Eric
do Vale
Ao
flagrá-lo me depreciando, tive vontade de perguntar-lhe: “O que foi que eu te
fiz? Por que esta aversão a mim?”. Que eu me lembre, ele jamais me deu um
elogio, nem mesmo quando tirava dez na escola. Chegava em casa com o boletim na
mão, louco para mostrar-lhe o meu excelente desempenho e ele nem aí. Vez ou
outra, ele me parabenizava, mas de uma forma muito seca. Preocupado, eu
perguntava:
-Não
está feliz?
-Você
não fez mais que a sua obrigação.
Também
não me recordo dele ter me dado uma bronca ou encostado a mão em mim. Caso isso
acontecesse, eu lhe seria muito grato. Quando adolescente, ascendi um cigarro na
presença dele só para chamar a atenção, mas ele nem deu importância.
Para ele só havia uma pessoa no mundo: mamãe.
Quando ela morreu, lembro dele ter dito várias vezes:
-Não
é justo! Deus poderia ter levado o meu filho, mas ela não.
Nunca
entendi a relação dos dois. Mesmo amando-a, ele fazia das suas: farreava, bebia
e arranjava uma outra. Ela ficava sabendo, pois ele nunca fez questão de ser
discreto. Mamãe nunca o recriminou e eu terminava servindo de saco de pancadas
para os seus recalques dela.
Enquanto
ele me tratava com desprezo, ela sempre me criticava, pois nada do que eu fazia
a agradava. Quando manifestei o desejo de me tornar médico, mamãe armou um tremendo
escarcéu, porque queria que eu seguisse carreira militar ou cursasse Direito e,
posteriormente, me tornasse um diplomata ou magistrado. No entanto, nenhuma dessas
profissões me agradavam e não havia ninguém que me fizesse desistir do meu
sonho, muito menos eles.
Tive
muito peito para sair de casa, mesmo ciente de que aquela atitude me custaria
muito caro. Banquei os meus estudos com o maior sacrifício até ser
recompensado. Apesar dos pesares, fiz questão de que estivessem presentes na
minha formatura, mas nenhum dos dois compareceram
Quando
mamãe faleceu, procurei reatar o contato com ele e apresentei-lhe a minha
esposa, porém a relação era a mesma. A minha ex-mulher ficava abismada com
aquilo e me perguntava como eu conseguia nutrir algum sentimento por ele. Acho
que somente Freud conseguiria explicar.
Assim
que iniciei o namoro com a minha atual esposa, decidimos, ela e eu, promover um
jantar no qual estariam presentes os pais dela e ele, é claro. Visto que todos
nós já nos conhecíamos de longa data, estávamos certos de que todos aprovariam o
nosso namoro.
A
minha, até então, namorada, chegou no meu apartamento, poucas horas antes do
jantar, dizendo que ele esteve com os pais dela e falou tudo sobre mim. A priori, pensei: “Puxa, pelo menos ele
reconheceu o meu valor! Antes tarde do que nunca”, mas quando ela me contou os
fatos concretos, não acreditei. Por que ele fez isso? Logo
ele, que sempre me ignorou e nunca abriu a boca para falar nada, de bom e nem
de ruim, a meu respeito!
Naquelas
condições, ela e eu saímos para desopilar e fomos a um bar próximo do meu
apartamento, quando o avistei conversando com um suposto amigo. Depois do que
ocorreu, era obvio que não iriamos chamá-lo para sentar-se conosco. Mesmo
assim, fiz questão de ir cumprimentá-lo e assim que me aproximei dele, ouvi a conversa
dele:
-
Recentemente, meu filho se separou da mulher, sabe por quê? Porque não tinha capacidade de administrar um
casamento. É verdade, ele nunca teve serventia para coisa nenhuma. Acho até que
ele não seja médico e é bem capaz dele ter forjado o diploma, mas se for
verdade, tenho certeza de que não seja tão competente. Sabe por quê? Porque é
um imprestável!
-Por
que o senhor não diz isso na minha frente? _ Perguntei de supetão.
Ele
quase caiu da cadeira, quando me viu. Sem dizer nada, despediu-se do amigo dele,
colocou o dinheiro da conta sobre a mesa e levantou-se. Ele estava tão
desnorteado que ao sair do restaurante, nem viu a poça de lama.
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