quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Páginas Policiais -Capítulo 6

Um homem calvo, gordo, pele clara e de olhos azuis, trajando um terno preto entrou:
-Pois não? - Disse o delegando.
-Tenho uma informação que certamente vocês vão gostar de saber.
-Do que se trata?
-Desse juiz aí que está sendo acusado de matar a esposa.
Assim que o policial informou-lhe os últimos acontecimentos sobre o caso Solange Jardim, Zeca ficou impressionado com a postura daquele homem. Quando cobria a morte de Glórinha, aquele recepcionista criou vários empecilhos e borrou-se todo, assim que Zeca identificou-se como jornalista. Agora, passado quase um mês, aquele mesmo homem tinha ido espontaneamente à delegacia para dizer que viu o doutor Adaílton Jardim no hotel, onde trabalha, e levando a Glórinha a força para o seu carro.
Isso foi mais uma prova que Zeca teve de como o ser humano pode mudar suas convicções, uma vez que haja inversão de valor.    
Aquela revelação deixou o delegado perplexo, mesmo assim ele o intimidou:
-O senhor tem convicção no que está dizendo?
-Claro que sim, delegado.
-Veja bem, isso que o senhor me contou é muito sério. Espero que esteja falando a verdade, do contrário as coisas podem se complicar para o seu lado.
-Delegado, por essa luz que me ilumina, eu juro que estou dizendo a verdade.
-Não jure, pois jurar é pecado. Sem falar que mentir também é pecado e ainda mais para a policia, pois o senhor deve saber perfeitamente que falso testemunho é crime e dá cadeia.
-Deus me livre. - Fazendo o sinal da cruz.- brincar com uma coisa dessas, delegado!
Zeca procurou Kelly para saber se essa sabia do envolvimento que a sua amiga tivera com aquele juiz. Kelly admitiu saber e Zeca ficou zangado:
-Você sabia e não me disse nada?
-Zeca, como é que eu poderia suspeitar de que ele pudesse ter algum envolvimento na morte da Glória? Quando você me disse que um homem armado a levou força, pensei que fosse o Beretta.
-Você me falou do Beretta, daquele cantor que ela se encontrou nesse mesmo hotel, mas não me disse desse juiz!Com certeza, você sabia que ele era apaixonado por ela. Sabia?
            Adaílton Jardim estava diante do delegado, quando esse pediu para um policial trazer a “testemunha”. Assim que o homem calvo e gordo entrou, o delegado perguntou-lhe:
                        -Reconhece?
                        -É ele, delegado!Esse é o homem que vi saindo do hotel, levando a Glórinha a força.
Sem entender, Adaílton pediu uma explicação e o delegado respondeu-lhe:
            -Você conheceu uma moça cujo nome de guerra era Glórinha?
            Adaílton não respondeu e o delegado foi enérgico:
            - Conheceu ou não?  
A suíte daquele motel era o local onde ninguém desconfiaria do encontro entre Beretta e Solange que lhe falou:
-Agora, mais do que nunca, eu vou precisar de você, Beretta. Não é justo, agora, você me deixar na mão.
Ao saber que, há tempos, aquele juiz vinha arrastando asa para Glórinha, Beretta viu a oportunidade de arrancar uma boa grana dela. Mas, não imaginava que aquilo estava indo muito além de uma relação profissional, sem falar que, nos últimos tempos, ela vinha se impondo a sua pessoa:
-De hoje em diante, você vai explorar a puta que o pariu!-Falou ela.
-Como é que é?
-Isso mesmo. E não adianta me ameaçar. Esqueceu-se de que estou saindo com um juiz? Não me custa nada falar para ele sobre você. Principalmente, dando sua ficha para ele.
Irritado, Beretta deu-lhes uns tabefes. Glórinha o chamou de bosta e ele continuou a surrá-la até que um segurança da boate o agarrou pelo colarinho e levando-o para fora, enchendo-lhe de porrada. Kelly e as outras garotas vendo quilo, exigiram aos seguranças que aquele sujeito não deveria botar mais os pés ali.  Após seguir, várias vezes, Glórinha, ele descobriu que juiz o qual a levava para os lugares mais refinados, era um homem casado. Isso o fez pensar em mudar de estratégia.Por isso, ele resolveu procurar a esposa dele.
Kelly admitiu para Zeca que sabia disso sim, mas resolveu não lhe contar nada, porque a sua amiga já tinha dispensado esse juiz. E como ele não a procurou mais, resolveu descartá-lo da hipótese de ter assassinado a Glórinha. Zeca rebateu:
-Pensou errado.
E foi embora.
Adaílton confessou ter conhecido aquela moça, admitindo que foi cliente dela, mas garantiu que não a matou, nem ela e muito menos a sua esposa. O delegado perguntou:
-Então a informação desse homem procede?
-Procede. Eu fui ao hotel, onde a Glórinha estava para esclarecer algumas coisas.
-E foi armado?
-Como já disse em outros depoimentos, sou muito visado. Mas não foi minha intenção em querer matá-la.
 Beretta vinha observando o apartamento do doutor Adaílton, trocara algumas palavras com o porteiro e ficou sabendo que ele era casado com uma boasuda de nome Solange. Beretta quis saber quem era ela e o porteiro mostrou a foto dela num jornal. Ele esperou o momento oportuno para abordá-la. Nesse mesmo dia, o carro dela parou perto do portão e o porteiro foi entregar-lhe uma correspondência. Quando ela entrou, o porteiro falou para Beretta:
-É essa aí, a mulher do juiz.
-Muito bonita!
 -O doutor Adaílton é um homem sortudo, casar com um mulherão desses...!
Zeca chegou à delegacia e encontrou-se com João Grande, eles trocaram algumas informações e aguardaram os últimos acontecimentos, após o depoimento entre o juiz e a testemunha do hotel.
 Adaílton disse que foi procurar Glórinha, porque gostaria de saber razão pela qual ela o vinha evitando-o, há tempos. Ciente de que ali no hotel, ela novamente iria evitá-lo, agarrou-lhe pelo braço e a levou para o carro, mostrando-lhe a coronha da arma na cintura, disse: “Não me obrigue a fazer nenhuma besteira”. Os dois entraram no carro e começaram a conversar:
-Você é um homem bom, Adaílton, mas não é para mim.
-Eu pretendo tirar-lhe dessa vida.
-Sei muito bem que suas intenções são as melhores, mas nem tudo é conforme nós queremos. Sou grata por tudo o que tem feito por mim, só que eu não sou a mulher para você. Desculpe, nesses últimos tempos, eu não ter atendido as suas ligações. Precisava de um tempo pra lhe dizer isso, por isso que não atendia as suas ligações.
Adaílton ficou chateado, mesmo assim decidiu deixá-la em casa.
Já fazia dias que Beretta observava aquela casa e sabia perfeitamente s horários de saída do casal. Ali no seu carro, ele percebeu o veiculo de Solange saindo do prédio e resolveu segui-la. Ela estacionou o carro e foi até um prédio comercial. Beretta esperando-a de tocaia. Assim que ela abriu a porta do seu carro, ele a pegou pelo braço e disse:
-Queira me acompanhar. A propósito, estou armado.
Apavorada, ela fez o que ele pediu e entrou no carro dele. Beretta deu a partida e perguntou:
-Isso aqui não é nenhum sequestro. Eu só gostaria de alguns instantes de sua atenção e estou certo de que a senhora vai gostar, pois o assunto é do seu interesse. Gostaria de tomar alguma coisa? Não se preocupa, eu vou te devolver e você vai ver que nem será preciso abrir alguma queixa contra mim.
Intrigado com o depoimento do juiz, o delegado falou:
-Mas assim que o senhor a deixou em casa, ela veio a ser assassinada.
-Eu garanto que não fui eu.
-O senhor garante, mas esse é o segundo caso que o coloca em uma situação vulnerável, doutor Adaílton.
Num boteco, Beretta conta para Solange que o seu marido está a traindo com uma garota de programa. Ela recusa-se a acreditar e ele insistiu:
-A senhora confia tanto no seu marido?
-E o que isso lhe importa?
-Aparentemente, nada.
-Aparentemente?
- É uma longa história, mas o importante é que a senhora fique sabendo que o vosso marido, ultimamente, vem saindo com uma moça não muito confiável que só está interessada em arrancar dinheiro dele. Eu a conheço muito bem e digo mais, ela é uma vigarista que adora homens casados e com certo poder aquisitivo. Depois de satisfazer-lhes os desejos sexuais, ela os chantageia extorquindo dinheiro. Se a senhora tiver duvida, me procure. –Dando-lhe o numero do seu telefone que acabara de anotar num papelzinho.
Beretta a deixou de volta no lugar, onde havia “raptado- a” e acrescentou:
-Não te disse que a senhora poderia confiar em mim?
Solange voltou para a casa e pensou no que aquele homem com pinta de malandro lhe dissera. Há tempos, o seu marido vinha chegando tarde em casa. Acostumada pelo seu comportamento caxias, ela julgava que pudesse ter alguma coisa relacionada ao trabalho dele.Todavia, ela passou a desconfiar das saídas de Adaílton que passaram a ser constantes e ,muitas vezes, chegava em casa tarde da noite. Isso a fez telefonar para Beretta com a finalidade de adquirir provas concretas. Os dois arquitetaram um plano.
Assim que o seu marido saiu, de noite, ela disse para a empregada que iria visitar uma amiga. Solange pegou o seu carro, seguiu o seu marido e para evitar que ele desconfiasse de alguma coisa, para há um metro do apartamento, onde Beretta a esperava. Esse entrou no carro dela e os dois foram seguindo-o. Adaílton seguiu o seu percurso para uma localidade onde a sua esposa jamais imaginaria que ele pudesse freqüentar. Beretta pediu para que ela estacionasse há dois metros e Solange o obedeceu. Viram o carro de Adaílton parando em frente a porta da boate, onde uma moça com short curto, botas, blusa top e cabelos castanhos entrou no carro dele. Adaílton seguiu o seu percurso até um motel. Consternada com o que acabara de testemunhar, Solange voltou para a casa e agradeceu a Beretta, que falou:
-Se precisar de mim para mais alguma coisa, basta me procurar.
-Vou precisar sim, mas não agora.
Solange chegou ao apartamento, tomou um banho, chorou um pouco escondida e foi se deitar. A possibilidade de ter algum respeito pelo seu marido cessara a partir do momento em que ela o viu entrando no motel com aquela puta. Ela só pensava em manter o sangue frio para, aos poucos, dar inicio ao processo de separação. Nos últimos tempos, a relação deles já não ia muito bem e aquilo foi à prova de que estava mais do que na hora de dar fim naquele casamento de sete anos. Depois de ter visto o que viu, ela passou a tratá-lo de maneira fria. Falava-lhe apenas o essencial e não lhe dava tanta atenção.  
Visto que Solange descobriu o caso secreto do marido, Beretta viu a chance de colocar Glórinha contra a parede e resolveu procurá-la. Ligava para ela, que não atendia até que resolveu enviar-lhe um torpedo pelo celular: “Você se julga tão esperta? Saiba que agora estou por cima da carne seca.”; “Eu sei quem é o carinha que você tá saindo. Sei também que ele é casado.”; “Cuidado, eu posso jogar tudo no ventilador”. Essas mensagens fizeram-na marcar um encontro com ele para que pudessem conversar cm calma.
O dia e o local foram combinados e quando Beretta lhe telefonou para dizer que chegara, ela avisou que estava a caminho, mas não compareceu. Glórinha avisara a Adaílton sobre as ameaças que vinha sofrendo, esse conseguiu alguns dados sobre o ex-namorado dela através de contatos que tem com a polícia e bolou um plano para que ela marcasse um encontro com ele. Beretta a esperou confiante de que aquele trunfo na manga viraria o jogo, porém não contava com a presença de dois seguranças do juiz que, naquele momento, estariam ali lhe dando um ultimato.
Adaílton ficou furioso com o comentário do delegado e explodiu:
-Olha aqui, o senhor está abusando da sua autoridade. Desde que a minha mulher morreu, o senhor insiste em me colocar como  principal suspeito da morte dela.Agora, veio a tona essa lance da Glória e o senhor vem me dizer que eu estou em situação vulnerável.
-Doutor Adaílton, o senhor se comporte, se não serei obrigado a prendê-lo por desacato a autoridade.
-Desculpe, mas entenda a minha situação.
-Compreendo a sua situação e digo mais, não gostaria de estar na sua pele. Mas a verdade é essa: o senhor está em uma sinuca de bico. De um lado a sua esposa assassinada misteriosamente e, diga-se de passagem, encontrada morta pelo senhor. Do outro lado tem essa sua concubina que também foi assassinada e o senhor, por sinal, foi à única pessoa a ser visto com ela, quando a moça estava viva. Sem falar que nas duas situações o senhor estava armado. Sendo assim ,eu pergunto: quem mais, além do senhor, figuraria como o principal suspeito?
-O senhor tem razão, mas eu não matei ninguém.
-Eu não disse isso. São apenas suposições, indícios. Somente isso.
-Ah meu Deus, isso tudo parece um pesadelo!
-Suponhamos que o senhor não matou nenhuma das duas e que, nesse caso, o senhor foi uma vitima? O homem errado, no lugar errado e na hora errada.
-Com certeza, delegado. Certeza absoluta.
Nesse momento, um policial entra na sala e comunica ao delegado e avisa terem conseguido localizar a Lurdinha:
-E onde ela está?
-Aqui mesmo, na delegacia.
-Mande-a entrar, agora! 



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