domingo, 8 de junho de 2014

Conto- Síndrome de Greta Garbo

Eric do Vale



Era um advogado atuando ou um ator advogando? O tempo todo me fiz essa pergunta, quando o vi entrar em cena e magnetizar a plateia daquele tribunal com a sua retórica e os seus olhos verdes. Mesmo beirando meio século de vida, conservava certo valor estético. Havíamos, diversas vezes, nos encontrado pelos corredores do fórum, mas não me lembro de termos trocado algum comprimento. Creio que isso nunca aconteceu e tinha a convicção de conhecê-lo de algum lugar, mas de onde? Da faculdade não poderia ser e do colégio, tão pouco. Ele era muito mais velho do que eu. Um dia, quando vi, perguntei a um colega meu:
-Quem é ele?
-Você não sabe? É o doutor Luís.
-Luís de quê?
- Luís Varela.
O nome não me ajudou muito, por isso acessei o Google e descobri que era um advogado muito conceituado com mais de dez anos de atuação, porém aquilo para mim não era o suficiente. Esse também era o nome de um famoso ator do qual eu tinha uma vaga lembrança. Considerado um galã da sua época, Luís Varela fazia sucesso no teatro, cinema, televisão e, especialmente, com as mulheres. Era de dar inveja a qualquer D. Juan. Eu tinha uma prima que era apaixonada por ele e dizia aos quatro ventos que, um dia, se tornaria esposa dele e de mais ninguém. Atualmente, essa minha prima encontra-se na sua terceira relação conjugal. Como a minha mãe é uma noveleira de carteirinha, perguntei se ela se lembrava desse ator, que me respondeu:
-Claro, ele tinha uns olhos verdes e era muito bonito! Nunca mais ele fez novela, não sei por quê? Ele era muito talentoso!
Muito se especulou sobre isso, houve quem dissesse que ele estava com síndrome do pânico ou depressão. Acreditou-se até que já estivesse morto, há bastante tempo. A minha prima que diga, assim que perguntei se ela se lembrava dele, ouvi a seguinte resposta:
-Esse cara já não deve nem mais ter osso.  
Um jornal, certa vez, noticiou que ele havia cometido suicídio, ao descobrir que era portador de uma doença terminal. Luís Varela, então, divulgou uma nota desmentindo o boato e falou que estava, atualmente, vivendo no Mato Grosso e a sua saúde, assim como a sua vida, “iam muito bem, obrigado”. O que leva alguém, de uma hora para outra, a abandonar uma ascendente carreira artística, a ponto de se estabelecer nesse confim de mundo? Impossível de compreender, na mesma proporção que se torna curioso. 
Agora, estávamos ali, naquele tribunal, e em lados opostos apresentando os nossos pontos de vista. Não era de hoje que eu já tinha ouvido falar dos feitos de Luís Varela no campo jurídico. Quando peguei a causa, logo fui informado de que ele seria o meu oponente: Os meus colegas não perderam a oportunidade para me advertirem:
-Você vai enfrentar uma parada dura. Acho bom se preparar.
Tão certo como dois mais dois são quatro, mas eu não deixei me intimidar. Pode-se dizer que foi uma briga de titãs tal e qual Mike Tyson e Evander Holyfield até que as duas partes resolveram entrar em um consenso. Foi melhor assim. Logo que o juiz bateu o martelo, dirigi-me até Luís Varela e lhe dei a mão, parabenizando pelo êxito. Esse, por sua vez, retribuiu e me perguntou:
-O que vai fazer, agora?
-Agora?
-Sim, gostaria de saber se, por acaso, você está com o tempo livre?
-Estou sim, por quê?
-Gostaria de lhe pagar um drink, você aceita?



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