Eric do Vale
É batata chamar pelo Vitório, sempre que chego. Mesmo quando isso não
acontece, lá vem ele para receber um carinho e se esparramar todo no chão. Oh
bicho dengoso! Chamo por ele:
-Vitório!Vitório!
Ele não vem, insisto mais duas vezes e nada. Procuro nos cômodos até me
convencer de que ele, provavelmente, está no telhado, significando de que só
voltará, quando o dia raiar. Porém, no dia seguinte, ele não voltou, a farra
deve ter sido grande!Mas ele vai ver só!Quando chegar, vamos ter uma longa
conversinha, já chega! Enquanto eu dou um duro danado, o Vitório
passa o dia comendo e dormindo para, de noite, vadiar e fazer serenata para as
suas gatinhas. Volto para a casa, chamo por ele e nada. Esse malandro deve
estar dormindo. Procuro pelos cômodos, mas não o vejo. Insisto na busca,
faltando virar o apartamento de ponta cabeça, e nada dele. Ah Vitório, onde foi
que você se meteu?Não deixo de fazer essa pergunta, desde dia em que, sem mais
nem menos, ele sumiu aqui de casa sem deixar vestígios.
Como eu disse, ele deve ter saído pelo telhado, porém há uma segunda
hipótese: o Vitório viu a porta aberta e resolveu ganhar o mundo, pois, quando
filhote, ele chegou a fazer isso, mas graças a Deus um homem muito honesto o
viu perambular pelas ruas, pegou-o e foi procurar o seu dono. Mas, é difícil
saber, agora, o que realmente aconteceu. Seria muito fácil afirmar que a culpa
foi da empregada, pois ela foi à única pessoa que estava aqui em casa, antes
dele sumir misteriosamente. Seria muito fácil responsabilizarmos ela pelo
sumiço dele, mas não seria justo acusar alguém assim sem nenhuma
prova. Quem sabe a minha mulher e eu também não tenhamos culpa no
cartório? Nós o deixamos muito a vontade. Sem falar que, talvez, um de
nós,quando fomos trabalhar, não tenhamos visto ele sair também. Eu
já não sei de mais nada.
Anoiteceu, e nada de ele voltar. Passaram-se dois, três dias até fazer
uma semana!Ah Vitório!O que é que você foi arranjar? Acordo, de madrugada, bebo
um copo d água e observo a janela, na esperança de vê-lo chegar. Os meus amigos
até se mobilizaram nas redes sociais, elaborando campanha: “Ajude a encontrar o
Vitório”. Mas, pelo jeito, é mais fácil achar uma agulha no palheiro. Bem que
eu gostaria de crer em uma coisa boa, no entanto, nessas alturas, esse malandro
deve ter fugido ou então... Subiu para o telhado e... Não quero nem
pensar!
Passados uns trinta dias, a minha mulher conversando com uma moça,
aqui do bairro, sobre o misterioso sumiço do nosso gato. Essa jovem, por sua
vez, disse que, há cinco dias, um gato havia chegado à residência, onde ela
trabalha, com as mesmas características do Vitório. Não é possível!Seria
coincidência demais!Nessas circunstâncias, a minha esposa foi bater nessa casa
a fim de tirar a duvida. Lá chegando, o viu muito magro, imundo e com os
arranhões no rosto. Atualmente, a dona da casa o havia adotado com o nome de
Haroldo. Assim que minha mulher o chamou por Vitório, ele pulou para o colo dela.
Eu estava dormindo, quando ela disse:
-Acorda, Germano. Veja só quem está aqui!
Estava completamente extasiado com aquela cena, quando minha mulher me
cutucou:
-Acorda, homem.
Levantei, tomei banho, troquei de roupa e fui tomar café pensando que já
estávamos há um mês sem o Vitório, como foi que isso ocorreu? E aquele sonho...
Por que minha mulher foi me acordar? Não conseguia pensar em mais
nada, quando vejo a minha mulher abrir a geladeira, pegar o leite, colocar no
pires e dizer:
-Aqui Vitório!
E lá vem ele, bebe tudo e se deita de pernas para o
ar.
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