quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Páginas Policiais- Capítulo 3


            - Doutor Adailton, somente o senhor e a sua falecida esposa sabem exatamente o que aconteceu, ontem. - Falou o delegado.- Portanto, é fundamental que o senhor torne as coisas mais fáceis.
            - Como assim? O que é que o senhor está insinuando? Eu não matei minha mulher!
            -Eu não falei isso, apenas estou aconselhando-o a dizer exatamente o que aconteceu, só isso.
            -Eu já disse tudo.
            -Está bem, mas fique sabendo que as investigações vão continuar e dependendo de como tudo acontecer, o senhor será chamado para depor, novamente.
Nua e crivada de balas, essa foi à dantesca imagem de sua mulher, levando-o jogar a arma no chão. A polícia foi acionada pelo próprio Adaíton, que chegou acompanhada de alguns jornalistas, dos quais faziam parte Zeca e João Grande.
 Adaílton Jardim, um homem alto, magro e calvo, vestindo um terno azul marinho, e com a aparência de ter mais de quarenta anos, porém bem conservado. Deixou a sala do delegado, após interrogatório, e evitou falar com os jornalistas.
Antes de voltarem ao jornal, João Grande e Zeca perguntaram a um dos detetives se havia alguma possibilidade do crime não ter sido passional e esse respondeu:
            -Acho pouco provável. Por mais que o marido negue, todo mundo sabe que ele é corno.
            -Convenhamos, quem é que gostaria de se expor assim e nessas condições?
            -É complicado! Eu diria que essa é a situação mais difícil para qualquer ser humano. Por isso, trabalhamos na hipótese de ter sido crime passional, mesmo que o marido diga que não. Ele era a única pessoa presente naquela casa, além da esposa dele.
Adaílton avisou a Solange que viajaria para Brasília a fim de tratar de alguns assuntos, mas antes daria um pulo em Belo Horizonte, alegando visitar a mãe dele. Ela não ligou muito, aliás Solange, ultimamente,  vinha se mantendo alheia a ele. Raramente dialogavam e quando isso ocorria, culminava em discussões. Os motivos eram os mais banais: fosse o excesso de trabalho dele, a ausência dela em alguns eventos. O casal só se encontrava na hora do café da manhã e do jantar, mesmo assim não se cumprimentavam nem mesmo com um “Olá”, um “Bom dia” ou “Boa Noite”.
Ao agradecer as informações, João Grande e Zeca voltaram para a redação, o editor-chefe afirmou que esse crime deveria estar destacado na primeira página do dia seguinte. Logo que o editor voltou para a sua sala, Zeca diz para João Grande:
-Engraçado, como um assassinato de uma socialite ganha mais destaque, enquanto uma garota de programa que também foi assassinada...
-Bem vindo ao mundo.
-Sabe de uma coisa, eu fico aqui me perguntando: como é que o doutor Adailton Martins foi se envolver nisso?
Solange nem fez questão de deixar o marido no aeroporto, inventou uma desculpa e ele pegou um taxi. Não era de hoje que ele suspeitava do comportamento misterioso de sua mulher. Mentiras e contradições fizeram-no crer piamente de que ela tivesse algum amante. Além do mais, Solange nunca foi de rejeitar sexo e ela, ultimamente, vinha manifestando certa aversão sexual a pessoa dele. Adaílton logo cogitou contratar um detetive particular para seguí-la, porém achou sensato não fazer isso, pois acreditava que tudo aquilo não passaria de uma breve turbulência atravessada por qualquer casal.
Avistou o carro de sua esposa estacionado, pegou o seu revólver e entrou na casa. Caminhou a passos leves para se certificar de que não havia ninguém naquela casa.  Subiu devagar as escadas e andou em direção ao seu quarto, percebendo a porta do banheiro aberta e som do chuveiro, Adaílton resolveu entrar.
Zeca e João Grande fizeram a alusão da morte de Solange com a cena do filme Psicose. Nesse mesmo dia, os dois jornalistas foram informados por uma colunista social, funcionária do mesmo periódico que eles, ter conhecido a vitima.  Após uma breve carreira de modelo tornou-se atriz até conhecer o doutor Adaílton Jardim e como ele se casar. De atriz, ela passou a ser socialite, frequentando as festas, os points mais badalados da cidade e aparecendo nas colunas sociais, fosse acompanhada do seu marido ou não. Impossível dela não ser notada: corpo bem feito, pele alva, cabelos lisos pretos e com aqueles olhos verdes, Solange Jardim era o objeto de desejo para qualquer homem. Não era a toa que o doutor Adaílton, nos últimos tempos, desconfiasse de sua esposa.
Solange mal havia sido sepultada, Adaílton logo compareceu a delegacia para prestar depoimento. Abatido com os últimos acontecimentos, sequer tinha pego no sono.Chegou de óculos escuros, tirando-os apenas, quando foi falar com o delegado:
            -Desculpe o jeito, doutor Adaílton, mas o meu dever é interrogar, você sabe?Se o senhor tivesse tido mais sorte, qual seria a sua reação?
            -Onde o senhor pretende chegar?
            - Ao saber que a sua esposa tinha ido para a casa de praia, o que foi que o senhor fez?
            -Imediatamente, eu me dirigi para lá.
            -E por que não avisou a ela que estava indo para lá?
            -Por que eu queria fazer uma surpresa.
            -Indo armado?
-Assim como o senhor, eu também sou um homem visado. Várias vezes fui ameaçado de morte, cheguei até sofrer dois atentados.
-A sua arma foi encontrada no banheiro, ela tinha as suas digitais e as balas que a vitimaram era do mesmo calibre desse seu revólver.
A viagem para Brasília foi um pretexto. Desconfiado da esposa, ele queria ver com os seus próprios olhos aquilo que, inconscientemente, gostaria de não acreditar. Algumas vezes, ele viu Solange falar pelo celular com alguém de forma muito suspeita. Sempre que chegava em casa, ela desligava o telefone de uma vez. Houve ocasiões, de ela atender as ligações de seu celular, altas horas da noite. Adaílton fingia estar dormindo e, na surdina, observava os seus diálogos que não podiam ser muito nítidos. Tipo: “Agora não dá, nos falamos depois.” ou: “O que você está fazendo, ligando a essa hora? Já não te disse que amanhã a gente conversa?”. E desligava o telefone, olhando para os lados na eminência de que ninguém estivesse por perto.
Zeca questionou o motivo pelo qual João Grande expressava a tese de que armaram para cima do juiz. Esse alegou que o conhecia, há muito tempo, e que toda a cúpula do crime organizado queria a cabeça dela.
Segundo João Grande, a morte da mulher dele poderia ter alguma ligação com o pessoal do crime organizado. Provavelmente, alguém resolveu vingar-se de forma indireta. Zeca concordou, mas contestou o fato de Adaílton ter sido apontado como o principal suspeito:
-É evidente que fizeram isso para se vingar dele. -Disse João Grande-  Zeca, ele sempre foi um homem integro, acompanhei várias vezes os julgamentos aos quais ele conduziu  com maestria, condenando bicheiros, traficantes, banda podre da polícia e sem lá mais quem.Ele já sofreu dois atentados, mas não morreu. Chegou a ser transferido de estados. Ele é um homem ao qual todos disputam a sua cabeça e o seu fígado.
-Não se pode ser bom num mundo corrompido.
-O Adaílton era cotado para ser um dos ministros do Supremo Tribunal Federal, você sabe o que é isso?De repente, a coisa vira de lado. Não sei, mas acho bom você focar também nesse fato, Zeca. Você não diz que sonha em fazer uma puta de uma matéria? A oportunidade chegou, agarre-a com unhas e dentes!
- Mas ainda não se sabe. Você, João Grande, só tem essa suposição.
-Aprendeu rápido, garoto!
Quando o seu marido viajou, Solange comunicou à empregada que estava de saída para a casa de praia e disse que voltava, talvez, em dois dias. Uma hora depois, Adaílton regressou e perguntou por ela e foi avisado:
-Dona Solange disse que foi para a casa de praia.
Naquela altura, a imprensa marrom já tinha tripudiado da imagem dele. Um jornal popular noticiou: “Juiz corno tenta lavar a honra com sangue, mas dá viagem perdida”. Sem falar que alguns órgãos de imprensa faziam questão de apontá-lo como o suspeito numero um.
João Grande comentou como o destino costuma pregar peças: ele um homem integro, agora passava a ser o vilão do momento. Logo ele que tem o dom de julgar, agora era julgado e, talvez, injustamente condenado por toda aquela sociedade   
Assim que a sua empregada comunicou que a sua esposa tinha ido para a casa de praia, Adaílton foi até o escritório, pegou o seu revólver e foi embora, dizendo:
-Não tenho hora para voltar. Pode ir, quando terminar o serviço.
Antes de ligar o carro, telefonou para o caseiro: 
-Tonhão, a minha esposa já chegou?
-Sim, seu Adaílton. Quer falar com ela?
-Não, obrigado. Eu estou indo pra aí.
- Ela me dispensou, por hoje.
-Fica traqnuilo, mas, por favor, não diga nada a ela que eu estou indo pra aí.

  Dias depois, Zeca conseguiu um furo de reportagem: o exame de balística comprovou que os tiros aos quais mataram a socialite não saíram da arma do marido dela. 


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