Eric do Vale
Em transe ficou doutor Navarro, após atender ao telefone. Desligou-o num rompante, assim que a esposa apareceu. Curiosa, ela indagou:
- Quem era?
- Engano.
Mal chegou no seu consultório, no
dia seguinte, perguntou a sua secretária:
-Alguém me procurou?
- Não, doutor.
-Ninguém?
- Ninguém.
- Ninguém mesmo?
- Só os seus pacientes...
- Fora eles?
- O doutor Cláudio, doutor
Julião...
- Além desses, ninguém mais?
-Não. Ninguém, por quê?
-Esquece.
Mesmo se fazendo de rogada, ela
achava esse comportamento esquisito. Tal pergunta era feita por ele a toda hora
e em qualquer lugar que fosse: no hospital militar, na escola de medicina e até
mesmo em casa. Isso já estava virando uma paranoia.
Em casa, certa
vez, quando a sua esposa foi atender ao telefone, doutor Navarro saiu do
escritório, tomou-o da mão dela e disse:
-É pra mim.
Desconcertado, tirou-o do ouvido
e entregou para a sua esposa:
-É pra você.
Acreditando que tudo aquilo era
fruto do excessivo trabalho, ela sugeriu-lhe tirar umas férias e viajar para
espairecer um pouco. Como um bom marido, doutor Navarro ouviu o seu conselho e
durante um mês viajaram para a Europa.
Quando voltou, ele era uma pessoa extremamente
leve. Tudo corria bem até que um dia, ele perguntou a sua secretária:
- Tem certeza de que ninguém veio
me procurar?
-Claro que sim, doutor.
Ele repetiu essa pergunta pouco
antes de ir embora, ao ponto dela perder a paciência:
-O senhor está duvidando da minha
competência, doutor Navarro?
-De jeito nenhum.
- Só hoje, o senhor me perguntou
isso umas cinco vezes! Fora os outros dias!
Ele desculpou-se e prometeu não
mais importuná-la com aquela pergunta. Quando chegou em casa, tomou um banho,
foi jantar e não balbuciou nenhuma palavra. Assim que todos foram dormir, o
telefone tocou. Doutor Navarro foi até o gabinete e atendeu:
- Alô
-Doutor Navarro!
-Você?
-Doutor Navarro...
Colocou telefone sobre a escrivaninha,
levantou-se e voltou a se sentar, mas não o pôs novamente no ouvido. Um
estampido rompeu o silêncio daquela madrugada, despertando a todos. Doutor
Navarro estava com o rosto sobre a mesa numa enorme poça de sangue. O telefone encontrava-se
fora do gancho e ainda era possível ouvir uma voz do outro lado da linha. A
empregada pegou o telefone e falou:
- Alô.
-Doutor Navarro, doutor Navarro!
-Quem é?
Ouviu-se um som de uma pancada
seguido do ”tum tum tum”.
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Misterioso... Faz pensar!
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