Eric do Vale
“Pode
ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando.”
(Tô Voltando: Maurício Tapajós e Paulo César
Pinheiro)
Pasmas ficaram, quando o viram chegar:
– Já? – Perguntou a filha.
–
Eu fiquei gripado e o clima de lá não era tão agradável.
–
Pai, abre o jogo: sua irmã te botou pra correr.
–
Que conversa é essa?
–
É pai, ninguém te suporta.
–
Nada disso...
Visto que ele não daria o braço a torcer, a sua filha e esposa aceitaram
a sua versão, sabendo que, um dia, a verdade viria à tona.
Colocado o telefone no gancho, comunicou aos seus familiares,
marido e filhos, que o seu irmão viria, em fevereiro, para passar um mês com
eles. Seu esposo comentou:
–
Até que enfim, vou conhecer o meu cunhado!
–
É. – Dizia ela de uma maneira murcha.
Sem entender, os seus filhos questionaram:
–
Mãe, a senhora parece não estar feliz?
A expressão de descontentamento era visível em seu semblante e, com
o passar dos meses, tornou-se crescente, percebendo que o seu irmão estava
decidido a vir, não lhe restou outra saída, se não recebê-lo em sua casa. O quarto dele já estava preparado, quando ele
disse que preferia dormir na sala. Mesmo achando estranho, ninguém o
contrariou.
No terceiro dia, todo mundo estava pedindo a Deus para que fosse
embora. Ninguém mais, naquela casa,
tinha liberdade, porque ele havia monopolizado a televisão, o computador e o
telefone. Sentava-se no sofá como se estivesse em sua própria moradia, espalhava
as roupas pelos cômodos, falava alto, intrometia-se nas conversas alheias e
mastigava de boca aberta, deixando a sua irmã horrorizada:
–
Até parece que não fomos educados da mesma maneira, porque você não tem um
pingo de modos!
Pra completar, era chegado numa “branquinha”. Fosse qualquer hora
do dia, lá estava ele no boteco, próximo de casa, tomando umas e outras. Há dez
anos trabalhando para aquela família, a diarista desabafou com a sua patroa:
–
Se o seu irmão continuar, mais uns dias, aqui em casa, eu peço as minhas contas.
Sorte a dele, naquela sexta-feira, não estar presente, pois quando
a sua irmã viu o colchão onde ele dormia todo mijado, teve vontade de matá-lo. Perto
do meio dia, ele chegou encachaçado e deitou-se no sofá. A sua irmã foi
enérgica:
–
Levanta daí e trate de ir tomar um banho, agora!
Dirigiu-se, cambaleante, para o banheiro, quando a sua irmã
deu-lhe um ultimato:
–
E faça o favor de, hoje mesmo, antecipar a sua viagem!
De banho tomado, arrumou a mala e foi embora sem se despedir de
ninguém. Enquanto isso, a sua mulher e filha desfrutavam das férias que haviam
tirado dele.
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