sábado, 25 de julho de 2015

Conto- Balaio De Gato

Eric do Vale

“Diga não
pra ser ouvido
seja positivo.”
(Diga Não: Leoni)

1

No lugar de Sabrina, outra pessoa teria enfiado a mão na cara de Jamile, depois que essa confessou o que havia feito.
-E fiz de propósito, fique você sabendo disso. _Enfatizou Jamile.
Sabrina era um poço de sensatez e sabia que nada adiantaria, pois, naquela altura do campeonato, Fúlvio encontrava-se de malas prontas com destino a Itália. E mesmo tendo admitido o que fez, Jamile não conseguiu o que queria.
2
Jamile veio para a capital com a finalidade de prestar vestibular para engenharia, mas o gosto pelo esporte falou mais alto. Na escola, ela era a capitã dos times de voltei e basquete, sendo esse último a modalidade que mais gostava. 
Não fazia nem um mês que estava morando na capital, quando recebeu um telefonema de alguém que, dizendo-se dirigente de um time de basquete, gostaria de avaliá-la.  Jamile, a princípio, estranhou, mas compareceu ao local marcado e certificou-se de que tal informação era procedente.
O tal dirigente falou para ela:
-A Lisandra falou muito bem de você.
Uma semana depois de ter se mudado para a capital, Jamile encontrou Lisandra em um supermercado, perto de onde morava. A alegria foi repentina, visto que faziam mais de dois anos que não se viam.
-Continua jogando? _ Perguntou Lisandra.
-No momento, não.
-Eu estou jogando em um time...
Elas se conheciam desde pequenas e faziam parte da mesma seleção de basquete.  Sendo duas mulheres bonitas e cobiçadas pelos homens da cidade, acreditava-se, a princípio, que Jamile e Lisandra fossem esnobes, porque elas não tinham interesse em nenhum deles. A relação das duas eram tão fortes, que os pais de Lisandra a enviaram para a capital, temendo comentários maldosos.
Durante o diálogo com o dirigente, Jamile lembrou-se de que, saindo do mercado, havia dado o número do telefone dela para Lisandra, porque essa havia lhe pedido.  Visto que não havia como recusar tal proposta, Jamile resolveu aceitá-la. Não demorou muito para ela se destacar e adquirir a confiança de Fúlvio, o treinador.
3
Fúlvio beirava os quarenta anos, casado e com dois filhos, era uma espécie de paizão para as jogadoras. Apesar de ser bem apresentável, era um homem muito sério. Jamile era tão afetuosa com Fúlvio, que sempre o abraçava. Aos poucos, ela passou a pegar carona com Fúlvio e não tardou muito para que aquela amizade ganhasse novas dimensões.
Após o treino, Fúlvio quis saber se Jamile estava interessada em fazer um lanche. Ela aceitou e assim que chegaram na lanchonete, ele, pela primeira vez, falou sobre a vida matrimonial dele: encontrava-se em crise no casamento e já havia tentado, várias vezes, resistir, por causa dos filhos.
 Jamile, por sua vez, falou que vinha tentando adaptar-se a nova vida: longe dos pais e tendo que se virar como podia. Mas, ela não fez nenhuma menção a respeito da vida afetiva dela e Fúlvio também não perguntou.
De saída, eles dirigiram-se para o carro de mãos dadas e quando entraram, ela deu-lhe um beijo na boca. Eles continuaram por muito tempo.
-Quer que eu te deixe em casa? _ Perguntou Fúlvio.
-Você é quem sabe.
Continuaram beijando-se e resolveram prolongar o passeio de carro até estacionarem em lugar ermo, na praia.  
4

Ao chegar no trabalho, Fúlvio percebeu que Sabrina estava meio desolada e perguntou-lhe:
-Está tudo bem?
-Sim.
-Certeza?
-Absoluta.
-Você desculpe a minha indiscrição, mas é que, ultimamente, venho reparando que você anda meio cabisbaixa.
-Tem razão.
-Se quiser conversar...
- Acho que vai ser melhor para mim.
Os dois dirigiram-se até a cantina, pediram água mineral e ela falou da barra que vinha enfrentando: a mãe estava com câncer e em fase terminal. Somado a isso, o casamento dela estava em crise.
 -Se te serve de consolo, você não é a única. Lá em casa, as coisas estão indo de mal a pior. Só para você ter noção, não existe dialogo e quando há, a minha esposa e eu terminamos discutindo. _ Disse Fúlvio.
-É a mesma coisa que está acontecendo comigo, Fúlvio.
Antes de voltarem ao serviço, Fúlvio falou:
-Quando quiser conversar, pode me procurar.
- Eu digo o mesmo.
5
O trabalho, naquele momento, era a única coisa que fazia Sabrina esquecer dos problemas pelos quais vinha passando e foi nessa mesma época em que ela iniciou uma amizade com Jamile.
Após ter se machucado, durante um treino, Jamile procurou Sabrina para que essa lhe fizesse os devidos curativos e também providenciasse um atestado que a deixasse, temporariamente, afastada dos jogos. Assim que se viram, pela primeira vez, uma foi com a cara da outra.
Desde esse dia, Jamile passou a ir até o consultório alegando alguma indisposição, porém aquilo não passava de um pretexto para ficar mais perto de Sabrina que, por sua vez, via nela uma espécie de filha que nunca teve.  Além de telefonar, toda noite, para Sabrina, Jamile passou a ir e vir para o treino de carona com ela. 
6
Algum tempo depois, a mãe de Sabrina sucumbiu à doença. Ela mal teve tempo de se recompor, quando descobriu o caso extraconjungal do marido. Nessa mesma época, Fúlvio tomou a decisão de se separar da esposa e como ambos vinham enfrentando o mesmo problema, era comum os dois serem vistos juntos onde quer que fossem. A ligação dos dois tornou-se tão forte, que eles conversavam pelo telefone, durante a madrugada.

7
Jamile, até então, não tinha conhecimento da amizade de Sabrina com Fúlvio, entretanto era visível que a ligação dos dois vinha, com o tempo, se fortificando, pois se desgrudavam nunca. Considerando que, naquele momento, eles encontravam-se solteiros, era muito provável de terem alguma coisa. Sendo muito próxima de Fúlvio e Sabrina, Jamile perguntou, individualmente, a cada um:
-Está rolando alguma coisa entre vocês dois?
A resposta dos dois foram idênticas:
- De onde você tirou isso? Somos apenas amigos, bons amigos. Além do mais, não quero saber de compromisso com ninguém, por enquanto.
Jamile, no entanto, sabia que estavam blefando e que nenhum dos dois, de maneira alguma.  Mesmo assim, estava obcecada em descobrir a verdade.  No vestiário, ela percebeu que não era a única pessoa a desconfiar de que os dois tinham um caso, por isso achou melhor investigar.
Sem que ninguém percebesse, Jamile foi até o consultório e quando viu o celular de Sabrina em cima da mesa, pegou e viu que tinha várias ligações de Fúlvio. Naquele mesmo instante, o aparelho vibrou. Era uma mensagem dele dizendo: “Hoje, a noite, no restaurante...”.

8
Jamile passou a tratá-los com certa frieza. Para ela, era inaceitável deles terem algum envolvimento amoroso e se perguntava: “Por que eles? Por quê?”. Mesmo percebendo que ela havia se distanciado deles, Fúlvio e Sabrina desconheciam a razão e pareciam não se importarem com aquilo.
Os dois foram deixando as coisas acontecerem até que a relação esfriou. No entanto, tiveram uma recaída, durante a festa de confraternização do time. Era quase meia noite e todo mundo já tinha ido embora, quando Fúlvio chamou Sabrina e os dois foram conversar em um lugar discreto e afastado.
Jamile observou de longe e viu quando eles começaram a se beijar. As coisas começaram a ficar quentes e então, Fúlvio segurou na mão de Sabrina e os dois se dirigiram até vestiário.
9
Depois disso, os dois não tiveram mais nada. Passaram algum tempo sem se falarem até que Fúlvio recebeu uma proposta para ir treinar um time, na Itália. Certo dia, Fúlvio convidou Sabrina para almoçar e ela aceitou. Durante a refeição, Sabrina perguntou:
-Fúlvio, você nunca tentou nada comigo, naquela época?
-Quem disse que eu não tentei? Você não se lembrar, durante a confraternização?
-Lembro que a gente ficou.
-Mas, depois?
-Sei lá, eu estava tão bêbada!
-Mas, eu estava sóbrio e sabia muito bem o que estava fazendo. Levei você para o vestiário...
-E depois?
-A Jamile estragou tudo.
-Como assim?
-Ela chegou, naquela hora.
Depois de ter ouvido aquilo, restava a Sabrina procurar Jamile para tirar satisfação e foi o que fez.





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terça-feira, 21 de julho de 2015

Conto- Os Pingos Nos Is

Eric do Vale

“Acabei de dar um check-up
Geral na situação
O que me levou a reler
Alice no país das Maravilhas”



I


O tempo mostrará que isso foi mais uma coisa superestimada por mim e estou convicto disso, mesmo sabendo que tive uma parcela de culpa. Se é que tive. Era quase meia-noite, quando ela marcou um compromisso comigo, alegando que precisava demais de ajuda. Solicitamente, aceitei e marcamos para as oito horas. Chegando ao local combinado, nada dela. As horas foram passando até que resolvi ligar. Do outro lado da linha, disse-me que havia farreado a noite toda:
- Como você pode fazer isso? Julguei que precisasse de mim. _ Questionei.
Voltei para casa fulo da vida, mas logo passou. Estava separando-se do marido, quando nos conhecemos. Trocamos alguns telefonemas, diálogos e saímos algumas vezes, mas não rolou nada. Cheguei a telefonar-lhe algumas vezes, porém ela nunca atendia. Resolvi não procurá-la mais. Estranhei quando me ligou naquela noite, mesmo assim decidi não negar-lhe ajuda. Procurou-me após o ocorrido e saímos algumas vezes. Volta e meia, enviava-me um whatsapp, como mensagens do tipo: “Veja como a lua está bonita!” ou “O dia foi tão corrido que, mesmo assim, pensei muito em você!”. Eu correspondia a todas as suas mensagens. Pelo jeito, tudo estava ocorrendo bem até que depois dos festejos de fim de ano, distanciou-se de mim. Quando a reencontrei, conversamos muito até ela me dizer:
-Você também é um pouquinho indelicado. Fui apaixonada por você até me dar umas patadas, fazendo que eu perdesse o encanto.
Aquela afirmação me levou a nocaute. Não me lembro de nenhuma vez em haver sido grosseiro com ela, salvo quando me deu um cano. Será que fui indelicado outras vezes e não percebi? Procurei justificar-me de várias maneiras, mas ela contra- argumentava.  Na concepção dela, eu tinha nível de sinceridade muito aguçado e isso retraia qualquer mulher:
-Por que está me dizendo isso agora? _ Perguntei.
-Porque eu tinha medo.
Essa justificativa fez com que eu me sentisse enojado de mim mesmo e refletisse: “Será que eu sou um monstro e não sabia?”.
--Lamento haver desperdiçado essa chance. _ Eu disse.
-Encare isso como uma fruta que não amadureceu no pé. Veja o lado bom, ficou a nossa amizade.
Pelo menos, isso me servia de consolo. Estevan ouvindo I feel like bullet in the gun of Robert Ford, do Elton John. O começo da primeira estrofe dizia: “Como se arranca o milho do campo, eu feri você. “. Logo, associei as palavras dela: “Fui apaixonada por você, mas perdi o encanto, por causa de sua grosseria.”. Naquele momento, uma vodca ou uma cachaça cairia bem. Logo que ouviu a minha catarse, alguém que conheço me perguntou:
-Ela é tão importante assim para você se rebaixar?
- Claro que não.
-Então?
- Eu joguei uma oportunidade fora!
- Você está dando importância a uma coisa que nem chegou a ser concretizada.
-Por minha culpa.
Contei-lhe a história do bolo que ela me deu e então ouvi a resposta:
- Você deveria preocupar-se com coisas mais importantes do que isso. E quer saber? Ela nunca foi apaixonada por você. Do contrário, entenderia o seu jeito
Aquilo fazia sentido. Feio, aleijado e até mesmo ladrão, quando alguém se apaixona por outro não há nada disso. Procurei seguir a minha vida até ser informado, pelo Facebook, que ela encontrava-se no quarto mês de gestação. Intrigava-me saber que ela seria mãe solteira, conforme havia postado no mural. Como é que ela foi se meter nisso? Pelo que me consta, ela sempre foi uma pessoa com jogo de cintura. Lembro que no nosso primeiro encontro ela ter comentado:
-Hoje em dia só engravida quem quer. Eu que diga, vivo na base de anti- concepcionais.
Assim que ela divulgou, pela internet, o sexo do bebê, resolvi telefonar-lhe a fim de parabenizá-la. Disse-lhe que se precisasse de qualquer coisa, poderia contar comigo. Ela agradeceu, mas estou certo de que não deu muita importância, pois jamais me procurou. Apesar de haver sido um gesto nobre, percebi que tinha acabado de tirar o diploma de burrice e um amigo meu acrescentou:
-Ainda bem que você tem consciência disso e digo mais: não só tirou o diploma, como também você acabou de fazer uma especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado nessa área. Francamente! Você se safa de uma roubada e ainda quer voltar para ela!
                Ela não deu detalhes sobre o pai da criança, disse apenas que namoraram por dois meses, mas terminaram, porque, segundo suas próprias palavras, “deixaram de se amar”. Como é possível se apaixonar e desencantar por alguém assim, instantaneamente? Faltando um mês para dar à luz, disse-me não ter escolhido o nome da criança. Mesmo achando desconexo, eu não tinha nada a ver com aquilo e então, dei-me conta de que estava mais do que na hora de tirá-la da minha vida.

II
- Foi preciso que eu mandasse uma solicitação de amizade para você perceber a minha existência!  Faz dois anos que não nos falamos e então, resolvi te procurar. Assim que nos encontramos, a sua pergunta foi: “Estava zangado comigo?”. Antes que eu pudesse responder, você disse: “Tomei um susto, quando vi a sua solicitação de amizade.”. Após o nosso derradeiro encontro, na praia, você evaporou. Tentei entrar em contato, mas, por alguma razão, você passou a me evitar até que, um dia, conseguimos conversar e ouvi o seu desabafo: “Você é um pouco indelicado, fui apaixonada por você, mas as suas grosserias colocaram tudo a perder.”. Agora, me responda: em qual momento eu fui grosseiro com você?
-Não estou lembrada, porque faz tanto tempo.
-Mas, eu me lembro. Aquela cano que você me deu. Creio que essa tenha sido a única vez que fui indelicado com você. Caso contrário, me corrija.
-  Eu já te disse que não me lembro. E que importância tem isso, agora? Já passou!
- Você está certa em dizer que já passou, entretanto existem algumas lacunas que ainda não foram fechadas. Ao me desculpar, você finalizou: “Pelo menos, sobrou a nossa amizade”. Pergunto: que amizade? Assim que tomei conhecimento de que estava gravida e seria mãe solteira, eu te procurei com o intuito de te ajudar, mas você nem deu importância. Então, constatei que você nunca foi apaixonada por mim. Sabe como cheguei a tal conclusão? Quando perguntei pelo pai da criança, a sua resposta foi: “Namoramos por dois meses até que deixamos de nos amar.”. Tão rápido esse amor! Se você fosse, realmente, apaixonada por mim, procuraria entender os meus defeitos da mesma forma que eu buscaria compreender os seus. Como eu não significava coisa nenhuma para você, achei melhor sumir e continuaria desse jeito, mas as coisas não são bem assim.
-Entendi. Obrigada pela sinceridade.

III

-Acabou. Resolvi tudo!
- O que aconteceu?
-Resolvi aquilo que estava me incomodando, procurei aquela pessoa e disse-lhe: “Faz dois anos...”.
-Foi muito bom você ter esclarecido tudo e o que foi que ela disse?
- Ela disse: “Entendi. Obrigada pela sinceridade”. E eu concluí: “Sem ressentimentos”.
-Sabe o que realmente eu acho? Ela nunca gostou de você, porque quem gosta resiste. Digo isso, porque passei um ano e dois meses suportando o que ninguém suportaria.
-Você não foi a única pessoa que me falou isso.
- É bem capaz de tudo isso que você disse para ela ter entrado em um ouvido e saído pelo o outro.
 -Agora, isso pouco me importa.





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domingo, 12 de julho de 2015

Conto- A Loira


Eric do Vale

Feito aquele soldado japonês que, durante a Segunda Guerra Mundial, permaneceu vinte e nove anos no seu posto, em uma ilha deserta, acreditando piamente que o confronto não havia acabado, eu caminhava pelas galerias e depois, voltava para o ponto de encontro na ânsia de que alguém pudesse aparecer.
 De saída do cursinho, a Carla me falou:
- O pessoal está combinando de sair, hoje á noite. Está afim?
Como eu iria fazer uma prova, no dia seguinte, dei poucas garantias. Entretanto, mudei de ideia, naquela mesma hora.   Combinamos, juntamente com a turma, de nos encontrarmos no shopping, por volta das 19:00.  
-Aquele que chegar primeiro, espera pelo outro, na porta do cinema. _ Falou o Bruno.   
De domingo à domingo, queimando as pestanas com um único objetivo: passar no vestibular. Eu tinha certeza de que aquilo era somente uma fase e assim que ingressasse na faculdade, iria à forra.
Cheguei com dez minutos de antecedência, porque morava a alguns metros do shopping. Fiquei um bom tempo na livraria e quando deu dezenove horas, dirigi-me ao local combinado e esperei pelos meus amigos. Passados quinze minutos, ninguém havia chegado. Telefonei para o Bruno e esse me disse que infelizmente não poderia comparecer, porque houve um contratempo. Depois, liguei para a Carla, porém o celular dela encontrava-se fora de área.
Além de não possuir o número das demais pessoas que também marcaram presença, a bateria do meu celular estava fraca e não demorou muito tempo para descarregar. Era inacreditável que todo mundo tivesse desistido, na última hora! Mesmo assim, não perdi a esperança de que viessem.
Aproximei-me de uma loira perguntando as horas e ela me respondeu que eram oito e meia. Fiquei mais um pedaço na porta do cinema e prestes a ir embora, fui abordado por um homem:
-Quem é aquela loira que você estava conversando?
- Não sei. Eu só perguntei as horas a ela.
- Ela é muito bonita.
-É verdade.
-Ela está esperando alguém?
- Não sei dizer.
-Por que você não chega junto?
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele me veio com esta:
-Deve ser um travesti.
Não dei ouvidos, pois, naquele instante, eu só pensava em ir embora.
-Vai dizer que você também não pegaria? _ Perguntou ele.
- A loira?
-Não, um travesti.
-Você é homossexual?
-E se eu for, tem algum problema?
-De maneira alguma, desde que não mexa comigo.
-Talvez, eu esteja enganado e ela não seja um travesti.
-Eu já vou indo.
-Já?
-Sim. Preciso acordar cedo, amanhã.
Não prestei atenção ao que ele dizia e sai sem olhar para trás pensando: “Será?!”.






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sábado, 11 de julho de 2015

Conto- Tropeço

                Eric do Vale

Ato de tropeçar, percalços e estorvo são algumas das palavras que, segundo o pai dos burros, definem o termo tropeço. A primeira vez que assisti a Família Adams e soube que havia um personagem com esse nome, recordei-me de um conhecido que era assim chamado pelo meu pai, em virtude da elevada estatura e o jeito desengonçado que possuía.
Sempre que me via falando de boca cheia, arrotando ou fazendo barulho, quando mastigava, o meu pai dizia:
- Quem faz isso é o Tropeço.
Ele gostava de apontá-lo para mim com uma espécie de exemplo de maus costumes.
Quando deixei cair um objeto no chão, o meu pai perguntou-me:
- Você se lembra de um cara que derrubava as coisas, chamado Tropeço? 
E assim que me viu tirando os sapatos sem desamarrar os cadarços, não se conteve:
-Não faça isso, porque é muito feio. O Tropeço é quem tinha essa mania.
Ele ainda falou de outras pessoas que tinham aquele habito e frisou:
-Quem também fazia isso era o Tropeço, aquele filho de uma égua.
Percebi, naquele momento, algo que, até então, eu desconhecia: uma espécie de repulsa pela pessoa dele. Nunca entendi direito o porquê daquela aversão e como fazia bastante tempo que não o víamos, constatei que não fazia sentido o meu pai ficar maldizendo dele.
Após censurar a forma como eu me sentava no sofá, ele finalizou:
-O Tropeço era quem fazia isso.
Aquilo permitiu com que o meu copo d´ água transbordasse:
-Ele tem nome e se chama Durval. _ Eu disse.
A resposta foi a queima roupa e mesmo resultando em um clima carregado, não me lembro de ter ouvido o meu pai chamá-lo de Tropeço, depois desse dia. 







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terça-feira, 7 de julho de 2015

Artigo- Na Mesma Balança

Eric do Vale


Ao passo que a nossa Constituição concede a todos nós, brasileiros, o direito de expressarmos as nossas opiniões, esse mesmo documento também preza pelo repúdio de todo e qualquer ato considerado racista. Além de paradoxal, esse assunto compreende tamanha complexidade levando-nos a fazer a seguinte pergunta:  todo pensamento, quando apresentado, pode ser considerado como preconceituoso?
É difícil de responder, pois não há um critério especifico para diferenciar uma coisa da outra.  Sem falar que, atualmente, a justiça brasileira encontra-se bastante férrea em relação a essa temática.
Mesmo assim, é importante debater esse assunto para evitar certas distorções, como aconteceu, certa vez, com um professor que, durante a aula, manifestou-se contrário as cotas de alunos negros nas universidades e a união civil de pessoas do mesmo sexo. Embora os argumentos dele possuíssem tamanha coerência, os alunos, imediatamente, atritaram com ele, taxando-o de preconceituoso. Em razão disso, o professor levou uma advertência da direção.
                 Outo exemplo: ao recusar colocar a bandeira do movimento LGBT, no perfil de uma rede social, alegando não ter nenhum interesse de aderir a tal causa, um cidadão terminou sendo taxado de homofóbico pelos seus próprios amigos.
                Não resta a menor dúvida de que a justiça tem demonstrado eficiência no combate à discriminação, permitindo com que a sociedade procure rever certos conceitos. No entanto, tal medida acarretou em terrorismo, possibilitando com que todo ponto de vista, quando externado, fosse deturpado.
E assim sendo, é preciso termos o bom censo para compreendermos o seguinte: a liberdade de expressão é um direito que nos é oferecido, assim como o respeito ao próximo tem como a exerce o papel de dever cívico.  





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sábado, 4 de julho de 2015

Conto- *Inquérito

Eric do Vale

Fazia bastante tempo que Hugo investigava uma série de assassinatos em que as vítimas eram mulheres, na maioria prostitutas. No momento em que ele saia de sua sala, foi abordado por Neves:
- Alguma novidade a respeito do caso que está investigando?
-Nada, a não ser que já são oito o número de vítimas.
-Importa-se de auxiliá-lo?
-De maneira alguma.  
-Começarei, agora.
-Fico muito grato.
Despediu-se de Neves e foi embora. No outro dia, o delegado mandou chama-lo e disse:
-Dê por encerrado o caso que você investigava.
-Por que?
-Esta manhã, uma prostituta foi encontrada morta, no quartinho em que morava. Ao lado dela, foi também encontrado morto, com um tiro na cabeça, o suposto assassino. Estima-se que ele tenha cometido suicídio e advinha quem era?
-Não faço ideia.
-O detetive Neves.
-Ele era o assassino?
-Acredita-se que sim, pois a arma encontrada junto aos corpos estava em nome dele.
-Nesse momento, entrou um policial que falou:
-Com licença, delegado. A perícia informou que as digitais do Neves não correspondem com as da arma.
O delegado agradeceu a informação e falou para Hugo
-Retire o que eu disse, o caso ainda é seu.
Hugo agradeceu, saiu da sala e foi para a casa, onde, minutos depois, ouviu-se um estampido. Preocupados, os vizinhos arrombaram a porta e o encontraram morto com um tiro no coração. Ao lado do corpo, havia uma placa escrita: “Caso Encerrado”.

*Primeiro lugar no Concurso de contos do Colégio Santo Inácio, 2001.




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Conto- *O Presente de Aniversário

Eric do Vale

Pedro estava insatisfeito, pois, naquela segunda-feira, não havia aparecido nenhum freguês na relojoaria dele até que, no final da tarde, uma mulher de vestido azul-claro o procurou:
- Boa tarde, o que deseja? _ Perguntou Pedro.
-Boa Tarde. Eu gostaria de comprar aquele relógio de ouro, quanto custa?
-Oitenta.
Ela o pagou e fez a seguinte pergunta:
-  É possível entrega-lo na minha casa, amanhã?
-Sim. É possível, sim.
-Visto que amanhã é o aniversário do meu marido, quero fazer-lhe uma surpresa.
Após informar-lhe o endereço da residência, despediu-se e foi embora. No dia seguinte, Pedro deixou o seu ajudante tomando conta da loja e dirigiu-se a casa do aniversariante. Lá chegando, bateu na porta e foi atendido por um homem:
-Boa tarde, eu gostaria de falar com o seu Fernando. _ Falou Pedro.
-Sou eu, entre.
-A sua esposa pediu-me para que entregasse ao senhor este presente.
-Desculpe-me, não tenho esposa, sou viúvo. A minha mulher morreu, há doze anos. _ Apontando para o retrato dela.
- Foi ela mesma quem apareceu na minha loja.
-Vá até o cemitério que fica aqui perto e verá que não estou mentindo.
Pedro desculpou-se, despediu-se e seguiu o conselho dele, indo ao cemitério. Olhando tumulo por tumulo, deparou-se com a sepultura dela e para surpresa maior, percebeu que Fernando também jazia lá.    

*Primeiro lugar no Concurso de Contos no Colégio Santo Inácio, em 2000.







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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Conto- Até Mais

Eric do Vale

“E antes que eu esqueça aonde estou
Antes que eu esqueça aonde estou
Aonde estou com a cabeça?
(Domingo: Toni Belloto & Sérgio Brito)

Se não estou enganado, a última aparição pública dele foi em 1994, durante os funerais de Richard Nixon. Meses depois, anunciou a sua condição de portador da síndrome Alzheimer. Ao ser informado que o estado de saúde do Ronald Reagan havia se agravado, restando-lhe uma semana de vida, corri para o computador e comecei a transcrever um artigo sobre ele para a revista, onde trabalho. Fiz as devidas correções, assim que terminei de redigir, até me certificar de que estava tudo correto.
Eu já estava prevendo: o Reagan vestiria o paletó de madeira e antes que o editor da redação, como de costume, exigisse um texto sobre tal fato, ele o receberia, em seu e-mail. Tomei um banho gelado, liguei a televisão e quando foi noticiado o falecimento dele, pensei: “Quero só ver a cara do meu editor”. Logo em seguida, tocou o telefone e fui atender pensando que fosse ele:
-Alô. _ Falei.
-Afonso.
 -Oi Taís, tudo bem?
-Sim, o que está fazendo?
-Nada. E você?
-Idem.
-Podemos nos ver, hoje?
 Afonso, eu estava aqui pensando sobre nós e queria te dizer...
- Sim.
-Ultimamente, nós dois... Você sabe. Queria dizer...
-Para terminarmos.
- Isso.
Fazia algum tempo que Taís comportava-se de maneira estranha comigo e desconfiei de que houvesse outro homem na jogada. Concordei com ela, mas combinamos de, no próximo domingo, nos encontrarmos em uma pizzaria para lavarmos toda a roupa suja.
Na segunda-feira, o meu editor cobriu-me de elogios:
 - Afonso, você marcou um gol de placa, desta vez! Gosto de gente assim, com atitude. Se continuar desse jeito, você irá muito longe.
No domingo, cheguei para almoçar na casa da minha tia e a encontrei discutindo com a filha dela, pois essa, há pouco tempo, havia saído do armário.
-Quem é a senhora para me dar lição de moral? _Disse a minha prima. – Mamãe, a senhora sempre se fez de santa, no entanto é a mais safada de todo mundo da família.
A minha tia não se conteve e deu-lhe uma bolacha. Então, a minha prima abriu o verbo:
-É verdade mesmo, a senhora sempre traiu o papai e não foi com um outro homem coisa nenhuma, mas com uma mulher. E não adianta dizer que estou inventando, porque eu mesma vi você e aquela sua amiga, a Julia, várias vezes juntas.
Aquilo me fez lembrar de um livro que, durante a semana, eu estava lendo:   Teatro Completo de Nelson Rodrigues. Como o clima estava carregado, voltei para a minha casa e tirei um cochilo. Quando acordei, tomei um banho e liguei para a Taís avisando que já estava de saída. Logo que cheguei, eu a vi sentada e me dirigi até ela.
Conversamos bastante e Taís me contou que ainda não havia superado a decepção amorosa que sofreu, no passado. Depois de três anos de namoro, ela descobriu que o namorado estava tendo um caso justamente com a melhor amiga dela. Mudamos o foco da conversa, bebemos um pouco e perto de irmos embora, dei um abraço nela. Mirei na boca dela e dei-lhe um beijo. Taís correspondeu e saímos de mãos dadas em direção aos nossos carros e ela me perguntou:
-O que vai fazer, agora?
-Vou para a casa.
-E vai fazer o quê? 
-Nada, por quê?
-Também não tenho nada para fazer.
-Quer ir lá em casa?
- Sim.





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