sábado, 24 de outubro de 2015

Conto- Cizânia

Eric do Vale


Reparo que a mesa onde costumo me reunir, na hora do almoço, com os meus colegas encontra-se, em sentido figurado, ocupada. Como há apenas uma pessoa, não vejo problema de ir até lá e esperar pelos meus colegas que chegarão, dentro de alguns minutos. Mas, prefiro almoçar só do que dividir a mesa com ela.
Há mais de dois anos que estou nesse emprego e nunca trocamos uma palavra, nem mesmo um “olá”. Por quê? Digamos que o meu santo não bateu com o dela. Essa é a única explicação plausível que consigo encontrar.
  Quem sabe, não estou sendo intransigente? Sim, isso é possível. Ninguém tem obrigação de ir com a cara de alguém assim, de primeira. Levando em conta que é comum vê-la almoçando sozinha, penso em ir até lá e fazer companhia a ela, não custa tentar. Pra quê? Ela não vai me dizer nada e continuará me ignorando como sempre fez. E o que é que tem? Farei a mesma coisa, pronto.
Continuo comendo e a vejo se levantar. Intimamente, torço para que ela atravesse aquela porta. Ao sair, fico por mais alguns segundos sentando até, discretamente, me levantar e ir para a mesa onde ela estava.
Nesse momento, os meus colegas começam a chegar, de um por um. Ainda que pensasse em comentar com eles sobre esse assunto, achei melhor guardá-lo para mim. Termino o meu almoço, levanto-me e penso nisso estabelecendo uma espécie de mea-culpa: “Será que o problema não está comigo?”.
...

Ricardo encontra-se no setor pessoal convicto a pedir as contas, mesmo ciente de que perderá alguns benefícios.
- Se quiser, podemos transferi-lo para a nossa filial. _ Disse o funcionário do RH.
- Não, obrigado.
            - Aguarde só um minuto. _ Pegando o telefone e discando.
            Colocado o telefone no gancho, ele diz:
-O chefe pediu para você ir até a sala dele.  
O potencial de Ricardo é uma faca de dois gumes: há quem o superestimem, como existem aqueles que não escondem o desejo de vê-lo pelas costas e fazem questão de humilhá-lo, chegando ao ponto de sabotarem os seus trabalhos.
Ricardo, certa vez, imprimiu uma planilha de contas com a finalidade de mostrá-la ao chefe e bastou ir ao banheiro para que, em poucos segundos, aquele documento evaporasse da mesa dele.  Sorte que ele tinha esse arquivo salvo no pen drive.
 Fatos feito esse tornaram-se bastante corriqueiros até que o grau de tolerância de Ricardo chegou ao fim, depois que alguém, simulando um acidente, derramou café na camisa dele.   A caminho da sala do chefe, pensou:” Se pensa que vai me convencer, o chefe está muito enganado...”. 

...
Hoje, pela manhã, tomei o maior susto, quando vi o Ricardo chegando para assinar a folha de ponto. Ontem, à tarde, ele veio até a minha mesa e falou:
-Estou saindo.
-Saindo?
-Vou cair fora.
- Recebeu uma nova oferta de emprego?
-Não.
-Não?
-Pedi as contas. Não vou cumprir aviso prévio e nem quero.
Nos despedimos e ele saiu. Apesar de considerar aquele ato insano, eu, no lugar dele, também teria feito a mesma coisa.   Pelo menos, o Ricardo teve peito. Ao contrário de muita gente que insatisfeitos, fazem corpo mole para receberem as contas.

Saio do refeitório e encontro o Ricardo pelas galerias. Conversamos um pouco e fico sabendo que o chefe o convenceu a ficar, na condição de remanejá-lo para outro setor. O Ricardo também me falou que deixou o chefe a par do constrangimento ao qual vinha sofrendo por parte de alguns colaboradores, mas não citou nomes. A única exceção foi a dita cuja. Ele não fazia ideia do alivio que eu senti, ao ouvir aquilo.  



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