Eric
do Vale
Seu Oswaldo insistia em dizer que
estava errado e ela rebatia:
-Nada disso, seu Oswaldo. Está tudo
certo.
-Não tem nada certo! Eu quero o meu
dinheiro, agora!
Ele alterava a voz, à medida que ela o
contrariava. Percebendo, através de uma janela de vidro, todo aquele
burburinho, Boris saiu da sala e perguntou:
-O que está acontecendo?
-Estou dizendo que não tem nada de
errado, mas ele insiste afirmar o contrário.
_ Respondeu ela.
Boris caminhou em direção dela, tomou o
papel de sua mão e o deu a seu Oswaldo, dizendo:
-Resolva a sua bronca e não traga
problemas pra cá.
Imediatamente, Seu Oswaldo colocou o
rabinho entre as pernas e foi embora. Dias depois, foi informado pela gerente
de que seu Oswaldo, de novo, estava criando caso, Boris falou:
-Da próxima vez, peça para ele vir
falar comigo.
A gerente sabia que se isso
acontecesse, seria caixão e vela preta. Boris era quem dava as cartas naquela
empresa. Além do mais, ele não ia nem um pouco com a cara de seu
Oswaldo. Melhor dizendo, Boris não gostava de ninguém, e os colaboradores
muitos menos se sentiam à vontade com a sua presença.
Conta-se que, uma vez, ele estava tão alterado,
que pegou o celular de um dos colaboradores e o jogou no chão, mas ninguém, nem
mesmo o proprietário do aparelho, se atreveu a dizer nada. Abismado, ao ouvir
tal história, um dos colaboradores falou:
-Não sabia que o Boris era tão bravo
assim!
-Nem pense em testar a paciência dele.
Perto do final do mês, Boris dirigiu-se
à mesa de Silvério para saber se esse já havia depositado o salário dos
colaboradores:
-Ainda não. _ Respondeu Silvério
-Ainda não? Puta que o pariu! Por que
você não depositou essa porra no banco, como eu mandei?_ Alterando a voz. - Vem
cá, você é pago pra quê? Para ficar com a bunda colada na cadeira? Não sabe que
isso tem que ser feito já.
-No momento, existem outras
prioridades...
-E eu lá quero saber de porra de
prioridades? E por que você ainda está sentado aí?
Silvério levantou-se e foi saindo sem
levar a pasta de dinheiro, Boris falou:
- Ô imbecil! Não vai depositar o
dinheiro, como eu te mandei?
Silvério nem respondeu, deixando-o mais
aborrecido:
-Onde
é que você vai? _ Perguntou Boris, seguindo-o.
Anestesiados, ninguém acreditava no que
estavam presenciando e todo mundo, intimamente, exclamava: “O Silvério perdeu o
juízo! O Boris vai jantá-lo vivo!”. Era de se estranhar que Silvério, um homem
de uma distinção e serenidade única, portasse daquela maneira e justamente com
o Boris.
Na eminência de saber como aquilo
terminaria, todo mundo parou os afazeres para acompanhar os passos de
Boris até o estacionamento, onde testemunharam Silvério entrando no seu carro e
indo embora. Desmoralizado e com o orgulho ferido, Boris esbravejou para os
seus subordinados:
-O que é que vocês estão olhando? Vamos
trabalhar, agora!
Os colaboradores sabiam que ele não
deixaria barato e, certamente, descontaria sua raiva em cima deles. Por isso,
todo mundo retomou os afazeres pisando em ovos. Horas depois, Silvério atendeu
o telefone e disparou, antes que Boris dissesse qualquer coisa:
-Se quiserem me demitir, vão em frente.
É um grande favor que me fazem, pois vou me aposentar, daqui há um mês. Mas, é
bom que saibam que eu nunca aceitei desaforo de ninguém, nem mesmo de chefe.
Ninguém comentou sobre o ocorrido, de
três dias atrás, e o seu lugar vago era observado com certo ar de contemplação.
Todos sabiam que, depois do que aconteceu, Silvério não voltaria. E mesmo que o
fizesse, seria um homem morto, no entanto todos ficaram boquiabertos, quando o
viram chegar. A priori, pensaram que ele estava ali para pegar as suas coisas
até que ele se sentou, dando continuidade a seus serviços.
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