terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Artigo- Pano Pra Manga

Eric do Vale



Questionar a existência divina é algo que, na maioria dos casos, tende a ser tão corriqueiro quanto esdruxulo. É de praxe todo aquele que se diz ateu ou agnóstico fazer a clássica pergunta: “Deus existe?”.
Aqueles que seguem alguma religião, fundamentados nas agradas escrituras, responderão que sim e realçarão: “Está escrito n Bíblia que...”. Mesmo assim, os que não creem ou duvidam da existência divina, sem se darem por satisfeitos, persistirão na pergunta: “Deus existe?”. 
Como tal pergunta é de extrema delicadeza, qualquer indivíduo, no auge de sua sensatez, terminaria, nessas condições, de abster-se de responder a esse questionamento. Estou muito longe de alcançar o posto de questionador mor da existência divina ou de qualquer outro assunto. Tão pouco, essa não é a minha pretensão, pois encontro-me muito aquém de tal função.
Enquanto uns se fundamentam nas sagradas escrituras; outros, de uma forma bem iconoclasta, afirmam que a Bíblia, e outros livros espirituais, não passa de calhamaço redigido por homens em que cada um tem a capacidade de interpretá-lo da sua maneira.
No meio de tantas divergências, uma coisa é certa: independente de que o indivíduo siga uma religião, ou não, existirá sempre o livre arbítrio pelo qual todo mundo sabe tem consciência de seus atos.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Conto- Armadilha do Destino

Eric do Vale



Duarte, com três dias de antecedência, avisou a esposa que teria plantão. Não havia como ela duvidar, porque, casados há cinco anos, sabia perfeitamente que depois dela, a segunda paixão do marido era o trabalho.
            Depois de sair da delegacia, no início da noite, Duarte passou pelo bar onde Peixoto, seu colega de expediente, estava:
-Vai uma geladinha? _ Perguntou Peixoto.
Ele bebeu um pouco e depois, foi embora.
-Vai cedo, cara! _ Disse Peixoto.
Duarte não falou nada e Peixoto continuou:
-Nem precisa dizer, porque eu já sei. Depois, quero saber de tudo.
Dias atrás, Peixoto aproximou-se de Duarte e perguntou:
-Tem compromisso para hoje, a noite?
Peixoto notou que o colega o encarou de uma forma meio atravessada e falou:
-Não é nada disso que você está pensando.
-Eu não estou pensando nada.
-Conheci uma garota ... Um espetáculo!
Peixoto forneceu-lhe o contato da garota e disse:
-O nome dela é Dóris, você não vai se arrepender.
Duarte, minutos depois, enviou-lhe uma mensagem e logo, foi correspondido. Ficou acertado de que, dentro de três dias, eles iriam se encontrar.
Na direção do seu carro, Duarte estava certo de que, naquela hora, a esposa dele deveria estar na igreja ou assistindo a novela e pensou: “Mulheres... São todas iguais”.
Imaginou a noite de prazer que teria com Dóris constatando que aquela seria mais uma, dentre muitas outras, aventuras amorosas que teve; depois, tudo voltaria ao normal e ele chegaria em casa, onde a esposa o receberia perguntando:
-Como foi o dia, amor?
-Exaustivo.
Alguns metros de distância, Duarte telefonou para Dóris dizendo:
-Já cheguei.
-Eu estou na calçada.
 Ele avistou uma mulher de mini short jeans, blusa top preta na calçada e pensou: “É ela!”. Aproximou-se, abriu a porta e ascendeu a luz para cumprimentá-la:
-Hortência? _ Perguntou Duarte.
-Germano!
Diante daquela situação, marido e mulher ficaram sem saber o que fazer.


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Conto-Mão De Ferro

Eric do Vale



Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: ´Muito obrigado
São palavras que ainda te deixam dizer,
Por ser homem bem disciplinado´
(Gonzaguinha: Comportamento Geral)

 O professor perguntou:
-O que Darwin pregava?
-Que o homem descendia do macaco. _   Eu respondi.       
-Está errado. _ Disse ele secamente. – Charles Darwin nunca disse isso.
Aquele comentário dele apresentava uma certa soberba.
-Darwin afirmava que as espécies eram oriundas de seres primitivos. _ Disse o professor.
A turma permaneceu em silêncio, conforme era do gosto dele e, em seguida, finalizou: 
- Jornalistas distorcem informações.
Encarei aquilo como uma indireta, visto que era do conhecimento dele e de todo mundo da classe o meu desejo de me tornar jornalista.
Minto, aquilo não foi uma indireta coisa nenhuma, pois ele, no ano seguinte, chegou na sala trazendo uma revista especializada em ciência e que segundo as palavras dele: “colocava no chinelo qualquer Veja da vida, pois era escrita por cientistas e não por jornalistas.”.
Estávamos, naquela época, nos primórdios do século XXI. Ele, no entanto, orgulhava-se de ser um remanescente da “tradicional educação” com direito à palmatoria.
Sempre que um aluno chegava no meio da aula, ele, ironicamente, falava em alto e bom som:
- Com licença, professor.
Todo mundo deveria estar inteirado na aula dele e ai de quem não dançasse conforme a música.
Ao vê-lo dentro do ônibus, um de seus alunos alardeou:
- Professor, o senhor anda de ônibus!
No dia seguinte, quando ele colocou os pés na sala, uma voz, vinda lá de trás, falou:
-Siqueira Papicu!
Imediatamente, dirigiu-se para o rapaz com quem havia se encontrado no ônibus e ordenou:
-Para fora.
-Por quê?
-Para fora.
-Mas, eu não disse nada.
-Para fora.
Então, o “verdadeiro culpado” manifestou-se:
-Fui eu quem disse, professor.
-Para fora os dois.
Se ele era “carne de pescoço”, as provas dele ...
Ciente do meu péssimo desempenho escolar, sobretudo na disciplina que ele ministrava, esse professor, sempre que me via, fazia terrorismo:
-Trate de estudar, porque você está jurado a repetir de ano.
Creio que ele nutria um desejo de me reprovar, não sei por quê. Tenho certeza disso, pois lembro-me perfeitamente quando me viu chegando, no primeiro dia de aula, e falou:
- Você conseguiu passar, o Conselho de Classe ajudou.
Eu tinha que aguentá-lo por mais um ano! Era preciso manter a cabeça fria e, na medida do possível, ignorar aquelas “piadinhas” dele, visto que, naquele momento, encontrava-me no terceiro ano do Ensino Médio.
Um dia, ele reparou que eu estava disperso e, em tom de deboche, perguntou:
 -Escrevendo “bilhetinhos”?
-Por que não cuida da sua vida?
Não sei o que deu em mim para dizer aquilo. Tentei remediar, mas ele, é claro, não aceitou. Eu sabia que não tardaria muito para aquele incidente chegar aos ouvidos do coordenador, porque esse professor, há tempos, vinha arrumando uma forma para me degringolar.
Se ele era intragável, o coordenador, então... Uma vez que um aluno lhe “fazia uma visita”, era mandado para a casa sobre agravante de suspensão; caso aquilo se repetisse, era suspenso e advertido de transferência.
Como eu não tinha para onde correr, atirei-me na “toca do leão”.  Depois de relatar tudo o que havia acontecido, o coordenador falou:
-Fique tranquilo, volte para a sala e deixe que eu falo com ele.
Sete dias depois, o professor, durante a aula, comentou sobre a morte de um ex-aluno que foi baleado por um vigia, quando tentava pichar uma loja. Mesmo lamentando a morte do rapaz, disse que o vigia agiu certo.
-Pichação é crime! _ Disse ele.
O professor aproveitou a ocasião para falar mal do movimento dos Sem- Terra classificando-os como vândalos.  Pelo jeito, ele estava mais descompensando do que nunca; mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foi o comportamento dele comigo: além de não ter feito nenhuma “piadinha”, tratou-me como se eu não existisse. E, assim, ocorreu durante o resto daqueles meses.
               Cheguei a pensar que aquilo fosse coisa da minha cabeça, mas só fui me certificar de que não estava enganado, quando ele falou sobre a tal revista especializada em ciências e perguntou:
-Alguém aqui pretende fazer vestibular para jornalismo?
Eu fui o único que me manifestei levantando a mão, porém ele não deu importância e falou para a turma
- Os jornalistas distorcem as informações. 





domingo, 1 de janeiro de 2017

Conto- 30 De Dezembro

Eric do Vale



2006

Já passava da meia noite, quando liguei a televisão na eminencia de que o sono chegasse logo. A Globo, naquela ocasião, exibia O Poderoso Chefão- Parte III. Tal filme contribuiu mais ainda com a minha insônia.
O tão famoso singular Plantão entrou no ar, durante os comerciais noticiando que o Sadan Hussein havia sido executado, por enforcamento, há algumas horas atrás. A primeira coisa que pensei em fazer, naquela ocasião, foi acordar os meus pais para informar-lhes o que tinha acabado de acontecer; mas me contive, porque sabia que não tardaria muito para aquela adquirir maiores proporções.  
Dias atrás, quando foi decretada a sentença dele, comentei com uma colega minha:
-Ainda que ele tenha cometido inúmeras atrocidades, não acho correto condená-lo a morte.
-Eu também concordo, mas o que se há de fazer?
Assisti ao filme até o final e quando fui dormir, pensei: “Além de mim, alguém mais presenciou esse feito?”. Essa dúvida me persegue até hoje. 
  
2016


Ligo a televisão e sintonizei na programação musical. Qual gênero escolher? Rock? Jazz? Samba? Tudo isso e mais um pouco. Pego uma cerveja na geladeira, frito umas calabresas e arrisco-me- a fazer as vezes de crooner
Nem acredito que amanhã é dia 31 de dezembro! Sintonizo em uma programação televisiva e o que temos para hoje? O Poderoso Chefão- 2º Parte. Conheço de cor as cenas desse filme e mesmo assim, disponho a revê-lo.
Lembro-me da primeira vez que assisti esse filme: fiquei sabendo que ele seria exibido depois da meia noite e mesmo assim, quis vê-lo. Em virtude das três horas e meia de duração que apresentava, terminei vencido pelo sono.
Depois de várias tentativas, consegui assisti-lo na integra; e quando isso aconteceu, fiquei deprimido.
-Por quê? _ Perguntou, uma vez, um amigo meu, quando lhe confidenciei isso.
Disse-lhe que era um ótimo filme, mas com uma história triste.
-De acordo, mas não vejo motivos para alguém ficar deprimido; sobretudo, num filme desse naipe. _ Argumentou esse meu amigo.
Duas histórias paralelas: a vinda de Vito Corleone para a América, e Michael tentando de todas as formas manter o império que herdara do pai.
Novamente, consegui me manter firme até o final! Agora, para contrabalancear, um desenho da Pantera Cor De Rosa. Olho para o relógio e verifico que já passou da meia noite: o último dia do ano chegou. Até que enfim!

Conto- Discussão

Eric do Vale


A: Você
B: Eu?
A: Você.
B: O é que tem eu?
A: Foi você.
B: Eu, o quê?
A: Foi você sim.
B: Não fui eu nada.
A: Foi você, sim.
B: Não fui eu, nada!
A:Não foi você o quê?
B: O que você me disse.
A: E o que foi que eu te disse?
B: Que fui eu?
A: Foi você o quê?