segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Crônica - Reflexo De Uma Identidade

Eric do Vale


Demonstraram grande surpresa algumas pessoas, ao me verem com um exemplar de O Cortiço e admitiram já o terem lido, quando estavam no colégio, no entanto o meu espanto foi maior, pois, de uma forma unânime, todos alegaram que, nessa mesma época, desenvolveram uma espécie de aversão à leitura, principalmente à literatura nacional. Não é para tanto, ler autores contemporâneos de Machado de Assis e de José de Alencar, em fase escolar, torna-se bastante fastioso, uma vez que isso é feito de uma maneira imposta.

No momento, estou lendo Os Escravos, de Castro Alves e, só a titulo de curiosidade, afirmo que ele se tornou a minha primeira referência sobre poesia, quando eu ainda não passava de um estudante primário. Isso até me fez recordar uma situação que adveio na quarta-série. 

Em vista do Dia Nacional da Poesia, 14 de março, a professora pediu uma pesquisa sobre algum poeta brasileiro, constando uma breve biografia e alguns versos que, posteriormente, deveríamos declamá-los em público. Ciente de que aquela data estava associada ao de nascimento de Castro Alves, resolvi estudá-lo no meu trabalho escolar. Iniciado o intervalo, rumei para a biblioteca na companhia de um amigo que terminou pegando um exemplar de Manoel Bandeira. Quanto a mim, estava convicto em ler o “Poeta dos Escravos” e essa sensação emergiu, quando saí da biblioteca com um livro dele em mãos.

Logo que ouviu o meu relato, alguém que conheço, dos meus tempos de ginásio, disparou:
-Ler Castro Alves na quarta-série!Você foi muito precoce!
-Que nada, eu fui muito pretensioso.
Foi um passo dado, maior do que as pernas, por um fedelho, até então, acostumado a ler histórias em quadrinhos e que, baseado nos livros de Monteiro Lobato, mal havia descoberto o gosto pela leitura. 

Fiquei à deriva, quando as minhas retinas percorreram os versos do poeta baiano até me convencer de que seria mais sensato explorar outro autor que, de preferência, fosse mais fácil de compreender. Assim o fiz e escolhi  Carlos Drumond de Andrade que veio a ser a minha segunda referência no campo da poesia brasileira.

Hoje, eu avalio esse episódio como uma tentativa de auto-afirmação, algo que muitos de nós, quando atravessamos essa fase, procuramos fazer com a exclusiva finalidade de provar para terceiros o nosso lado adulto. 

Somente no Ensino Médio, optei por aventurar-me nas estrofes do “poeta dos escravos”, quando a leitura já se havia tornado, para mim, um rotineiro hábito, na proporção em que comecei a esboçar os meus primeiros textos. Por falar nisso, certa vez, na aula de literatura, o professor comentou o sucesso que Castro Alves fazia com as mulheres, pois essas deliravam, quando ele declamava versos. Ao meu lado, sentava-se uma jovem por quem eu nutria uma paixão platônica e ela, nesse momento, comentou com a sua colega:
- Como eu gostaria de ter vivido essa época! Queria ter conhecido o Castro Alves. Seria tão bom, se hoje existisse um homem assim.
Busquei, diante dessa afirmação, atender às suas perspectivas. 

Aquela pessoa que eu conhecera nos tempos de ginásio apelidou-me de discípulo do Castro Alves, quando lhe confidenciei esse episódio. Nessas condições, é possível admitir que ele tenha servido de alusão para um adolescente com os hormônios em ebulição, saciado pela vontade se destacar, especialmente com as garotas, por meio das palavras.






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