domingo, 26 de junho de 2016

Crônica- Odisseia De Um Escritor

Eric do Vale



Escrever é muito bom, embora seja algo trabalhoso. Essa foi a afirmação que utilizei em uma crônica, escrita há tempos atrás, para classificar o oficio da escrita e agora, faço questão de reafirmar reforçando o seguinte: escrever é dificultoso, mas organizar um livro é duas, três e até quatro vezes mais complicado do que se possa imaginar.
 Falo isso por experiência própria: quando comecei a organizar os meus textos em um único arquivo, verifiquei que possuía dois livros prontos, um de contos e outro de poesias. O próximo passo, foi enviá-los a uma editora e assim o fiz.
Para minha surpresa, duas editoras manifestaram interesse em publicar dois livros deste aspirante a literato e, até então, desconhecido de todos. Enquanto lutava pelo meu espaço no mercado editorial, queriam eles, a todo custo, realizar a minha vontade. Era a fome associada a vontade de devorar o prato. Mas, no final das contas, nenhuma parte chegou a um acordo.
Paralelamente, comecei a escrever de forma corriqueira e já possuía material de sobra para publicar mais de um livro. Novamente, enviei todo o conteúdo para as editoras e a história repetiu-se: nenhuma das partes chegou a um consenso. Pudera, o mercado editorial no Brasil é algo penoso, sobretudo para alguém desprovido de algum apadrinhamento, como eu.
Acredito que foi melhor assim, dispus-me de tempo suficiente para trabalhar na produção textual até que eu pudesse certificar-me de que tudo estava definitivamente pronto.
Volta e meia, alterava o conteúdo dos meus livros: incluía um texto aqui; excluía outro ali e, quando necessário, recolocava-o em seu devido lugar. Quantas vezes fiz isso? Não sei. Mas lembro-me perfeitamente da última vez que isso aconteceu: era uma sexta-feira e, de repente, lá estava eu, de frente para o computador, repetindo o mesmo ritual.
Agradeci e, até hoje, agradeço a Deus por não ter assinado contrato com nenhuma editora. Por um segundo, visualizem Tim Maia e o João Gilberto, incorporados em uma só pessoa, somando com as manias de Roberto Carlos. Esse era eu. Este trabalho, no entanto, trouxe-me um resultado positivo: nove livros prontos, seis de contos e três de poesias. Cabe-me, agora, enviar esse material para uma editora.
Obviamente, não enviarei todo o conteúdo de uma vez só. Por isso, selecionei meus três primeiros livros, dois de contos e um de poesias. E me pergunto: como irão os editores atuar, quando analisarem todo esse material? Fico aqui imaginando as posturas deles, quando, no devido tempo, lhes contar que tenho outros tantos livros prontos paras serem editados. E se eu relatasse a eles a minha odisseia?


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Conto- Miragem II

Eric do Vale


Bem que ela poderia se chamar Stella, pois eu me basearia na letra daquela canção para questionar-lhe: “Em que estrela você se escondeu? Em que sonho você vai voltar?”. Não há um dia, na minha vida, que eu deixe de pensar nela. Volta e meia, vejo as fotos dela e me pergunto: “Será que tornaremos a nos ver?”.
Por falar nisso, perguntei, outro dia, para uma colega do meu trabalho sobre o Charles e essa comentou:
-Provavelmente, morreu e nós nem tenhamos sido convidados aos enterro e a missa de sétimo dia dele.  
É claro que essa minha colega disse aquilo em tom de brincadeira, mas fazia sentido:  ultimamente, ele vinha faltando o trabalho com bastante frequência até pedir demissão. Sabíamos, por alto, que Charles estava passando por um processo de separação.  Várias vezes, telefonei-lhe e até enviei mensagens pelas redes sociais, mas ele nunca me retornou.
Ela também está seguindo o mesmo caminho do Charles: falo “oi”, sempre que a vejo on line, porém não sou correspondido. Tenho plena convicção de que morta ela não está, por isso continuo tentando. Só não sei até quando. 

domingo, 19 de junho de 2016

Crônica- A Caminho Do Final Feliz (O Otimismo Está Em Alta)

Eric do Vale


No fundo, somos todos otimistas e incluo também aqueles que se auto denominam ultra pessimistas. Apesar de termos consciência da aspereza que avida apresenta, todos possuem um quê de romantismo.
Cheguei a essa conclusão, digamos que, por experiências pessoais e por isso, eu, muitas vezes, me questiono se sou um realista romântico ou um romântico realista? Querem saber? Não sou um caso isolado. 
Sempre que nos encontramos em alguma situação vulnerável, o que fazemos? Pensamos: “Vai passar”. Então, alimentamos a esperança de que, um dia, lembraremos disso as gargalhadas, porque sabemos perfeitamente de que tudo a vida é passageiro. E além disso, não há mal que perdure por muito tempo.
Tenho certeza de que muitos pesam assim e ai daquele que diga o contrário, pois é o pior dos mentirosos. Bem no fundo de nossa alma, estamos sempre pensando em um final feliz, típico aqueles que estamos acostumados a assistir na televisão, com as telenovelas ou os filmes.
Depois de assistirmos ao último capítulo de uma novela ou o desfecho de um determinado filme com direito a final feliz, voltamos a nossa realidade. Porém, temos a plena convicção de que superaremos os nossos empecilhos.
Os dilemas que, diariamente, vivenciamos difere, e muito, dos filmes e das telenovelas, é obvio. Estamos diante da realidade, onde as lágrimas são verdadeiras. Assim como o nosso semblante de alegria que fazemos questão de demonstrar, quando superamos as nossas dificuldades.    

Conto- Miragem

(Para Ler Ouvindo Até Parece Que Foi Sonho)

Eric do Vale

 O tempo todo, acompanhei o refrão desta música: “Até parece que foi sonho meu”. Dizia essa frase sem parar, a medida que eu ia cantado. A primeira vez que eu a conheci, estava escutando justamente essa canção e muito me impressionou um trecho que dizia o seguinte: “Tenho medo de acordar e despertar”. 
De repente, apressamos o passo até ficarmos juntos, de vez. Quando me dei conta de que tinha conseguido atingir a minha meta, pensei: “Eu só posso estar sonhando!”. Agora, estou eu aqui escutando essa mesma canção sem entender direito o que realmente aconteceu.
Comparo-me a alguém que, durante um trajeto, levou uma queda do bonde, da charrete ou algo parecido e fica desnorteado. Assim, estou me sentindo, quando penso nela.
Há uma frase, na primeira estrofe da canção, que muito me impressiona: “Por que você foi embora?”. Como eu gostaria de fazer essa pergunta a ela!  Não entendo, juro que não consigo compreender como foi que tudo isso aconteceu! Se eu pudesse vê-la, novamente... Por que você foi embora?  
Digo para mim mesmo: “Até parece que foi sonho” e repito essa frase, duas ou três vezes, até cantarolá-la. E depois, termino me questionando se, realmente, tudo não passou de um sonho.



Poesia- Presença

Eric do Vale


Faço das palavras do Rei
E do seu amigo de fé
As minhas:
“Se chorei ou se sorri,
O importante é que
Emoções eu vivi”.

E vivo todas estas
Emoções e agora,
Mais do que nunca,
Continuo vivendo
Tendo você na
Minha companhia.   

sábado, 18 de junho de 2016

Conto- Um Cadáver A Serviço Dos Abutres

                                            Para Mário de Andrade

Eric do Vale

Não faço ideia de quem começou a falar dele, naquele momento. Então, alguém, que também não me lembro, disse:
-Cá pra nós, ele... _ Fazendo um gesto como se quisesse dizer que esse nosso amigo fosse homossexual. 
Aquilo rendeu muito pano para a manga e não me refiro somente aquele dia. Sempre que falávamos nele, terminávamos falando sobre a orientação sexual dele. Eu, particularmente, nunca desconfiei de nada, mas, depois, percebi que aquela insinuação fazia sentido: nunca casou e jamais foi visto acompanhado de uma mulher!
Minto, lembro-me que, algumas vezes, ele chegou a ser visto na companhia de belas mulheres. E expus esse fato ao pessoal, durante essa nossa conversa.
-Isso não quer dizer nada. _ Disse um dos presentes.
Então, foi aceita atese de que ele fosse bissexual.    
Esse assunto veio à tona de tal maneira, que eu, intimamente, me perguntava: “Pra que isso?”. Por que especular uma coisa dessa de alguém que está morto, há mais de duas décadas?  

Crônica- Dar Um “Jeitinho”, Fora De Cogitação

Eric do Vale


Devido aos últimos acontecimentos que vêm escandalizando o cenário político nacional, nutro-me de esperanças de que, um dia, afirmaremos que foi-se o tempo em que o nosso país aplicava a “Lei Do Gerson”. A corrupção, juntamente com a crise, tornou-se, nos dias atuais, um termo bastante corriqueiro em nosso vocabulário, permitindo questionarmos os nossos valores.
Além de ter se tornado algo muito clichê, falar, hoje em dia, de corrupção, no Brasil, é algo de extrema complexidade e que requer um aprofundado estudo na área da psicologia, sociologia e antropologia, originando inúmeras teses sem uma definição absoluta. 
Desde muito cedo, somos acostumamos com o fato de que descendemos dos portugueses, não esquecendo que foram eles, os responsáveis pela formação do nosso caráter, ao aderirem um processo de colonização de exploração, que consistia na subtração de nossas riquezas naturais e no trabalho escravo que foi aplicado aos nativos e, posteriormente, aos africanos. 
Tudo isso é verdade, mas gostaria de acrescentar um outro detalhe que considero importante: por mais que tenhamos consciência de que somos humanos e estamos sujeitos a cometer todos e quaisquer tipos de erro, o nosso orgulho termina falando mais alto. 
Um exemplo: durante a fase estudantil, somos todos avaliados por meio de uma prova. Com receio de se sentirem inferiorizados, alguns recorrem a boa e velha “cola”. São atitudes como essa, que muito contribuem para a formação de um indivíduo, fazendo jus a ideia de que os brasileiros gostam de levar vantagem em tudo.
Ainda bem que existem aqueles que fogem a essa regra e, cada vez mais, servem de exemplo para todos nós de que a determinação e o comportamento ético são os alicerces essenciais para atingir os objetivos desejados.   


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Crônica- Um Recado Aos Pessimistas

Eric do Vale


Gostaria de iniciar esta crônica fazendo das palavras do Legião Urbana as minhas: “Voltamos a viver como há dez anos atrás”. Não digo exatamente dez anos, mas, quem sabe, quinze, vinte, vinte e cinco, vinte e três, trinta anos... por aí. 
Inflação somado a recessão, desemprego e déficit orçamentário é igual a crise. Palavra essa que, na contemporaneidade, faz parte do vocabulário de todos nós, brasileiros.
O passado e o presente não se distinguem, no momento em que um novo ano surge sequelado pelos problemas resultantes de uma, possível, má administração pública, que culminou na bancarrota do país.
Como se estivesse caminhando em um labirinto ou, quem sabe, em uma caverna escura, o povo, sem perspectivas e repleto de incertezas, se pergunta: “Até quando?”. Quanto mais somos informados do indicie de desemprego e inflação, maior torna-se o nosso desespero.
E aqui, no presente momento, estamos todos nós remando contra a maré de tudo isso que chamam de “crise”. Pergunto para aqueles que hão de me chamar de alienado: que crise é essa?
Volto ao passado, na proporção que me situo no contexto vigente e vejo surgir uma espécie luz no fim do túnel, ao me recordar das crises anteriores. Levando-me a crer que, nessa vida, nada é eterno.

     

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Conto- Pela Última Vez

Eric do Vale


 Monique quase enfartou, quando deparou-se com Sérgio dentro da dela.
-Eu fugi. _ Disse Sérgio.
-Percebe-se. Como foi que você entrou aqui?
- Não se preocupe, ninguém me viu.
-O que você quer?
-Me despedir de você.
Visto que Sérgio já tinha várias passagens pela polícia, Monique sabia que não demoraria muito para ele fugir e vir procurá-la. Por isso, questionou-se, quando esteve diante dele: “Eu sabia! Por que não fui embora daqui, antes? Era o que eu já devia ter feito! ”.
-Eu não vou, e nem pretendo, te fazer mal. _ Disse Sérgio, ao sentar-se.
-Bebe alguma coisa?
-Preciso de algo forte. Prometo que serei breve.
Monique levantou-se e serviu-lhe um conhaque.  
Monique pediu para que Sérgio se sentasse e não tirou os olhos da coronha do revólver que ele trazia na cintura.  Logo, lembrou-se da última conversa que tiveram, quando Sérgio, ameaçando-a de morte, apontou-lhe uma arma e a cobriu de sovas.
-Eu lamento profundamente, Monique. Você não merecia! _ Disse Sérgio
-Por favor, seja breve!
Monique procurava demonstrar coragem, mas terminou transparecendo o medo que sentia dele e Sérgio falou:
- Eu tive uma infância paupérrima:  órfão de pai e mãe, passei fome e sofri muito. Logo, percebi que com um golpe de sorte poderia ter tudo o que quisesse, sem fazer esforço, apenas com um golpe de sorte. Eu não sou esse canalha como todo mundo imagina.
-Mas, para subir na vida você é capaz de pisar no pescoço de todo mundo, inclusive do seu melhor amigo e da mulher que te ama. 
Sérgio terminou de beber o resto do conhaque e ficou em silêncio, por um longo tempo.  
-Eu estou muito cansada e o nosso tempo esgotou. _ Falou Monique olhando para o relógio. - Desejo a você uma boa viagem.
Ao vê-lo caminhando em direção a porta, Monique aproximou-se dele, abriu a bolsa, tirou umas notas de dinheiro e disse:
-Não precisa agradecer, Sérgio
Antes de sair, Sérgio falou:
-Você é uma grande mulher e eu te perdi, porque fui muito burro.
Aquelas últimas palavras dele foram as únicas que ela acreditou. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Poesia- Eclipse

Eric do Vale


Feito o sol e a lua,
Durante um eclipse,
Cá estamos nós.
Após tantos desencontros,
Terminamos nos encontrando.
Então, o que estamos esperando?  


quinta-feira, 9 de junho de 2016

Conto- O Cair Das Máscaras

Eric do Vale


-Deus, melhor do que ninguém, é testemunha de todo o esforço que fiz para que nada disso acontecesse Se, agora, você está assim, imagine como eu fiquei, quando tomei conhecimento de que aquela pessoa que sempre tive como referencial fosse capaz das piores adversidades! Aquele poço de virtudes não passava de uma imagem milimetricamente fabricada, para cativar quem quer que fosse. Na verdade, aquela honradez toda escondia o pior caráter que um ser humano podia ter. Quando lhe disse que sabia de tudo, aquela figura desmanchou-se na minha frente de tal maneira, que tudo veio à tona Pensa que é fácil te dizer tudo isso?  Por mim, você jamais ficaria sabendo disso tudo e sabe por quê? Para te poupar de tudo isso que está passando, agora. Espero que me entenda. 


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Conto- Diagnóstico

Eric do Vale


Embriaga-se, dá vexame e, sempre que possível, arruma uma briga, seja na rua ou em casa. Acionada a polícia, o argumento é o mesmo: “Foi a cachaça”. Quando não bebe, arruma confusão do mesmo jeito. Depois que sofre uma agressão, alega padecer de problemas psicológicos na iminência de que alguém compadeça-se de você.
Não muito diferente, é quando encontra-se ameaçado de ser levado a justiça. Logo, apresenta-se um atestado comprovando a sua “insanidade mental”. Todavia, sabe-se perfeitamente que o “problema” em si não tem nada a ver com a bebida e, tão pouco, com esse “distúrbio psicológico”.
Tudo isso pode ser definido em uma simples palavra: recalque.  Com receio de admitir a sua impotência, encouraça-se nessa revolta toda, refugiando-se na bebida ou querendo brigar com alguém.
Você procura manifestar toda essa  fúria que sente a fim de demonstrar a sua hegemonia sobre todos que te rodeiam. No entanto, sabe melhor do que ninguém que tudo isso é efêmero, pois os seus problemas não cessaram e vão continuar, caso não pretenda solucioná-los.  

Crônica- Venha Para A Rua E Diga “Não...”

Eric do Vale



A onda de violência somada a crise política que estamos vivendo, a situação econômica e as desigualdades sociais tornam cada vez mais crescente o sentimento de indignação que toma conta de todos nós.
Minutos atrás, escutei uma música que traduz perfeitamente a situação que estamos vivenciando. Aqueles que possuem mais de trinta anos de idade estão, certamente, lembrados dos Heróis Da Resistência. Só Pro Meu Prazer, Dublê De Corpo e Esse Outro Mundo foram algumas das cações que compunham o repertório desse conjunto de rock liderado por Leoni, egresso do Kid Abelha, e que fez jus ao nome, permanecendo, se não me engano, três anos no cenário musical.  
É claro que eu não poderia me esquecer de mencionar Diga Não, música que fez sucesso no começo da década de 1990 e a qual escutei, minutos atrás, inspirando-me a redigir este texto.  O baixo distorcido completado por uma guitarra dão um ar de rock progressivo. Logo em seguida, a inesquecível voz de Leoni começa: “Diga não...”.
Depois que ouvi essa canção, correu-me a ideia de criar um movimento. Melhor dizendo: um levante no qual contasse com a presença de todos, sem exceção. Considerando que, de uns tempos para cá, tornou-se corriqueiro a população ir ás ruas para protestar por algo, nada melhor do que externarmos, pacificamente, os nossos descontentamentos.
Por isso, aproveito a ocasião para me dirigir a todos os meus patrícios e fazer este comunicado: se você está incomodado com alguma coisa, venha para as ruas e sem nenhum receio de ser feliz “Diga não...”.  Desde já, está feito o convite para a marcha do “Diga Não...”.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Poesia- 15 Anos (Dois Mundos)

Eric do Vale



Aparentemente, você e eu
Caminhávamos em sentidos
Totalmente diferentes.

Enquanto eu pensava
Que de tudo já sabia,
Você já sabia de tudo.

Mal eu sabia o que
Era o mundo, você melhor
O conhecia carregando-o
Sobre os seus ombros.



Conto- Fim De Papo (Assunto Encerrado)

Eric do Vale


-Precisamos conversar.
            -Por quê?
-Não quer conversar?
-Pra quê?
-O que foi que deu em você?
-O que foi que deu em mim? Eu é que te pergunto: o que foi que deu em você?
-Por que está me tratando assim?
-Assim como?
-Desse jeito.
-Esse é o meu jeito.
Não é. Esse não é o seu jeito.
-Como pode dizer isso?
-Pela forma como você está me tratando. 
- Só estou fazendo aquilo que eu já deveria ter feito, antes. 
-Ter feito o quê?
-O que já devia ter feito, antes.
-E o que é que você já devia ter feito, antes.
-Isso que estou fazendo com você: te evitando.
-Posso saber por quê?
- Quantas vezes me dirigi até a você afim de estabelecer algum dialogo? Se eu estivesse morto, você nem sentiria falta. Perdi a conta das vezes que desperdicei o meu tempo desejando-te um “olá” ou algo parecido.  

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Artigo- Cuspindo Para Cima

Eric do Vale


As postagens, em uma rede social, feitas por uma amiga minha sobre o momento político ao qual todos nós estamos vivenciando permitiram com que eu fizesse uma analogia do povo brasileiro com aqueles que crucificaram Jesus Cristo.
Aqueles que foram as ruas para manifestar o seu descontentamento com o antigo governo sequer sabiam direito o que estava se passando, dentro daquele contexto. Quem não se lembra daquela adolescente de dezessete anos que ao ser perguntada por um repórter sobre a razão dela estar participar daquela manifestação, utilizou frases desconexas como: “Eu sou o futuro... Eu sou da Direita e governo está muito ruim...”? Essas pessoas que se declararam opositoras a antiga gestão são as mesmas que, tempos atrás, clamavam por melhorias no aspecto social, político e econômico.
Bastou a ex-presidente cometer deslizes para que a “população brasileira”, influenciadas pelos meios de comunicação, a hostilizasse de tal maneira, que se esqueceram de que foi essa mesma mulher quem concedeu plenos poderes para que a Policia Federal investigasse sem sofrer intervenção de ninguém e o resultado está aí... A Polícia Federal nunca trabalhou tanto, como vem fazendo atualmente.
Essas mesmas pessoas que pediram a crucificação da Dilma Rousseff são na grande maioria, aquelas que se beneficiaram com os projetos sociais estabelecidos, durante a gestão do Partido dos Trabalhadores. 
Muito mais do que um golpe, a retirada de Dilma Rousseff da presidência da República equipara-se aquela passagem bíblica, onde Pôncio Pilatos perguntou a população o que era mais conveniente: soltar Barrabás ou condenar Jesus de Nazaré?  Foi assim que os “representantes do povo” agiram, ao darem o seu veredito. 

Conto- O Passar Do Tempo

Eric do Vale


Próximo de terminar o expediente, ele veio até a sala, onde eu trabalhava, para conversar com uma colega minha. O excelente astral que reinava naquele recinto permitiu com que eu tomasse a liberdade de chamá-lo de Jarbas Passarinho, em razão dele ter o mesmo nome do ex-governador e senador do Pará. 
-Grande político, meu ídolo! _ Disse ele.
-Você é paraense? _ Perguntei.
-Não, sou cearense. Por quê?
- A admiração que você manifestou por esse homem, permitiu com que eu pensasse que fosse paraense.
-Que nada, sou cearense.
- Por que você o admira? Sabia que ele apoiou o golpe militar?
-Por isso mesmo.
Antes que eu pudesse contestá-lo, ele falou:
-Se eu fosse político, não sobraria bandido nenhum, nesse país, para contar história: fuzilaria tudinho.
Até então, eu jamais tinha trocado uma palavra com ele, além do trivial.
Algumas vezes, pensei em chamá-lo de Jarbas Passarinho, mas evitei, porque tinha receio dele não gostar. Jamais poderia imaginar que aquele seria o único contato que teríamos, visto que ele seria demitido, sete dias depois.
Assim que fui informado da morte do Jarbas Passarinho, esse fato, ocorrido, há cinco meses atrás, tomou conta do meu inconsciente de tal maneira, que fiquei tão espantado e pensei: “Como o tempo voa!”.


sábado, 4 de junho de 2016

Conto- Balzaquianas/ Cinema Noir

Eric do Vale


I

Naquela sexta-feira, após o expediente, fui até um barzinho, onde tomei umas cervejas com os meus colegas. Depois, entrei no meu carro e vaguei por aí decidido a, tão cedo, não voltar para a casa. A minha rotina consistia no seguinte: da casa para o trabalho; do trabalho para a casa. Por isso, resolvi modificar todo o meu roteiro.  
Estacionei em frente a um clube noturno e lá entrei.   Pelo que pude notar, aquele espaço era frequentado por gente com mais de trinta anos de idade. O repertorio musical era repleto de músicas dos anos 70 e 80.  Sentei-me e pedi ao garçom que me servisse uma cerveja.
Na pista havia uma mulher de vestido preto e cabelos castanhos, quem era ela? Provavelmente, devia ter uns 37,38, por aí. Quando o garçom me serviu, pedi-lhe uma caneta emprestada e escrevi no guardanapo algo do tipo “Quero te conhecer”.
-Está vendo aquela mulher de preto? _ Perguntei ao garçom.
-Sim.
-Entregue este bilhete a ela, por favor.
Vi quando ele entregou-lhe o bilhete e, em seguida, disse alguma coisa para ele. Pensei: “Nessa eu dancei”. O garçom aproximou-se de mim e falou:
-Ela pediu para que o senhor fosse até ela.
Fui até lá e começamos a dançar. Depois nos sentamos e bebemos um pouco. Ela se chamava Glória, era funcionária pública e, há pouco tempo, tinha se separado do marido.  
-Qual é o seu nome? _ Perguntou Glória.
-Danilo.
É claro que aquele não era meu nome e também não era professor universitário coisa nenhuma, conforme eu tinha dito para ela.

II

Depois daquela noite, passei a frequentar aquele espaço com maior assiduidade, alternando os dias e as semanas. César, Otávio, Carlos, Miguel, esses eram alguns dos nomes que eu utilizava para apresentar-me a elas, sem esquecer das minhas “ocupações”: corretor de imóveis, escriturário, advogado, engenheiro, agrônomo, policial...
Tenho um caderno com os números de todas ela: Fátima, Stela, Olívia, Graça... Não sou muito religioso, mas tenho que levantar as mãos para o céu, pois, até então, nenhuma delas jamais desconfiou de nada.

III

Glória não diferia nem um pouco das demais mulheres que frequentavam aquele espaço. A maioria delas padeciam de frustrações amorosas.
Fico me imaginando deitado em um divã e o(a) analista querendo saber sobre mim:
-Toma algum medicamento?
-Não.
-Já usou drogas?
-Nunca
Que outas ele, ou ela, faria? Qual seria o meu diagnostico?  Não fiz aquilo tudo por dinheiro, mas, pelo menos, eu tenho certeza de que suprimi as carências de todas elas.


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Conto- Labirinto Do Tempo

Eric do Vale


Ela me perguntou:
-Posso ver o seu caderno?
Deixei-me dominar pela emoção e troquei os pés pelas mãos.
Várias vezes, tentei explicar-lhe, porém ela não se convenceu. Pudera, aquela minha atitude não era motivo para ter feito o que fiz.
Por mais que eu, ou quem quer que fosse, me perguntasse o motivo de tê-la agredido, jamais encontrei resposta para justificar a praticidade daquele ato.   
Aquela cena, muitos anos depois repetiu-se, mas, dessa vez, não era comigo.
-Muito bonito esse seu caderno. _ Disse a moça para o rapaz que sentava-se ao meu lado.
Só eu sei o quanto desejei que aquilo tivesse sido comigo.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Poesia- Imprevisões

Eric do Vale


Quem diria
Que em um campo
Tão seco e deserto
Uma rosa brotaria
E dela, um belo jardim
Se multiplicaria?

Se tão difícil
É prever o futuro,
Mais difícil ainda
Imaginar que do nada
É que floresceu o tudo.



Conto- Telefone Sem Fio

Eric do Vale



Aquela notícia caiu como uma bomba. Justo ele, que, no meio artístico, sempre portou-se de uma forma muito prudente e, acima de tudo, tinha, há mais de vinte anos, um sólido casamento.  Em casa, só se falava nisso:
-Como você soube disso, Geralda? _ Perguntou a minha avó para a minha tia.
-O Vladimir foi quem me disse.
E o meu avô comentou:
-O Zé Carlos também me falou disso, agorinha.
- Ele foi no programa do Jô Soares e contou tudo: há dez anos que a esposa o traia. _ Disse a minha tia.
 -Virgem santíssima! _ Exclamou a minha avô.
A minha tia continuou:
- Ele contratou um detetive, que seguiu os passos dela. Dizem que ele chorava, à medida que ia relatando tudo até o Jô Soares ficou comovido.  
Depois de emagrecer vinte quilos para fazer uma peça, especulou-se que ele estava muito mal de saúde, surgindo um boato de que havia contraído Aids da esposa. Logo, ele foi ao programa do Jô Soares e desmentiu tudo.



quarta-feira, 1 de junho de 2016

Conto- Acima De Todos (Carta A Um Soberano)

Eric do Vale


Cada vez mais, compadeço-me, quando te vejo em um situação vulnerável e então, me convenço de que, nessas horas, você, certamente, deve lembra-se de que é tão humano quanto o seu semelhante.
Sei que não é uma má pessoa, mas devo admitir que repudio bastante esta sua soberba somado a esse seu autoritarismo. Perdi a conta das vezes que você me censurou e em virtude disso, procurei me afastar para não perder a razão e terminar cometendo alguma insanidade.
Não muito diferente de mim, são todos aqueles que te rodeiam Durante um jantar, alguém falou sobre um determinado assunto e você censurou essa pessoa de tal maneira, que ninguém mais balbuciou nenhuma palavra.
No momento em que você destratou aquela pessoa, tive o desejo de, num ímpeto, levantar-me e ir embora de lá, mas eu me contive. Só não tomei tal atitude, porque fiquei com receio de deixar aquele clima mais desagradável.

Não foram poucas as vezes que te encontrei enfrentando situações árduas e mesmo assim, jamais te dei as costas.  Francamente, não faço a mínima ideia de qual seja a sua finalidade tratando todo mundo dessa maneira, mas te digo uma coisa: o mundo gira. Pense nisso