quarta-feira, 1 de abril de 2015

Conto- Epílogo

Eric do Vale


Não conseguia entender
                                               e procurava afastar tal ideia-
                                                 falsa, anormal, mórbida-
                                                 valendo-se de outras sensatas e sadias.
                                                   Mas aquela ideia, ou melhor,
                                                   aquela realidade ,voltava
                                                    para enfrenta-lo.
(Leon Tosltoi: A Morte de Ivan Ilichi)

Estes quinze dias foram bastante carregados para a nossa família e sendo assim, peço a Deus para que não haja enterros e velórios, por um bom tempo! Voltávamos do culto, naquele domingo, e decidimos dar um pulo na casa do irmão do meu pai que, há pouco tempo, tinha recebido alta. O meu tio ficou muito feliz em nos ver e conversamos bastante. Quando nos despedimos, ele falou:
-Fiquem mais um pouco. 
Ninguém poderia imaginar que, 48 horas depois, o meu pai não mais estaria entre nós. Os meus irmãos, até agora, tentam encontrar uma resposta para isso, enquanto eu prefiro acreditar que essa tenha sido a vontade de Deus.
Quinze dias depois dessa visita, sai do hospital rumo à casa da minha irmã e lá fiquei, por algumas horas. Restava-nos, apenas, aguardar o derradeiro desfecho, pois o médico informou que não havia mais nada a fazer pelo marido de minha mãe. Não era de hoje que a saúde dele vinha definhando: preso a uma cama e impossibilitado de falar e andar, corríamos, a todo o instante, com ele para o hospital. 
Em contrapartida, o meu pai possuía uma saúde de ferro.   Um dia, o meu irmão e eu ficamos de apanhá-lo na casa da nossa irmã para comemorarmos o dia dos pais, quando o porteiro interfonou avisando que ele estava subindo. A priori, pensamos que a nossa irmã o havia deixado, no entanto fomos informados de que ele saiu da casa dela e tomou o ônibus sozinho. Era de se espantar que alguém beirando os noventa anos tivesse aquela disposição toda e estávamos convictos de que ele chegaria a essa idade. Se duvidasse, era capaz de completar um século de vida.
Quando jovem, julguei muito as atitudes dos meus pais, mas a maturidade permitiu com que eu revisse os meus conceitos e percebesse o quanto foi árdua a vida deles: casaram-se muito jovens, migraram para a capital com cinco filhos pequenos e com muito sacrifício, conseguiram educar a nós todos. Depois de muitos anos casados, decidiram se separar.
Sem pretender casar novamente, o meu pai foi morar com os filhos. Ora comigo, outra com os meus irmãos. Nada mais justo, pois essa era a forma de retribuirmos o que ele havia feito por nós.
Durante o velório do marido de minha mãe, pensei como foi muito penoso para ela cuidar, o tempo todo, dele e constatei que ela é uma mulher de muita fibra, pois, nesta vida, a minha mãe já suportou muita coisa até mesmo a perda de dois filhos.
No ano passado, estávamos no enterro de um parente nosso, quando o meu pai falou:
-Eu serei o próximo.
Logo o censuramos. Esse fato permeou em minha memória, assim que cheguei em casa, após o sepultamento do marido da minha mãe.
Após visitarmos o meu tio, o meu pai falou que era muito provável que, dentro em breve, não estivesse mais conosco. Obviamente, ninguém lhe deu ouvidos, então a minha filha falou:
-Vocês não estão prestando atenção no que o meu avô está dizendo!



Confiram hum page Minha los Recanto das Letras http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=136746


Caso me desejem adicionar nenhum facebock Meu, Acessem https://www.facebook.com/eric.dovale.3?ref=tn_tnmn

Acessem also hum fà página Fazer facebock: https://www.facebook.com/Vale1Conto

Nenhum comentário:

Postar um comentário