Eric
do Vale
Carlos
encontrava-se no último ano do curso de medicina e, dentro em breve, noivaria
de sua antiga namorada. Depois de ter passado por dois casamentos malsucedidos,
Iara, atualmente, dedicava-se exclusivamente ao trabalho de enfermeira, além de
esmerar-se na educação de seus dois filhos adolescentes. Por isso, ambos sabiam
que era preciso cortar o mal pela raiz.
Não
se sabe como e nem quando se conheceram, mas uma coisa era certa: desde o
primeiro momento, não se desgrudaram mais. Iara vivia atormentada pela solidão
e por isso, o procurava inúmeras vezes, enquanto Carlos encarava aquilo como
algo rotineiro.
Sorte,
que vivam em cidades diferentes, mas sempre que podiam, encontravam-se. Carlos,
alegando ser escalado para um plantão, ia até a casa de Iara e de lá
deslocavam-se para algum bar, cinema, praia e assim, aproveitavam os fins de
semana ou feriados até se despedirem e cada um voltar a sua rotina.
Além
dos dois, ninguém mais tinha conhecimento disso. Iara, certa vez, ouviu um
comentário de uma amiga sua:
-Iara, está na hora de você se arranjar.
-Ora,
você tem todo o direito de se dar uma chance, Iara. Daqui uns dias, os seus
filhos criam asas e você...
Quase
que ela abriu o jogo, mas conteve-se.
Carlos também passou por essa provação, quando, depois do plantão, os
seus colegas aproveitaram para irem a um barzinho e entre um gole e outro de
cerveja, Ivan falou:
-Pessoal,
tive de dar um chapéu na patroa para dizer que tenho plantão. Vocês não
imaginam como foi difícil. Graças a Deus que ela não é da polícia.
-Sei
como é. Ainda bem que a minha mulher está viajando. _ Disse Fernando.
De repente, aquela mesa de bar
converteu-se em uma espécie de confessionário misto de divã coletivo, onde
todos confidenciavam as suas aventuras amorosas. Carlos foi a exceção, não
dizendo uma só palavra sobre a sua vida amorosa, apesar de todos, ali
presentes, saberem da devoção dele pela noiva.
Carlos despediu-se e foi embora.
-Esse Carlos deve ser um otário. _ Disse
Ivan.
-Tá na cara que ele é corneado pela noiva,
o tempo todo. _Falou Fernando.
Sem dar explicação a ninguém, Carlos foi
ao encontro de Iara e a pegou no local de sempre. Antes de irem ao restaurante,
ela veio com a mesma ladainha:
-Como eu fui tola em me deixar levar por
uma paixão boba! É preciso terminarmos.
Toda vez que se encontravam, Iara batia
nessa mesma tecla dizendo que deveriam colocar um ponto final naquilo. Carlos, como sempre, concordava e ficava tudo
acertado até ela, no dia seguinte, resolver procurá-lo. Porém,
ela insistia:
-Não temos nada a ver, somos muito
diferentes.
Ele concordava, mas sabia que tudo
voltaria a mesma.
Um Dia, Carlos foi pegar Iara no mesmo
local de sempre, quando viu que ela estava acompanhada de uma mulher que,
provavelmente, tinha a mesma faixa etária que ele. Curioso, Carlos quis saber sobre um pouco
dela.
-O nome dela é Vitória e ela é noiva,
assim como você. _ Falou Iara. Como se estivesse dando-lhe uma cortada.
Carlos procurou saber um pouco mais
sobre Vitória e pegou o contato dela no Facebook. Descobriu que ela estava solteira, ao contrário
do que Iara havia lhe dito. Ele passou a
procurá-la e chegaram a sair até que um dia, Iara, por intermédio da própria
Vitória, tomou conhecimento disso.
Iara procurou Carlos e contou-lhe tudo o que
sabia e finalizou:
-Não sei onde estava com a cabeça,
quando aceitei a me relacionar com você. Há muito tempo que deveríamos ter
terminado e sempre digo isso, sempre.
Mas, agora, não tenho mais dúvida: acabou. E te digo mais uma coisa:
agradeça a Deus por eu não ter falado nada para sua noiva, pois essa é a vontade
que tenho de fazer. Por isso, desapareça da minha vida. Esqueça que eu existe,
entendeu?
Carlos foi saindo cabisbaixo por aquela
porta, ciente de que tudo havia terminado e com a certeza de que já estava mais
do que na hora de colocar um ponto final naquilo. Antes de sair, ele falou:
-Só mais uma coisa...
Aproximou-se dela, olhou-a e deu-lhe um
beijo prolongando na boca dela.