Eric do Vale
Hoje, fazem
exatamente dois anos que nos reencontramos, dois anos! Não sei se você se
lembra disso, creio que não. Foi nesse dia em que você me perguntou se eu
estava casado e a minha resposta foi não. Você ainda quis saber se eu tinha
namorada e, novamente, a minha resposta foi não. Então, você disse: “Não
entendo, você um cara tão bonito e charmoso!”. Aquilo me surpreendeu. Não que
eu me considere feio, nada disso. Lembro-me que, naqueles tempos, você fazia
questão de enaltecer a minha inteligência, na medida em que critica o meu
comportamento agressivo. Nem me darei ao trabalho de refrescar a sua memória,
porque sei que você se lembra disso.
Após você ter me dito
isso, sabe o que pensei? Beleza e inteligência são duas virtudes que nunca
caminham juntas. Minto, caminham sim: nos contos de fadas. Na vida real, um
homem detentor dessas qualidades ou é gay ou um psicopata. Não ou eu quem estou
levantando essa tese, mas sim as pesquisas que são feitas, diariamente. E o que
você acha disso? Refiro-me à minha pessoa, acha que sou bicha ou
psicopata? A primeira hipótese pode ser
descartada, tenho certeza de que não sou homossexual, porque gosto, e muito de
mulher e você bem sabe disso.
E o que você acha da
segunda hipótese? Nunca, até então, tirei a vida de ninguém, contudo sempre há
uma primeira vez, não acha? Você,
naqueles tempos, fazia as vezes de minha advogada e, ao mesmo tempo, promotora.
Você, melhor do que ninguém, me compreendia. Como disse, você sabia dos meus
defeitos e qualidades e nunca perdia a oportunidade de apontá-los. Isso não
ocorria diariamente, mas sim a toda hora. Fosse a sós, na frente de todo mundo
e até sem a minha presença, você sempre falava desse meu comportamento dúbio.
Quero acreditar que você tenha sido a primeira pessoa, naquele momento, a saber
quem realmente eu era e, atualmente, sou.
Sumi do mapa e depois
de algum tempo, surjo, sem mais nem menos, na sua frente como um fantasma. Você
acha mesmo que aquele nosso reencontro foi por acaso? Tenho certeza absoluta de
que no momento em que você me viu não tenha pensado: “Meu Deus, é ele!”. Qualquer
pessoa, daquela época, teria feito essa pergunta, inclusive você.
Você, por um acaso, não entrou em contato com
o pessoal, daquele tempo, e não o avisou de que eu tinha voltado? Nunca passou pela sua cabeça de que eu
estivesse seguindo os seus passos, conforme, até hoje, venho fazendo?
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