Eric do Vale
Desencadeou-se
um inexplicável sentimento, logo que me convenci a trocar de óculos. Comparado
aos demais, esses apresentaram maior longevidade, sete anos! Um devaneio?
Talvez. A sua “aposentadoria” simbolizou o epílogo dessa história, além do
desfecho daquela semana.
O ser
humano, segundo um psicanalista, é como Papai Noel, no sentido de haver a
necessidade de “esvaziar o saco”, após o acúmulo de experiências adquiridas ao
longo de sua existência.
Sabe
aquelas pessoas que possuem o “hábito” de elaborarem perguntas
desconcertantes? Decidi procurar uma
dessas figuras, porque já estava saturado de esquivar-me delas. Ponderei muito
sobre o modo de fazer a abordagem, mesmo convicto em colocar as cartas na mesa.
Fui ao seu
encontro, numa tarde de uma segunda-feira, e, depois dos cumprimentos, falei:
-Há uma
coisa de que eu estou curioso...
-Pode
perguntar.
Parti para
o ataque, visto que não tinha como recuar:
-Por que é
que, durante os nossos diálogos, você insiste em me fazer perguntas que só
interessam a mim?
Sem saber o
que responder, desculpou-se e prometeu não perguntar mais nada.
A minha
sensação, naquele momento, foi a de haver vencido uma briga sem me ter dado ao
trabalho de erguer o punho. Estou certo de que não serei mais importunado com
as suas “perguntas”.
No dia
seguinte, para a minha surpresa, revi alguém com quem não mantinha um vínculo,
desde o dia em que tivemos uma séria e boba discussão. Desconheço, até hoje, a
razão desse ocorrido.
Sei que fui
o causador e fiquei muito mal com isso, porque aconteceu com uma pessoa que
sempre quis o meu bem. Tal incidente, no entanto, permitiu com que eu revisse a
minha atitude para que, no futuro, pudesse me tornar uma pessoa mais flexível e
tolerante com o próximo.
Não era de
hoje que eu nutria a vontade de procurá-la a fim de dialogarmos e, se possível,
esclarecer esse entrevero. Arrisquei, embora estivesse receoso.
Duradoura
foi a conversa e entusiasmando, comentei:
- Não sabe
o quanto eu fico feliz de, agora, está aqui falando com você!
-É? Você
parece mais sereno!
Desabafei,
apesar de envergonhado:
- Foi um
grande tropeço, mas que me ensinou muito! Se pudesse voltar no tempo...
-Relaxa, já
passou!
Como foi tão bom ter ouvido
aquilo!
Final de expediente e
véspera de sexta-feira. Refleti muito
nestes êxitos por mim alcançados na mesma semana e, em menos de vinte e quatro
horas, quando enxuguei as lentes dos óculos.
Estava convicto de que
aquilo significava o início de um novo ciclo e não tive dúvida quando, sem mais
nem menos, a armação dos meus óculos se partiram ao meio na hora em que o
coloquei no rosto.
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