Eric do Vale
Demonstraram grande surpresa algumas pessoas, ao me
verem com um exemplar de O Cortiço e admitiram já o terem
lido, quando estavam no colégio, no entanto o meu espanto foi maior, pois, de
uma forma unânime, todos alegaram que, nessa mesma época, desenvolveram uma
espécie de aversão à leitura, principalmente à literatura nacional. Não é para tanto,
ler autores contemporâneos de Machado de Assis e de José de Alencar, em fase
escolar, torna-se bastante fastioso, uma vez que isso é feito de uma maneira
imposta.
No momento, estou lendo Os Escravos, de
Castro Alves e, só a titulo de curiosidade, afirmo que ele se tornou a minha
primeira referência sobre poesia, quando eu ainda não passava de um estudante
primário. Isso até me fez recordar uma situação que adveio na
quarta-série.
Em vista do Dia Nacional da Poesia, 14 de março, a
professora pediu uma pesquisa sobre algum poeta brasileiro, constando uma breve
biografia e alguns versos que, posteriormente, deveríamos declamá-los em
público. Ciente de que aquela data estava associada ao de nascimento de Castro
Alves, resolvi estudá-lo no meu trabalho escolar. Iniciado o intervalo, rumei
para a biblioteca na companhia de um amigo que terminou pegando um exemplar de
Manoel Bandeira. Quanto a mim, estava convicto em ler o “Poeta dos Escravos” e
essa sensação emergiu, quando saí da biblioteca com um livro dele em mãos.
Logo que ouviu o meu relato, alguém que conheço,
dos meus tempos de ginásio, disparou:
-Ler Castro Alves na quarta-série!Você foi muito
precoce!
-Que nada, eu fui muito pretensioso.
Foi um passo dado, maior do que as pernas, por um
fedelho, até então, acostumado a ler histórias em quadrinhos e que, baseado nos
livros de Monteiro Lobato, mal havia descoberto o gosto pela leitura.
Fiquei à deriva, quando as minhas retinas
percorreram os versos do poeta baiano até me convencer de que seria mais sensato
explorar outro autor que, de preferência, fosse mais fácil de compreender.
Assim o fiz e escolhi Carlos Drumond de Andrade que veio a ser a
minha segunda referência no campo da poesia brasileira.
Hoje, eu avalio esse episódio como uma tentativa de
auto-afirmação, algo que muitos de nós, quando atravessamos essa fase,
procuramos fazer com a exclusiva finalidade de provar para terceiros o nosso
lado adulto.
Somente no Ensino Médio, optei por aventurar-me nas
estrofes do “poeta dos escravos”, quando a leitura já se havia tornado, para
mim, um rotineiro hábito, na proporção em que comecei a esboçar os meus
primeiros textos. Por falar nisso, certa vez, na aula de literatura, o
professor comentou o sucesso que Castro Alves fazia com as mulheres, pois essas
deliravam, quando ele declamava versos. Ao meu lado, sentava-se uma jovem por
quem eu nutria uma paixão platônica e ela, nesse momento, comentou com a sua
colega:
- Como eu gostaria de ter vivido essa época! Queria
ter conhecido o Castro Alves. Seria tão bom, se hoje existisse um homem assim.
Busquei, diante dessa afirmação, atender às suas
perspectivas.
Aquela pessoa que eu conhecera nos tempos de
ginásio apelidou-me de discípulo do Castro Alves, quando lhe confidenciei esse
episódio. Nessas condições, é possível admitir que ele tenha servido de alusão
para um adolescente com os hormônios em ebulição, saciado pela vontade se
destacar, especialmente com as garotas, por meio das palavras.
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