Eric
do Vale
Voltar
para o interior ou continuar morando de favor? Sem falar na terceira
alternativa: viver com o pai na companhia da atual esposa e ex-amante dele. No entanto, a segunda opção pareceu-lhe a mais
sensata, porque era praticamente nula pensar na possibilidade de ir morar com a
mãe, em outro estado. Se não fosse pela minha mãe, eu a chamaria para vir morar
comigo e qualquer pessoa que estivesse no meu lugar, também ficaria comovida
com o dilema dela: morando longe dos pais e tendo que aguentar, constantemente,
os desaforos da tia e dos filhos dela, dois vagabundos!
Antes
de iniciar a aula, ela me procurou, aos prantos, para desabafar e logo em
seguida, o Djalma chegou. Durante o intervalo, ele veio ao meu encontro a fim
de saber o que tinha acontecido. Sabendo que o Djalma era uma pessoa
extremamente confiável, falei sobre os problemas que ela vinha enfrentando sem
omitir nenhum detalhe. Visto que ele era também muito bem relacionado, arrisquei:
-
Não haveria alguma possibilidade de você conseguir uma colocação para ela?
-Claro
que sim. Encaminhe o currículo dela para o meu e-mail, por favor.
-
Encaminho sim. Pode deixar.
Na
mesma época em que começou a andar com a Rosangela, o Cleber havia terminado
com ela. Esses dois acontecimentos somados aos demais problemas, a tornaram uma
pessoa arredia e por isso, eu me afastei dela. Mesmo assim, buscava ser compreensiva
mais do que o trivial.
Certa
ocasião, ela teve um bate-boca com a Margareth e essa lhe disse umas palavras bastante
duras:
-
Gente como você termina ficando sozinha, foi por isso que o Cleber não quis mais
saber de você!
Com
eu era muito amiga da Margareth, tive com essa uma conversa, em particular:
-Você
pegou pesado com ela.
-Eu
não tenho sangue de barata para aturar os desaforos dela, não mesmo!
-Entenda,
ela está cheia de problemas!
-Eu
também tenho os meus problemas, mas não fico descontando nos outros. Ao
contrário dessa abusada, que vem dando patada em todo mundo.
Fiquei
muito feliz com a atitude do Djalma e sabia que era reciproca a intenção dele de
querer ajudá-la, porque tinha um coração muito nobre. Não vou mentir que eu
estava torcendo para que desse certo e assim, ela perceberia o quanto foi
injusta com ele. Sendo o Djalma muito amigo do Cleber, ela começou a tratá-lo
muito mal e sabendo do meu rolo com ele, dizia:
-Acorda!
O Djalma está te fazendo de besta e é só você que não percebe que ele é um
tremendo de um safado!
Eu
tinha certeza de que ela estava sendo influenciada pela Rosangela, pois essa
fazia o mesmo comentário em relação ao Djalma. A Rosangela nunca escondeu a
antipatia que sentia pelo Djalma. Desbocada, destemperada e sem papas na
língua, tais características permitiram com que fosse uma pessoa não grata
tanto na nossa sala, quanto em toda a faculdade.
Depois
que ela desabafou comigo, eu também me empenhei em ajudá-la a procurar um
emprego. Elaborei o currículo dela e entrei em contato com algumas pessoas que
conhecia, logo ficamos de bem uma com a outra.
Dessa vez, o nosso Clube da Luluzinha estava mais forte do que nunca:
Margareth, Rosangela, Jussara, ela e eu.
O
Cleber, naquela altura do campeonato, havia se tornado uma página virada na
vida dela, pois, aos poucos, ela vinha cedendo as investidas de Luiz César.
Esse, por sua vez, era o sonho de consumo de todas as mulheres da sala: bonito,
atraente, bom caráter e além dessas virtudes, era filho de um próspero
fazendeiro. Antes mesmo dela se relacionar com o Cleber, o Luiz César já estava
de olho nela e a pretensão dele era namorá-la para casar. Apesar dela não
querer nada com ele, todas nós dávamos a maior força para que ela ficasse com o
rapaz.
Após
a aula, vimos quando ela entrou no carro dele e não tivemos dúvida de que
rolaria alguma coisa entre os dois. Achamos por bem estabelecermos um acordo entre
nós: ninguém iria perguntá-la nada sobre a noite anterior. Assim, ela se
sentiria mais à vontade para nos contar tudo. No dia seguinte, quando chegou na
faculdade, ela não quis conversar com ninguém. Mesmo preocupadas, respeitamos a
vontade dela. Não demorou muito para
sabermos que o Luiz César e ela só trocaram uns beijinhos, mas quando tomamos
conhecimento de que a Jussara havia quebrado o nosso acordo, ficamos com ódio! Ainda
mais, quando soubemos que ela só contou para a Jussara, na condição de que não
falasse nada para a Margareth e nem para mim, porque éramos fofoqueiras.
Como
ela podia pensar aquilo de mim, depois de tudo o que fiz para ajudá-la? Meu
Deus do céu! Tendo um gênio muito
forte, a Margareth rodou a baiana e disse uns desaforos com as duas. Resultado:
o nosso Clube da Luluzinha rachou de vez.
De um lado, a Jussara e ela. E do outro, a Margareth e eu. A Rosangela,
por sua vez, formou conosco a tríplice e terminou pagando um preço muito alto
sendo, diariamente, perseguida por ela.
Uma
vez, ela entrou na sala e vendo que a Rosangela estava chegando, empurrou a
porta com toda força que, por pouco, não pegou no rosto da coitada. O
professor, naquela ocasião, estava presente e mesmo não tendo dito nada, era
notória a expressão de espanto na face dele. Ela sempre arrumava um jeito de ir
até a Rosangela para esbarrar nela. Um dia, a Rosangela recebeu, pelo celular, uma
mensagem de um número privado: “Bicha, posso te dar um conselho? Pare de andar
com aquelas duas. Mulher, a sua reputação, na faculdade, já não era boa e,
agora, andando com elas, vai ficar pior. Aliás, já está manchada igual a elas.
E é em todos os sentidos”.
Aquilo foi a gota d`água! Nós três fomos unanime em acusa-la, pois
sabíamos que as expressões “mulher” e “bicha” faziam parte do vocabulário dela.
Então, a Margareth falou:
-Ela
não deve bater bem da bola, porque gente normal não faz isso.
-
Muito mens, quem frequenta uma universidade _ Disse eu.
-Isso
é coisa de moleca!
E
a Rosangela fez o seguinte comentário:
-Eu
fui mesmo uma tola! Como pude me deixar influenciar por ela?
-Bobagem.
_ Eu disse.
-
Por causa dela, eu fiquei com bronca à toa de muita gente, lá da sala. Um bom exemplo
disso, foi o Djalma. Como eu fui idiota!
Depois
de ouvir aquilo, falei:
-Errar
é humano e você não foi a única.
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