Eric do Vale
Naquela segunda-feira, cheguei cedo,
como de costume, ao trabalho. Acendi
as luzes da sala e percebendo que a secretária estava se dirigindo à copa
para passar o café, fui até uma padaria, próxima da firma, para comprar uns sonhos e
pães de queijo. Quando
voltei, perguntei ao vigia se o Aristides havia chegado e esse me respondeu que
não. Pedi-lhe que assim que chegasse, dissesse que fosse me procurar, pois gostaria
muito de falar com ele. Ainda não me saía da cabeça aquela fatídica
sexta-feira. Por que ela fez isso comigo?Tudo estava tão bem! Aristides chegou
e disse:
-Dalton, soube que queria falar comigo?
-Sim, senta aí. Tá servido?
-Estou sim.
Ele encheu uma xícara de café e eu perguntei:
-Quero-lhe fazer um convite para sexta-feira, você
aceita?
-Claro!
-Pois até lá a gente combina direitinho.
-Posso chamar o Zé Mário?
-Por mim, tudo bem!
Tão cedo, eu não queria compromisso sério com
ninguém até conhecê-la. Cumprimos à risca
o roteiro de todo e qualquer casal de enamorados: cinema, passeio de mãos
dadas, sorvete, praia. Cheguei até ser apresentando aos seus familiares e,
praticamente, já estava entrosado. Ainda não me caiu a ficha e acho que vai
custar para isso acontecer, pois estava tudo indo bem para terminar assim. Apesar
de ter confirmado presença, tenho pra mim que Aristides achou estranho esse meu
convite, visto que há mais de três meses trabalhando nessa empresa e eu, até
então, não participava de nenhum hour. Sexta-Feira, após o expediente, Zé
Mário, Aristides e eu fomos a um bar, onde jogamos conversa fora regada a muita
cerveja e tira-gosto. Ficou combinado, depois, que dali iríamos para uma casa de pagode. Antes
das 20 horas, Aristides resolveu pedir a conta e eu falei:
- Mas a casa ainda não abriu.
-Vamos para um lugar melhor, enquanto o samba não
começa.
-Já até imagino._ falou Zé Mário.
Fomos até um clube noturno e ficamos ali tomando
uma cerveja e observando aquelas garotas que fazem qualquer homem esquecer os problemas. Mas cheguei à
conclusão de que a minha ferida tão cedo seria cicatrizada. Rumamos para o
pagode e lá permanecemos até nos dispersarmos. Voltei para a casa e, com o
passar dos dias, mandei algumas mensagens pelo celular e ela me respondia sempre.
No meu aniversário, fui surpreendido com o seu telefonema, ali estava o
pretexto que eu tanto desejava. Decidi ir a casa dela, naquele mesmo dia.
Passei em uma floricultura e comprei um arranjo de rosas. Conversamos muito,
assim que cheguei, ela ficou feliz com as flores e combinamos de sair na
próxima semana. Quando fui embora, ela me desejou “Feliz
Aniversário”. Assistimos a um filme de comédia, no cinema, e depois jantamos em
um restaurante japonês. Porém ela me informou que, no momento, não
queria se envolver com ninguém. Numa quinta-feira, participei de um jogo de
futebol com o pessoal do trabalho, o Zé Mário veio até a mim e falou:
- Está interessado num happy hour,
amanhã?
-Com certeza. A propósito, você está sabendo
de uma festa que vai haver na casa da Beth, amanhã?
-Sim, o Aristides já falou comigo. Antes de irmos
pra lá, a gente faz uma escala.
-Combinado, então.
-Só que dessa vez, nós vamos a um lugar diferente,
melhor do que aqueles. As meninas são coisa de cinema! Um show custa 60 reais,
mas se quiser outra coisa, você tem pagar, no máximo, R$160,00.
- 160 reais? Vá roubar o caralho!
-Mas vale a pena.
No dia seguinte, nós três saímos na
companhia Juvenal, outro colega de serviço, que assim como Zé Mário e
Aristides, também era casado e pai de família. Antes de irmos, Juvenal ficou
meio tenebroso e não era para menos, já havia aprontado bastante com a esposa e
ela só lhe perdoou,
porque prometeu não mais “mijar fora do vaso”. Estávamos todos com
água na boca. Uma loirinha com o pircing no umbigo fez um carinho no meu
ombro e eu retribuí, pegando na sua bunda. Ela falou:
- Vem comigo para sala VIP. São 150...
Eu poderia aceitar, mas e depois? Adiantaria gastar
aquele dinheiro todo só para preencher aquela lacuna?Aristides deu a maior
corda:
-É essa, Dalton!
Eu me fiz de rogado e ele insistia:
-Vamos fazer o seguinte: 60 reais. Você paga
quarenta e o Zé Mário e eu damos 10.
Aristides já estava mais pra lá do que pra cá e por
isso não lhe dei ouvidos. Juvenal logo foi embora e ficamos nós três ali. Nessa
hora, surgiu outra loirinha, chamada Eduarda, tinha umas coxas
grossas, seios fartos e usava aparelho dentário. Ela sentou-se no meu colo e eu,
evidentemente, fiquei enfeitiçado. Confesso que, naquele momento, jogaria tudo
para o alto, gastando com ela até o meu último centavo, porém Aristides, mais uma vez, resolveu intervir:
- É essa! É essa! Vamos pra sala VIP com essa!
Eu e o Zé damos 15 e tu dás 40!
-Por que eu tenho de pagar 40?
-Você está usufruindo o material.
Eu me convenci, mas Aristides resolveu levar uma
garrafa de cerveja para a sala VIP e a moça avisou que não eram permitidas
bebidas alcoólicas no recinto. Aristides ficou louco:
-Da ultima vez, eu levei uma garrafa e vou entrar
nessa porra, sim! Esmurrando a mesa.
A moça resolveu procurar outro freguês. Ficamos
mais um pedacinho até irmos para a casa da Beth. Na saída, ouvi Aristides
dizer:
- Dalton seu babacão, tu é um bunda mole mesmo!
-Acho que o negócio dele é outro! Falou Zé Mário em
tom de gozação.
Chegamos ao apartamento de Beth, um hotel situado na beira-mar, e tudo estava ocorrendo
no salão de festas. Depois de um tempo, Zé Mário foi embora. Eu decidi fazer o
mesmo, perto das duas da manhã. Na recepção, deparei com uma jovem de short
curto, meia arrastão e cabeleira ruiva. Pedi informações ao recepcionista sobre
aquela garota e ele me perguntou:
-Gostaria de conhecê-la?
-Sim.
Ele saiu do balcão, falou com ela e fez um gesto
para que eu fosse até lá e nos deixou a sós. Soube que ela se chamava Ingrid e
estava ali, porque tinha acabado de atender um cliente. Também fui informado
que ela cobrava 200 reais. Ela perguntou se eu era turista e respondi que não.
-Poderia me dar o seu telefone?Perguntei eu.
-Sim.
Segurei a mão dela, pedi-lhe que desse uma volta,
ela concordou e eu dei uma tapinha na sua bunda. Falei que, certamente,
precisaria do serviço dela e fui embora. Caminhei em direção ao
carro, pensando no valor que ela cobrava. Estava abrindo a porta, quando
concluí: “Foda-se”.