém que faz uso desse tipo de argumento é,
geralmente, aquele que, diante da televisão, manifesta descontentamento com as
bandalheiras sociais e políticas que corroem o nosso país, exigindo uma atitude
mais enérgica de seus compatriotas junto aos governantes e quando isso
acontece, imediatamente repudia a conduta dos manifestantes, ao ponto de
denominá-los de vagabundos, desordeiros e vândalos. Tal qual aconteceu no
Hospital Sírio- Libanês.
Não há dúvida de que a atitude dos manifestantes do
Hospital Sírio-Libanês é reprovável, assim como a daqueles que
recorrem a métodos primitivos que venham a desqualificar todo e qualquer tipo
de manifestação, algo que, nos últimos tempos, vem se tornando corriqueiro,
aqui no Brasil.
Já que somos o povo, como é possível exigirmos um
avanço de nossos semelhantes, se na primeira oportunidade em que somos
informados de alguma situação caótica, habitualmente nós mesmos nos
depreciamos?
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