Não poderia deixar de perguntar pelo irmão dela, assim que nos vimos,
pois esse tinha sido meu amigo de infância.
-Ele está muito bem. _ Disse ela.
- E o que ele está fazendo da vida?
- Trabalha em uma xácara como caseiro.
Ele é muito inteligente, tem uma bela caligrafia!
Não entendi o porquê dela ter me dito aquilo. Eu devia ter uns dez ou onze anos de idade, quando
ela me viu escrevendo alguma coisa e disse:
- Sua letra continua igual.
Aquela resposta soou como um soco no estômago. Todo mundo me dizia que a
minha letra não era bonita, inclusive ela. Mesmo assim, não deixava aquilo me
abater e por isso, procurava aperfeiçoá-la sempre. Seria pura desonestidade de
minha parte dizer que não fiquei chateado, quando ouvi aquele comentário
Somente agora, depois de ter alcançado a maturidade, percebi o quanto
supervalorizei tal episódio, assim como entendi que ela não falou aquilo por
mal. Mas, a maneira como expressou o seu ponto de vista...
Os elogios tecidos por ela a respeito da bela caligrafia do irmão possibilitaram-me
pensar no seguinte: “Posso não ter uma boa caligrafia, mas possuo curso
universitário e já tenho uma posição definida, ao contrário de você e do seu
irmão.”. Aquelas palavras estavam atravessadas na minha garganta e não tinha
nada a perder, caso lhe dissesse aquilo. Mas, recuei. Por quê? Foi melhor
assim.
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