terça-feira, 10 de março de 2015

Conto- Em Campo Minado

Eric do Vale


A última coisa que todos, naquela casa, queriam era vê-lo zangado, por isso andavam na linha em clima de terror. Sabendo que uma de suas filhas engravidara de um homem casado, não hesitou em colocá-la para fora de casa, porém voltou atrás graças à esposa que o convenceu de se procurar uma clínica e dar o assunto por encerrado. Era o que realmente aconteceria, se a história não se repetisse: dessa vez, de um outro homem, também casado. Sabendo que o Turco não daria segunda chance e que, cedo ou tarde, a bomba iria estourar, a mulher teve a ideia de acionar toda a família e marcou uma reunião para o domingo. Lá estavam todos presentes, antes do almoço ser servido. Depois da sobremesa, marcou-se uma partida de dominó. Dentre uma conversa e outra, o Turco foi direto ao assunto:
-O que é que vocês estão me escondendo?
Todos procuraram disfarçar, mas ele insistiu:
-Eu lhes fiz uma pergunta.
Ninguém disse nada e o Turco levantou-se jogando as pedras do dominó e falou:
-Vocês estão pensando que eu sou burro?
Diante daquela intimidação, o pessoal, aos poucos, foi relatando a real situação de sua filha. Num impulso, ele esmurrou a mesa, levantou-se e brandiu:
-Eu sabia! Eu sabia! Estava demorando! Eu tinha certeza de que, há dia ou menos dia, aquela cabeça de vento iria aprontar. E sabe de quem é a culpa? _ É sua, gritou colocando o dedo na face da esposa.
-Isso é coisa que se diga para a sua mulher? _ Esbravejou Menelau que se levantou da mesa caminhando em direção ao Turco. - Em uma situação como essa, não há como culpar terceiros ou quartos. É preciso encarar um problema de frente. Isso que o senhor está fazendo não é uma postura digna de um chefe de família.
Todos ficaram boquiabertos com o posicionamento de Menelau. Ele que quase nunca colocava os pés naquele recinto e que sempre foi muito flexivo, mesmo sendo um coronel do exército. Ainda mais, enfrentando logo quem? O Turco, por sua vez, não se deixou intimidar:
-O senhor, seu Menelau, pode cantar de galo no seu quartel para os seus soldados, mas na minha casa mando eu! _ Disse, esmurrando a mesa.
Menelau levantou-se, repetiu o gesto do Turco e caminhou em direção a ele.  A sala estava prestes a ser convertida em um ringue de esgrima: a cimitarra do Turco versus a espada do coronel Menelau. No quarto, as crianças não paravam de cochichar
-Papai tá brigando com o tio Menelau.
Ver de perto o circo pegando fogo era o desejo da garotada, mas só ficaram na vontade, pois sabiam que, se isso acontecesse, sobraria para eles. As farpas não cessaram até que o Turco ordenou que o coronel se retirasse de sua casa. Visto que Menelau não deu o braço a torcer, ele abriu a porta e perguntou:
- Eu estou falando grego? Rua! _ Apontando para o lado de fora.
 Todos, ali presentes, aconselharam Menelau a obedecer-lhe na condição de acompanhá-lo. Assim e o velho militar terminou cedendo. Para ter certeza de que todos tinham batido em retirada, o Turco os seguiu. Ele estava convicto de ter vencido aquela batalha, quando avistou Menelau parando, dando meia volta e marchando rumo à casa dele. Sem perder tempo, o Turco trancou o portão e sentou-se em uma cadeira que ficava na varanda, esperando o ataque do inimigo. Menelau não se deu por vencido e resolveu pular o muro. Tal gesto renderia- lhe uma medalha por bravura, se não houvesse um detalhe de suma importância: há muito tempo que a laje ameaçava desmoronar. O Turco acompanhou tudo sentado e ao vê-lo estirado no chão com os destroços sobre os peitos, levantou-se e disse:
- Bem feito.
E entrou para a casa, enquanto todos socorriam o militar agonizante.




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