quinta-feira, 24 de março de 2016

Conto- Sem Chão

Eric do Vale



-Sabe, eu acho interessante as suas experiências de vida. Fico só ouvindo até processar tudo.
-Processar tudo?
-Coisa minha.
-Coisa sua? Agora, você atiçou a minha curiosidade.
-Curiosidade? Para com isso!
-Foi você quem começou: falou de um fato e eu narrei uma situação semelhante que vivenciei. Portanto, estamos quites. Por falar nisso, qual é a sua conclusão?
-Conclusão?
-Sim.
-Você sofreu muito.
-É verdade. Eu tinha certeza de que você iria querer saber desse último fato que te relatei, agora a pouco.
- Sabia?
-Sim, porque sempre que falo de alguma experiência que vivenciei, você diz: “Me fale mais sobre isso”.
-Você poderia desconversar.
-Poderia, mas não faço.
-Por quê?
-Por quê? 
-Por quê?
-Perguntei primeiro.



sexta-feira, 11 de março de 2016

Conto- Uma História Absurda

Eric do Vale


-Pelo jeito, você deve ter lido toda a obra do Nelson Rodrigues.
            -Como adivinhou? _ Perguntei
            -Pelo que você escreve: amores não correspondidos, falso moralismo...
             - Na verdade, não cheguei a ler tudo dele, mas sim uma boa parte.
A conversa estava bastante agradável e sabendo que ela era casada, alertei:
            -Espero que o seu marido não se incomode com o nosso diálogo.
            -Sem problema! Ele é muito tranquilo em relação a isso e não se importa que eu tenha amigos homens. Somos um casal moderno, estilo Jean-Paul Sartre e Simone de Bouvoir.
Aquilo muito me intrigou e ela prosseguiu:
-Eu, é claro, sou muito conservadora. Mas, acho que cada um tem que ter a sua individualidade, não acha?
- É interessante você comparar a sua vida conjugal com a de Sartre e Bouvoir. Não vou mentir que fiquei muito curioso em relação a isso.
-Olha aqui, a gente nem se conhece direito....
-Desculpa, não pretendia ser invasivo.
Justifiquei-me dizendo que, nos dias de hoje, todos fazem questão de se auto denominarem modernos, quando, na verdade, possuem ranços conservadores. Sobretudo, no que diz respeito a relação matrimonial. Pelo jeito, os meus argumentos não foram muito convincentes, porque ela continuou de cara amarrada. Por isso, mudei de assunto.  
Visto que não havia clima para continuarmos dialogando, despedi-me e fui embora. Horas depois, vi que ela estava on line e, novamente, me desculpei. A resposta dela foi imediata “Acho bom não nos falarmos mais.”. 

Antes que eu pudesse perguntar onde havia errado, ela já tinha me excluído e bloqueado de seus contatos. Até agora, não faço a mínima ideia do que realmente aconteceu.   

quinta-feira, 10 de março de 2016

Conto- A Bolada

Eric do Vale



- Vavá, nós somos irmãos e por isso, não deve haver segredo entre nós. Principalmente quando o assunto diz respeito a família. _ Falou Máximo.
            -Onde é que você quer chegar?
            -Antes de morrer, a nossa mãe te falou alguma coisa sobre aquele dinheiro que o velho ganhou na loteria?
            -Lá vem você de novo com essa história! 
            - Contou ou não contou?
            -Ela disse aquilo que você e eu já sabemos: o velho ganhou uma bolada, foi ao banco pegar todo o dinheiro e depois...
            -Chegou em casa bêbado esculhambando todo mundo e dizendo pra gente esquecer, porque ele não ia deixar nada para ninguém. _ Interrompendo-o.
            -Sim, foi isso.
            -Só isso?
- Qual é a tua, Máximo? Acha que eu estou escondendo o jogo? Se eu soubesse onde estava esse bendito dinheiro, já tinha passado a mão e dado no pé, há muito tempo.

...

Depois de atender o interfone, a empregada falou:
-Tem um homem chamado Ivo, lá embaixo.
-Você disse Ivo?
-Sim, esse é o nome dele.
-Mande-o subir, por favor.
Ela acatou a sua ordem e quando ouviu a campainha tocar, abriu a porta.
-Entre, por favor. _ Disse a empregada.
Ele fez o que ela pediu e ficou olhando os cômodos daquele apartamento. Ivo devia ter, aproximadamente, uns sessenta anos e quando a empregada perguntar-lhe se queria beber alguma coisa, ele respondeu.
-Não, obrigado.   
Ao deparar-se com aquela pessoa, Ivo não se conteve:
-Então, é verdade?
- Deixe-nos a sós, por favor. Por hoje, você está dispensada. _ Falando para a empregada.
Depois que ela saiu, Ivo continuou:
-Você me deve explicações.
-Nada disso, quem me deve explicações é o senhor. Quem foi que te deu o meu endereço?
-O Jurandir. Sabia que esse homem que você colocou para trabalhar na sua loja é um ex-presidiário?  Sabe o que foi que ele fez? Cumpriu pena, por dez anos. Você sabia disso? O Jurandir é um criminoso.
            -Não fale assim do meu irmão.
-Não sei qual dos dois é pior: você ou ele?
- O senhor não é melhor do que ninguém e sabe de uma coisa? Não imagina o grande favor que me fez, quando me colocou para fora de casa. Se o Jurandir tivesse tido a chance de se afastar do senhor...
- Você fala assim como se eu fosse o culpado dele ter feito o que fez.
-E não é verdade?  Desde que ele nasceu, o senhor o tratou a socos e a pontapés, como fazia comigo e com a mamãe, que Deus a tenha! Ela aguentou tudo do senhor até o dia em que o flagrou agarrando, a força, a sobrinha dela. Quantos anos tinha a menina?   Uns quinze, dezesseis, por aí. Era sabido que o senhor vivia de chamego com outras menininhas, mas com a sobrinha dela! Aquilo foi o estopim para mamãe dar fim na própria vida, tomando veneno de rato. Mas, para todos os efeitos, ela morreu do coração.
-Infarto fulminante.                   
- Depois, o senhor se casou com a Isaura e o tratamento com ela não foi muito diferente. Tenho absoluta certeza de que a “educação” que os seus outros dois filhos receberam foi a mesma que o senhor deu para o Jurandir e para mim. Apesar de ter tido pouco contato com eles, já conheço a fama desses dois.  Por mais que intimide os outros, o senhor nunca passou de um fraco. Pensa que eu me esqueci daquele dinheiro que o senhor ganhou na loteria?  Alguma vez, o senhor teve coragem de contar essa história para alguém, seu Ivo? Eu me lembro como se fosse hoje: a Isaura passou a sua melhor camisa e o senhor saiu de casa para pegar a bolada. Ao sair do banco, foi para a zona com aquela dinheirama toda. Depois, chegou em casa, bêbado, com a mão na frente e a outra atrás, pedindo para que o Jurandir e eu não contarmos nada para ninguém.
-Foi um desprazer ter te reencontrado.

-O desprazer foi todo meu. Como te disse: o senhor me fez um grande favor, quando me colocou para fora de casa. E agora, quero que me faça um outro favor: esqueça, de uma vez por todas, que eu existo. 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Conto A Última Bolacha Do Pacote

Eric do Vale




- Rico, eu?
-Sim.
-Por quê?
-Porque acham que você não quer contato com eles.
-Quem disse isso?
-Eles.
-Eles quem?
Silêncio absoluto.
-Eles quem? _ Insisti.
-O... A...
-Quem mais?
Ele mencionou todos os nomes e então, eu disse:
-Só podiam ser!
-Disseram que você só quer ser da parte de cima da prateleira.
Não é de hoje que escuto esse papo. Só Deus sabe o quanto eu tenho feito, das tripas ao coração, para conquistar o meu espaço.
- De onde eles tiraram essa ideia? _ Perguntei.
-Você nunca foi visitá-los.
É possível que haja, entre nós, uma certa incompatibilidade, mas acredito que isso não me torne melhor do que ninguém. De uma coisa tenho certeza: várias vezes, tentei me aproximar deles, mas não sei o que houve Quanto mais eu me aproximava, eles se distanciavam. Sem falar que a grande maioria tem por hábito confundir as estações: dá a mão, querem o braço.

terça-feira, 8 de março de 2016

Conto- A Anti Cinderela

Eric do Vale

  
Cecília estava certa de que aquelas rosas que haviam lhe sido entregues, naquela manhã, só podia ser de um único remetente: João Silvério. Tal convicção foi confirmada, no momento em que ela abriu o cartão que veio junto com as flores. Lisonjeada, Cecília telefonou-lhe para agradecer.
-Espero que tenha gostado. _ Falou João Silvério.
-Você, sempre muito romântico. Esse é o terceiro buquê que eu recebo, só nessa semana.
- Quer dizer que eu tenho um concorrente?
-Que nada.
-Você gostaria de vir aqui em casa, hoje à noite?
Diante daquela proposta, Cecília não teve como recusar.
Antes de serem colegas de faculdade, eles já se conheciam nos tempos de colégio. Depois que se formaram, nunca mais se viram. O reencontro dos dois aconteceu meio que por acaso, quando o carro dele bateu no dela.
Ao tirar satisfação com ele, Cecília o reconheceu imediatamente. Após os cumprimentos, João Silvério a convidou para almoçar e Cecília, obviamente, aceitou.  Cada um falou de si: João Silvério juiz e, há pouco tempo, tinha sido nomeado desembargador. Cecília jamais advogou, embora tivesse se formado e passado na OAB. Quanto a vida sentimental, João Silvério dizia-se um celibatário.
-Eu fui casada duas vezes. _ Disse Cecília. - Atualmente, estou separada.  
-Se não me falha a memória, você foi casada com o Artur, nosso colega de faculdade.
-Exato.  Fomos casados por cinco anos. Depois, casei-me novamente, mas não fui muito feliz nesse segundo casamento.
Depois de comerem, cada um pegou o contato do outro e João Silvério combinou de se falarem, à noite e finalizou:
-Vou acertar com você o concerto do carro. Faço questão de pagar.
Ele cumpriu com o que prometeu.
As ligações tornaram-se frequentes, assim como as saídas para os bares e restaurantes. João Silvério fazia questão de apanhá-la e deixá-la na casa dela. 
Cecília não pensou duas vezes em ir jantar na casa de João Silvério: foi ao salão, fez as unhas e o cabelo. Usando o seu melhor vestido, ela o esperou na portaria do prédio e quando avistou a estrela do Mercedes -Bens chegando, ficou de guarda. Ele foi busca-la no portão e a conduziu até o seu carro.
Ao entrarem naquele luxuoso apartamento com vista para o mar, João Silvério falou:
-Rita, chegamos.
-Rita?
-É a minha esposa.
Cecília não entendeu nada e Rita apareceu.
-Querida, você se lembra da Cecília? _ Perguntou João Silvério.
-Vagamente.
-Veja como são as coisas: eu bati o meu carro no dela e ela, logo, me reconheceu.
-João Silvério, você havia me dito que não era casado. _ Falou Cecília.
-Eu menti.
-Por quê?
- Aquela batida foi proposital. Lembra-se dos tempos de escola? Se naquela época, eu tivesse morrido, não faria diferença para você. Está lembrada de que quando éramos universitários? Eu, nesse período, trabalhava como taxista e sempre que te oferecia uma carona, você se recusava de tal maneira, preferindo os carrões daqueles filhinhos de papai. Dentre os quais, aquele que foi o seu primeiro marido. Esse, por sinal não passava de um falso rico. Depois, você se casou com um vigarista, viciado em jogo que foi capaz de apostar o apartamento, onde vocês moravam. Pensa que eu não fiquei sabendo disso? A Rita, minha esposa, era filha de uma faxineira do colégio e estudou com muito sacrifício até ser aprovada em medicina. Ela, na época de escola, sempre foi apaixonada por mim, mas eu, até então, não sabia. Éramos universitários, quando começamos a namorar. E agora, estamos aqui.  Engraçado, não é? 

Conto- Febre De Juventude

                                        


Eric do Vale                                            



            Estava assistindo, no Youtube, o encerramento da programação da Globo, do dia 14 de outubro de 1991, em que o locutor, em off, dizia: “Faremos, agora, uma pequena pausa em nossa programação. Apenas, um tempo necessário para você despertar para um novo dia, uma nova vida! Logo, estaremos juntos, novamente, apresentando...”. E então, ele ia dizendo, na sequência, a programação daquele dia. Fiquei inerte, ao mencionar o filme a ser exibido na Sessão da Tarde: Febre De Juventude.
Imagine um atleta que, por uma fração de segundos, deixou de conquistar um torneio. Foi assim que eu me senti, quando vi a foto dela vestida de noiva. A primeira coisa que me veio na cabeça foi: “Poderia ter sido eu.”. Sim, era eu que, naquele momento, deveria estar com ela, na igreja. E constatei que deveria ter tentado mais um pouco, talvez.
Eu havia apostado todas minhas fichas nela, quando veio com a conversa de que estava voltando para o antigo namorado. Não demorou um mês para vir me procurar e dizendo que continuava solteira.
            Sem perder tempo, fui direto ao ponto e ela, sem dar uma resposta definitiva, falou que precisava pensar. Mudei a minha estratégia, mas tinha certeza de que não daria em nada. Como eu estava enganado! Aquilo me fez constatar que nessa vida a gente não tem certeza de nada, a não ser que, um dia, todos nós vamos morrer.
            As coisas estavam andando de vento em poupa, quando ela veio com a história de que havia conversado com o analista dela e que precisava pensar. Receoso de tomar uma decisão precipitada, achei melhor ficar na minha. Contudo, tivemos algumas sessões Flash Back até que, até um dia, ela disse que pensou muito e chegou à conclusão de que era melhor colocar um ponto final naquilo tudo. Eu concordei e quando nos despedimos... outra recaída.
            Não nos vimos mais, depois disso. Eu, porém, não tinha dado o braço a torcer e continuava telefonando-lhe e indo até o local de trabalho dela. Um belo dia, recebi um e-mail dela e o li com o sorriso até as orelhas: “Não é de hoje que você vem me procurando. Como sabe, eu trabalho bastante e por isso, não posso te dar a devida atenção. Além do mais, estou namorando.”.
Aquela última frase simbolizou um nocaute duplo. Sem saber o que responder, deletei aquela mensagem. Não a procurei mais, todavia resolvi pagar pra ver, acompanhando os passos dela, pelo Facebook
            O computador estava ligado, no momento em que eu assistia Febre De Juventude. Paralelamente, acessei o Faceboock e a primeira coisa que vi foram as fotos do casamento dela. Como eu gostaria que aquilo fosse um sonho, mas era a realidade.
            Ao ouvir o nome Febre de Juventude, me veio em mente a canção tema daquele filme, She Loves You. Informado sobre o casamento dela, eu não parava de cantarolar o refrão daquela música: “She loves, you yah, yha, yah!”.
            Gostaria de esquecer tudo aquilo: o filme, a música e ela. Principalmente, aquele fatídico dia. Depois que ouviu esse meu desabafo, uma amiga minha disse:
            - Veja o lado bom da coisa, Mário: olhe as coisas boas que você colheu, depois de tudo isso que você passou.
            Um mês depois de ter me dito isso, Laura e eu começamos a namorar. Resultado: estamos casados, há quase cinco anos.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Conto- Em Um Banco De Praça

Eric do Vale

Murilo saiu do quarto com o celular na mão dizendo:
-Nunca, em toda a minha vida, escutei coisas tão absurdas!
- O que foi? _ Perguntou Clara, a esposa dele.
- Nada, só um trote.  
Sentou-se na cabeceira e continuou jantando. Depois desse telefonema, Murilo não mencionou nenhuma palavra a mais.
Após o jantar, tomou banho, arrumou-se e sem que a esposa percebesse, saiu pela porta dos fundos, levando consigo o seu revólver calibre 38.Ele foi visto, pelos moradores, andando pelas ruas da vizinhança até sentar-se em um banco da praça que ficava perto do prédio, onde residia.
Era uma mulher, de aproximadamente vinte e poucos anos, de cabelos castanhos que usava um vestido preto curto. Tal descrição foi feita por uma senhora que morava no prédio situado em frente ao banco da praça, onde Murilo encontrava-se sentado na companhia dessa mulher.
-Pelo que pude perceber, eles estavam conversando. _ Disse a moradora do prédio. – Parecia ser uma conversa longa, pois ficaram mais de uma hora lá.
-A senhora estava observando os dois? _ Perguntou o policial.
-De jeito nenhum. Eu estava aqui, nesta janela _ Mostrando para o policial. - Fumando e por isso, pude ver os dois sentados. Provavelmente, estavam conversando.  Depois, saí para assistir à novela e quando voltei para fumar outro cigarro, percebi que eles continuavam ali. _ Apontando para o banco.
-A senhora, por um acaso, já tinha visto essa mulher por essas redondezas?
-Nunca.
-E depois, o que a senhora fez?
-Eu fui dormir.
A perícia apreendeu o celular do Murilo, mas não encontraram nenhum indicio, porque todas as ligações haviam sido apagadas pelo próprio réu.
O Porteiro, durante o depoimento, viu o momento em que aquela mulher foi embora:
-Ela levantou-se e entrou no carro que estava estacionado e foi embora.
-O senhor, por um acaso, lembra-se da cor do veículo? _ Perguntou o policial.
-Sim, era vermelho. Mas, não anotei a placa. Como eu poderia imaginar?
Murilo, de acordo com o porteiro, continuou sentado no banco por um longo período.
Alguém que passava por ali, estanhou dele permanecer sentado sem se mexer e ao chegar mais perto, reparou que havia muito sangue no lado esquerdo do peito de Murilo, devido a uma bala de revólver que havia se alojado no coração dele.


domingo, 6 de março de 2016

Conto- Beco Sem Saída

Eric do Vale



          - Já leu aquele livro, Mentes Perigosas? Lembro-me de que, uma vez, eu tinha recomendado para você ler e agora, mais do que nunca, reforço a dica. Vai por mim: essa mulher é uma psicopata, Mesquita.
Mesquita pensou muito s naquele conselho e chegou à conclusão de que a melhor coisa a ser feita era cortar o mal pela raiz.
Antes de dormir, lembrou-se do último dialogo que teve com Lucrécia:
- Eu sou realista e quando gosto, é pra valer. _ Disse Lucrécia.
-O que está havendo com você?
-Só saudade.
-Desculpa, se estou sendo rude.
-É melhor você me excluir.  
-Excluir?
-Do telefone, face, do raio que o parta! Será melhor para mim. Assim, não poderei te ver mais. Sumir, evaporar!
Era a terceira vez que Lucrécia vinha com aquele papo e Mesquita, não suportando mais, desabafou:
-Que palhaçada é essa?
-Não gostei do tom.
-Foi você quem começou. Isso me faz lembrar a semana passada, quando não te dei a atenção e deu no que deu.
Naquele dia, Mesquita falou para a Lucrécia que ela estava com a razão de terminar tudo e finalizou:
-Sabe, eu tenho uma namorada e logo mais, noivaremos.
-Agora, você diz que tem uma namorada? Bem que a Matilde me avisou! Você não passa de um calhorda, salafrário!  Ficou me iludindo, dizendo coisinhas românticas, o que pensa que eu sou?
-Não estou pensando nada disso e também, não te prometi nada.  
-Não prometeu? Espere e verá.
Naquele mesmo dia, Mesquita recebeu, pelo celular, uma mensagem dela dizendo seguinte: “O que significa isso?”. Logo em baixo, havia uma conversa dos dois que ela havia printado. Ele quase teve um enfarte, quando leu detalhadamente, aquela conversa antiga e pensou: “É melhor eu sumir da vida dessa mulher, senão ela vai acabar comigo.”.
Era uma hora da manhã, quando o telefone tocou. Vendo que era ela, Mesquita desligou. Na hora do almoço, ela enviou-lhe uma mensagem dizendo: “Desculpe pela, não fui eu quem te mandei aquilo...”. Antes que pudesse deletar, o telefone dele tocou. Era ela. Mesquita atendeu e depois de ouvir tudo o que ela tinha lhe falado, pensou: “O que é que eu faço?”.
Não demorou uma semana para tudo aquilo se repetir. Ao procurar Plácido, seu velho amigo, que, sem muitos rodeios, deu-lhe este conselho:
- Sai fora, meu camarada.
Antes de bloqueá-la de tudo, Mesquita dirigiu-se até a sala do gestor e disse:
-Gostaria de ser transferido.
-Para onde?
-Para o lugar mais longe daqui.
O chefe mostrou-lhe o mapa do brasil e disse:
-Nós estamos aqui. _ Apontando. - Você tem duas opções: Amazonas ou o Rio Grande do Sul, faça a sua escolha.
Naquelas condições, qualquer lugar era valido.




sábado, 5 de março de 2016

Conto- Venha A Nós

Eric do Vale

                

              -Oi, Fausto, tudo bem?
            -Sim, tudo bem. E a patroa?
            - Ela está bem, chegou em casa, agora.
            -Era exatamente sobre ela que eu queria te falar. Veja você que, há vários dias, venho tentando falar com essa minha prima, mas não obtive nenhuma resposta dela. Cheguei a pensar que eu tivesse feito alguma coisa que a tivesse deixado magoada.
-Fica frio, Fausto. Dificilmente, ela usa estas redes sociais. Além disso, são coisas da família Guedes. Você entende?
-Não, não entendo. Quer me explicar, por favor?
Silêncio absoluto. É claro que eu sabia o que ele estava querendo dizer, mas me fiz de desentendido. Sei que nas minhas veias correm o sangue dos Guedes, mas hei de convir com o Cristiano: essa família é osso duro de roer!
O Cristiano me contou que, certa vez, ele e a esposa foram de visitar o Adamastor, um parente nosso, e quando chegaram à casa dele, cadê? Ficaram até meia noite esperando por ele, mas nada do Adamastor chegar. Dias depois, foram informados de que ele tinha viajado.
Eu não entendo a minha prima:  ela nunca portou-se dessa maneira comigo, sempre que manifestava interesse de vir passar as férias, aqui em casa. A última vez que isso aconteceu, a minha prima era solteira e, sem me avisar, trouxe a amiga dela que por sinal, preenchia todos os requisitos de uma visita indesejável. Deus foi testemunha de que eu fiz de tudo para ser tolerante com essa. No entanto, a única solução que encontrei foi mostrar-lhe, de uma forma não muito cortes, a porta da rua.
Aquele comentário do Cristiano foi o estopim para que eu a procurasse a fim de mandar-lhe esta mensagem: “Olá! Não sei se você percebeu, mas venho, há dias, tentando falar com você. Posso até entender que seja uma pessoa ocupada, porque eu também tenho os meus afazeres. Todavia, existe uma coisa chamada educação e tenho certeza de que você não saiba o que seja isso. O que mais me impressionou é que eu falei isso para o seu marido e sabe qual foi a justificativa dele? Ele disse que isso era coisa da família Guedes. Considero a resposta dele uma desculpa esfarrapada. E se você não sabe, eu também faço parte da família Guedes, mas, em momento algum, fui capaz de ser desatencioso com os meus familiares.”.
Horas depois, o marido dela telefonou-me dizendo:
-Gostei da mensagem que você enviou para a minha esposa. 
A princípio, pensei que ele estivesse ironizando ele continuou:
-Você tem toda razão, Fausto. Inclusive, eu puxei a orelha dela.





Conto- Via-Crúcis

                                                            
                                                                                            Eric do Vale

1

Como foi que ele me encontrou? O miserável ainda teve a cara de pau de enviar-me esta mensagem: “Você é quem estou pensando? Se for, tudo bem?”. Ele fala assim, como se nada tivesse acontecido. É muito sínico! Pode passar milhões de anos, mas eu jamais vou esquecer o que esse maluco me fez. Não entendo como é que uma pessoa dessa fica á solta.  Era para ele estar na cadeia, no hospício ou então, morto. Sim, morto, porque seria um canalha a menos na terra.
O que é que eu faço? Chamo a polícia? Mas, ele não me fez nenhuma ameaça, por enquanto. Caso faça, darei parte dele. Aliás, vou falar com o meu marido e contar-lhe tudo o que aconteceu. Será que ele sabe onde eu moro? Pensando bem, já está mais do que na hora de me mudar daqui. Vou para o interior, São Paulo e se for preciso, viverei em outro país só para que esse “fantasma” não saiba da minha existência.
Eu deixei bem claro para ele, quando aconteceu aquilo, que ficasse distante de mim e que me esquecesse, deixando-me em paz. Respondo a mensagem desse patife ou deleto? Para mim, ele nunca existiu. Melhor dizendo: esse sujeito deixou de existir, a partir do momento em que fez aquilo comigo. 
...
Finalmente, eu a encontrei. Qualquer um, no meu lugar, não devia procurá-la, depois de tudo o que aconteceu. Já se passaram tanto tempo e apesar de tudo, gostaria de pensar que ela encarasse aquilo como um arrombo da juventude. Sim, foi isso.
Uma vez, dei de cara com ela que virou o rosto para mim e saiu da calçada, onde eu estava. Em uma outra ocasião, fui ajudar uma conhecida minha a carregar as compras até a casa dela e lá chegando, encontrei logo quem? Ela, assim que me viu, levantou-se e despediu-se da anfitriã de uma forma não muito cortes.
-Espere aí, o que foi que houve? _ Perguntou a dona da casa.
-Eu vou embora, não quero ficar aqui.
-Aconteceu alguma coisa?
-Pergunte a ele. _E foi embora.
A dona da casa, sem entender, me pediu uma explicação e eu, obviamente, contei-lhe tudo. Minto, nem tudo. Qualquer um, na minha situação, teria vergonha de falar detalhadamente sobre o ocorrido.  
Eu fiz o que fiz e terminei pagando por isso. Mesmo que ela tenha todos os motivos para não querer me ver nem pintado de ouro, não há, no meu entender, cabimento para ter tanta magoa no coração.
2

                        -Esqueça que eu existo, entendeu?
                        -Desculpa, eu me descontrolei.
                        -Descontrolou? Nem o meu pai jamais bateu na minha cara.
                        -Realmente, eu fui injusto.
                        -Me deixe em paz! Suma da minha frente, senão quiser deixar as coisas piores do que já estão.

            Não demorou muito para que todos tomassem conhecimento desse fato e, sumariamente, ele fosse crucificado.  Principalmente, pela ala feminina.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Conto- A Sósia

Eric do Vale

            Sempre que a minha mãe se refere a atual novela das seis, Êita Mundo Bom, mencionando o nome Cunegundes, personagem da Elizabeth Savala, com aquele carregado sotaque caipira utilizado por boa parte do elenco, tenho uma imensa vontade de rir.
            Só Deus sabe o quanto me esforço para não ter uma crise de riso, no momento em que vejo a Elizabeth Savala em cena.  Pudera, as performances dela são hilárias! No entanto, a minha vontade incontrolável de rir não se limita apenas nisso: quando estudava na sexta série, tinha uma moça na minha classe cuja aparência física era idêntica à dessa atriz.
            Naquela época, estava passando a novela Quatro Por Quatro, razão pela qual rendeu-lhe o apelido de Auxiliadora. Quando foi ao ar Quem É Você?, a turma foi implacável: a nossa colega, naquele momento, era, o tempo todo, chamada de Maria Luiza.
            Lembro-me que para essa minha colega de sala nunca havia tempo ruim, pois estava sempre de bem com a vida e com o sorriso até as orelhas. Por falar nisso, ela e eu, tínhamos, naquela época, alguns bate bocas, coisas de pré-adolescente. Por isso, quando vejo a Elizabeth Savala em alguma cena desse tipo, não me contenho e caio no riso.
            Eu adorava, por exemplo, vê-la naquela novela, Amor A Vida, dizendo: “Conserve os dentes!”. Aliás, essa atriz criou vários bordões que além de inesquecíveis, caíram no gosto popular como: “Oh vida tirana!” e “Ai, como sofro!”.
            Dia desses, encontrei essa minha ex-colega de classe, nestas redes sociais, e pelo que pude perceber, ela não mudou nada fisicamente. Logo, fico imaginando, nos dias de hoje, qual personagem o pessoal a chamaria?  

Conto- Faz Parte...

Eric do Vale

Quem diria que ali, na faculdade de jornalismo, iriamos, pela segunda vez, nos reencontrar?  Fazia uma semana que eu estava estudando naquele colégio, quando, na hora da saída, ela me abordou. Embora estivesse dois anos adiantada do que eu, tivemos, no colégio anterior, uma convivência diária, em razão do regime de semi-internato pelo qual ela e eu fazíamos parte.
 E se não estou enganado, o contato que, naquela época, tivemos além de ter sido muito restrito, era bastante conturbado: brigávamos por tudo, o tempo todo. Prefiro acreditar que a nossa incompatibilidade de gênios tenha sido fruto da fase pela qual estávamos atravessando, naquele momento. No entanto, reconheço que houve situações em que tivemos sim uma relação amistosa.
Até hoje, eu não me esqueço quando, na hora do almoço, a coordenadora lembrou a todos nós do dia das mães, data a ser comemorada dentro de dois dias.  Assim que terminei de almoçar, fui escovar os dentes e encontrei essa minha colega sentada na escada chorando. 
Pensei em ir até ela para consolá-la, mesmo sem saber o motivo.  No entanto, desisti da ideia e depois, fiquei sabendo o porquê daquilo: ela, naquele momento, lembrou-se da mãe dela que, um ano atrás, havia morrido. 
Depois desse dia, procurei ser mais tolerante com ela e assim, o nosso contato tornou-se mais harmonioso do que outrora até deixar o semi-internato e perdê-la de vista. Passei a vê-la com mais frequência nesse novo colégio, porém os nossos diálogos resumia-se apenas a um “Bom dia”. Algo não muito diferente, quando nos reencontramos na faculdade de jornalismo. Sendo que, dessa vez, tornou-se muito raro trocarmos um “Olá”. 

quinta-feira, 3 de março de 2016

Contos- Melhor Assim

           
Eric do Vale

        Comecei a deletar uma por uma, quando me deparei com a mensagem do João Henrique: “Sempre tive muita estima pela pessoa que você é, Rubens. As brincadeiras, nos tempos de colégio, não passavam de meras molecagens.  Nunca te considerei um idiota, mas se você faz tanta questão disso...”.  
            Durante um ano, fomos colegas de sala e não havia um dia sequer em que ele não me pegasse para Cristo. Estando calado ou não, para o João Henrique não fazia diferença. Na concepção dele, eu era sempre motivo de escarnio.
 Quando não estava atirando bolinhas de papel, durante a aula, chamava-me de bichinha ou outro termo similar. O mais surpreendente disso tudo era que o infeliz liderava aquela massa. Feito aquele personagem do Sérgio Telles, eu me lembrava daqueles prisioneiros dos campos de concentração dos filmes de guerra e me perguntava até quando suportaria tudo aquilo.
A conclusão do meu terceiro ano pode ser resumida em uma única palavra: alivio. Contudo, dois anos depois, o João Henrique veio me procurar, na minha casa. Apesar de muito tenebroso, baixei a guarda e o fiz entrar. Conversamos um bocado e ele me disse que admirava muito a minha obstinação. Não vou negar que, depois que o João Henrique foi embora, eu continuei cabreiro. Até hoje, não entendi aquela vinda inesperada dele na minha casa.
            Algumas vezes, chagamos a nos encontrar de forma meio esporádica e ele não perdia a oportunidade de soltar uma piadinha sobre mim. Logo, conclui que não haveria a menor possibilidade de termos algum vínculo.
Em um desses encontros casuais, o João Henrique pediu o meu Facebook e apesar de ficar com o pé atrás, não havia como negar-lhe. Mal sabia eu que aceitando a amizade dele, no Facebook, estaria assinando a minha sentença. Minto, sabia sim. Entretanto, apelei para o meu bom censo, dando-lhe um voto de confiança na eminência dele ter amadurecido. Ah se arrependimento matasse!
            As piadinhas de outrora voltaram com mais força e qualquer coisa que eu postasse, lá vinha ele com os seus escárnios sobre mim. Por que aquilo? Conclui que a melhor coisa a fazer era excluí-lo e bloqueá-lo. Todavia, eu não poderia passar o tempo todo me escondendo e então, enviei-lhe esta mensagem: “Como é possível solicitar a “amizade” de alguém com quem você não simpatiza nem um pouco? Nos tempos de escola, eu só ouvi da sua boca palavras rudes a meu respeito e tudo o que eu fizesse, era motivo para você me ridicularizar na frente dos outros. E pelo jeito, as coisas, para você, continuam iguais. O que você pretende?”.
            Disse-lhe tudo o que, há muitos anos, estava entalado e finalizei: “A partir de hoje, esteja certo de que esta será a última vez que te dirijo a palavra.”.  Ele não deixou barato e também disse tudo o que pensava sobre mim, mas eu não dei a menor importância para as palavras dele.
            Agora, quase dois anos depois disso ter acontecido, deparei-me com essa mensagem. Li quantas vezes achei necessário até deletá-la.  Depois de desbloqueá-lo, enviei-lhe uma solicitação de amizade e não tardou muito para o João Henrique se manifestar teclando o seguinte: “Depois de tudo o que me falou, você tem acara de pau de me mandar uma solicitação de amizade! Faça o seguinte: leia a mensagem que você escreveu para mim.”.  Não tive dúvidas: melhor deixar as coisas como estão. 

Contos- Outros Tempos

Eric do Vale

Era uma tarde de sexta-feira e não me lembro bem como foi que tudo começou, mas nunca esqueci do que você disse:
- O Hector diz as coisas na lata.  Ontem mesmo...
De repente, você se calou e eu perguntei:
-O que foi que eu fiz, ontem?
-Deixa pra lá.
Não dei o braço a torcer e horas depois, te procurei dizendo:
-Sabe, fiquei muito curioso com o que você comentou, horas atrás. Quer dizer que eu falo tudo na lata? Por favor, me diga o que foi que aconteceu, ontem.
-A Sabrina, fresca do jeito que ela é, não quis te dar a mão, quando você a cumprimentou. Logo, a sua reação foi responder o seguinte: “Fique despreocupada, porque eu não tenho doença contagiosa.”. Se tivesse um buraco, ela teria enfiado a cara dela lá.
-E isso foi bom ou ruim?
-Eu, pessoalmente, gostei. Aliás, acho isso uma grande virtude.
-Por quê?
-Porque você, pelo menos, não finge ser o que é. Você, Hector, não é hipócrita. Mas, nem sempre devemos ser cem por cento verdadeiros.  Na maioria das vezes, ninguém gosta de escutar as verdades.
Desde que comecei a trabalhar naquela agência de publicidade, fui tratado como um intruso e tudo por causa da Leda. O Mike, por influência dela, me procurou e sem muitas delongas e disparou:
-Hector, você deve saber onde é o seu lugar, aqui na agência.
- Eu sei.
-Não, você não sabe.  Desde que começou a trabalhar aqui, você vem portando-se de uma maneira não muito apropriada para os padrões dessa firma, emitindo opiniões nas peças publicitárias.
-Sim, esse é o meu trabalho e pelo que fiquei sabendo, o Daryl gostou da minha iniciativa.
-É verdade, ele gostou muito. Porém, a Leda não ficou nada feliz com isso.
-Pelo que eu saiba, o Daryl é o dono dessa agência, portanto é ele quem dá a última palavra.
- Engano seu. Aqui, é a Leda quem dá as cartas.  Só para você ter ideia: o Daryl já teve dois sócios que foram afastados da agência, em virtude da perseguição direta dela. Um deles, inclusive, sofreu um AVC, por causa dessa perseguição. É assim que ela joga e quando se aborrece, joga pesado.
  Passaram-se alguns meses e o Mike veio até a minha mesa dizendo:
- Eu te disse: “Hector, faça o seu trabalho.”.  Você tinha que interferir na peça publicitária da Suzy!
-O que é que está havendo?
-O que está havendo? A Suzy fez a sua caveira para a Leda e o pior é que as duas são unha e carne. 
O mais surpreendente é que foi a própria Suzy quem pediu a minha ajuda e assim, eu fiz. Se não tomasse nenhuma iniciativa, seria tachado de preguiçoso. Confesso que, naquele momento, quase me deixei levar pela emoção e por pouco, não pedi as contas. Hoje, penso que seria a melhor coisa que eu deveria ter feito.   
A Leda apresentou uma campanha publicitária para os festejos de fim de ano e em seguida, falou:
- Estou aberta a sugestões e digo mais: a opinião de vocês é de suma importância para mim.
Depois que analisei tudo com calma, fiz as minhas considerações mostrando-lhe os pontos positivos e negativos daquela peça. Ela disse que gostou muito das minhas colocações e o Daryl, mais uma vez, estava de acordo com o que eu havia falado.
Encontrei o Mike no sanitário, que me falou:
-Eu te disse que quando a Leda se aborrece, termina jogando pesado. Esteja certo de que ela, de agora em diante, não vai te deixar em paz. 
Dito e feito: a partir daquele dia, ninguém, daquela agência, aprovou as minhas peças, além de não me chamarem para trabalhar em nenhuma campanha.
O Mike finalizou:
-Tudo aquilo que você disse, durante a reunião, mexeu com o brio dela. A verdade, muitas vezes, é dolorosa, por isso ninguém gosta de ouvi-la. Sobretudo, a Leda que tem um temperamento difícil e como se nada disso bastasse, ela não vai muito com sua cara, Hector.
Aquelas palavras fizeram-me recordar de tudo aquilo que você havia me dito, há sete anos atrás.