segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Conto- Um Peixe Fora D´Água

Eric do Vale


Relutei em passar uns dias na casa da minha colega e questionei:
 -E as provas?
- Estuda depois. _ Respondeu a minha colega.         
-Depois? Elas vão começar na próxima semana.
- João, você precisa se divertir um pouco. As meninas estarão lá.
                        - Nenhuma delas estão aí pra mim e você me disse que a Tamires me acha um chato.
                        -Sim, eu falei. Mas deixa pra lá.
                        -Deixar para lá?
- Ora, João, desencana! Seja mais descolado, cara!
Ela terminou me convencendo e eu procurei seguir os conselhos dela. No entanto, os efeitos foram colaterais: quanto mais tentava me enturmar, mais o pessoal se afastava de mim.
Antes de dormir, lembrei-me de um trecho daquela canção, O Caderno, que diz: “Sofrer nas provas bimestrais” e constatei: “Deveria ter ficado em casa”.
Senti alguém me sacudindo, era a minha colega com uma cara emburrada dizendo:
-Está na hora de acordar, são nove horas.
Tomei um banho frio convicto que jamais deveria aceitado aquele convite.
Quando fui tomar café, percebi que o astral naquela casa não estava muito bom. Depois de ser repreendida pelos pais, essa minha colega, certificando-se de que não havia ninguém por perto, falou asperamente para mim:
- Eu te disse...
Ela tinha que descontar em alguém. Então me questionei: “Por que é que eu não fiquei em casa?”.





terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Conto- Só O Tempo

Eric do Vale


“É estranho como é triste
É estranho como olhar pra trás
É estranho como é estranho
Esquecer um nome.”
 (Extraño: Thedy Correa)


Alheia a tudo, ela continua brincando, correndo e sorrindo sem fazer ideia do que está acontecendo em sua volta; enquanto todos que a cercam procuram uma forma de se adequarem aquela realidade.
É pouco provável que ela, naquele momento, saiba o que realmente esteja se passando. Naquelas circunstancias, qualquer um preferiria ter a idade dela só para não encarar aqueles últimos acontecimentos.
Qual ser humano, em sã consciência, chegaria para ela, uma criança de três anos de idade, e diria o que tinha acabado de acontecer com a mãe dela? Ninguém. Mesmo utilizando-se de palavras amenas, nenhum indivíduo teria o direito ou coragem de fazer isso.
Seria muito bom, se todos fizessem de conta que nada daquilo aconteceu; mas, infelizmente, as coisas não funcionam desse jeito. Assim como os demais, ela não consegue entender direito tudo aquilo e, talvez, seja muito provável que custe a compreender. Como é possível tentar entender algo que não tem explicação? 

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domingo, 18 de dezembro de 2016

Conto- Bem Que Eu Avisei

Eric do Vale


Fiquei sem chão, quando recebi, pelo telefone, aquela notícia
-Falta de aviso não foi_ Disse o meu colega do outro lado da linha. 
Por mais que eu alertasse, sabia que estava gastando o meu vocabulário à toa.
-Não faça isso, porque você vai acabar se dando muito mal.
Ao tomar conhecimento do desfecho daquela história, pensei: “Eu sabia! Eu sabia!”.
 Todo mundo estava ciente de como aquilo iria terminar. Minto, nem todo mundo.
Assim que desliguei o telefone, lembrei-me do derradeiro dialogo que tivemos:
-Existem outras maneiras de contornar essa situação. _ Eu disse.
-Eu me garanto. 
Pergunto: e agora?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Conto- Lembranças

Eric do Vale



O solo do piano somado com o da bateria davam a deixa para cantar aquela canção: “Every single day i think of the times when you still mine and i´m blue”. Assim que acordei, comecei a cantá-la. Eu tinha uns nove anos, quando a ouvi pela primeira vez, em um comercial de televisão.
As luzes já haviam sido apagadas e o motorista sintonizou o rádio em um volume baixo para não acordar os passageiros, quando tocou essa música. Era a primeira vez que eu a escutava na integra. Naquela época, eu não entendia nada de inglês, mas percebia que aquela canção apresentava uma certa melancolia e um quê de nostalgia.
Quando estava cursando o terceiro ano, costumeiramente eu voltava para a casa de carona com os pais do meu colega de classe. Legião Urbana, U2 e Nazareth faziam parte da fita K7 que, com frequência, era tocada no rádio daquela Quantum azul metálica.
Sempre que tocava Love Hearts, eu me lembrava da minha mãe dizendo que, quando jovem, tinha horror ao Nazareth, especialmente a essa música. Além de recordar daquela viagem de ônibus e do comercial da televisão, Where Are You Now possibilitava-se sentir saudades de algo ou de alguém que eu não sabia direito do que era.
  Naquela manhã, quando acordei e comecei a cantarolar aquela música, correu-me a ideia de escutá-la analisando a letra dela. Na primeira estrofe, o autor dizia estar triste por se lembrar de alguém, provavelmente um antigo amor, todos os dias e que sabia que era preciso esquecê-la. 
O comercial da televisão, a viagem de ônibus e a carona que eu costumava pegar com os pais do meu colega de classe, vieram à tona, naquele momento. Além disso, lembrei-me de outras pessoas, de outros acontecimentos que possibilitaram com que a emoção tomasse conta de mim. 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Poesia- Tempo

O tempo,
Sempre o tempo!
Quanto tempo!
Quanto tempo?
E como tudo
Só depende dele,
Deixemos a cargo do tempo.


sábado, 10 de dezembro de 2016

Poesia- Atrapalhados

Eric do Vale


Atrapalhados somos todos nós,
Você e eu, que sempre nos atrapalhamos
Sem nos atrapalharmos
Parra demonstrar
O quanto nos amamos.

Poesia- Sorte Minha

Eric do Vale


Ah se os homens soubessem!
Felizes seriam todos eles
Na alegria de ter uma mulher
Como você!
Sortudo sou eu
De ter você ao meu lado!

Conto- Marca Registrada

Eric do Vale


Não conversamos mais do que cinco minutos e ao nos despedirmos, esse meu conhecido meu falou:
-Da próxima vez...
-Arrume alguém que saiba argumentar. _ Interrompi.
Caímos na risada.
Apesar de fazerem mais de dez anos que não nos víamos, eu tinha certeza de que ele iria dizer aquilo.
Quando estudante secundarista, havia, na minha classe, um cara de temperamento forte e que não admitia ser contestado por ninguém. Quis o destino que, uma vez, viéssemos a nos confrontar.
Não me lembro ao certo sobre o que estávamos conversando e por mais que eu tentasse ser político, esse rapaz alterava a voz.  Vendo aquilo, um colega meu saiu em minha defesa e partiu para cima dele.
A pancadaria instaurou-se naquela sala de aula, sobrando até para o pobre do professor. Todos os envolvidos naquela confusão, inclusive eu, foram punidos com um dia de suspensão.
-Apesar de eu estar te punindo, o meu conceito com você continua o mesmo. _ Disse o coordenador para mim. – Só te dou um conselho: da próxima vez, arrume alguém que saiba argumentar.
A história da briga perdurou por um dado momento, assim como esse conselho que o coordenador me deu.  Os mais próximos, sempre que me viam, falavam:
-Da próxima vez, arrume alguém que saiba argumentar.
E assim tem sido, desde então, 



Bruxa A Solta

Eric do Vale


O desejo de tirar umas merecidas férias decorria de, naquele momento, encontrar-me na metade do curso ao qual vinha me dedicando com afinco, desde o início das aulas. A medida em que eu ia estudando, emergia o desejo de que aquele semestre chegasse ao fim o mais breve possível.
 No finalzinho da tarde, daquela quarta-feira, pensei: “Falta apenas uma semana para as provas começarem!”. De repente, o meu celular começou a apitar aquele som de recebimentos de mensagens, muito conhecido pelo Watzzap. 
O grupo da nossa classe não parava de interagir e pelo que verifiquei, na primeira mensagem, dizia o seguinte: “Fiquei sabendo de que, agora há pouco, aconteceu um acidente na BR ... E que três pessoas morreram Parece que são estudantes da nossa faculdade...”.
Ao ler aquilo, pensei: “Queira Deus que não seja verdade.”. Mas, infelizmente, a informação procedia, conforme um professor nosso veio nos informar, minutos depois. As aulas foram suspensas e as provas adiadas.
Nos dois dias em que não fui a faculdade, uma coisa martelou na minha cabeça, por um longo período: “Que ano!”. Crises, tragédias, gente boa indo embora... Esse semestre então...
Listei uma porção de coisas que caracterizam aquele fatídico ano e pensei: “Basta! Esse ano já deu o que tinha que dar. Tomara que termine logo!!”. Tal pensamento adquiriu mais força, quando, sete dias depois, fui surpreendido com mais outra notícia desagradável: o desastre aéreo com a delegação do Chapeó. 



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Poesia- Enaltecer II

Eric do Vale

Quantas vezes
Eu já te falei?
Não sei
Ou, talvez,  saiba.

Já perdi a conta
De quantas vezes
Eu te falei que
Te admiro muito
E cada vez mais 
Eu te admiro. 

Mesmo assim, 
Afirmo, novamente, 
Que fico mais ainda
Maravilhado por você. 

Poesia- Enaltecer

Eric do Vale


A orquídea do meu orquidário
É a rosa da minha roseira,
Flor do meu jardim 
Que floreia o meu dia
Cuja alegria
Tanto me contagia
E norteia o meu caminho.
O que mais poderei dizer?
Digo isso e um pouco mais disso
E ainda sim, é pouco. Muito pouco.
E o pouco que me falta
É muito para demonstrar
A grandeza do meu carinho
por você.