terça-feira, 30 de junho de 2015

Conto- Aquele Sujeito

Eric do Vale

Assim que o viu chegando, não teve dúvidas e pensou: “É o Benvindo! Meu Deus do céu, ele não mudou nada! Será que ele vai me reconhecer?". Passaram- se alguns dias até tomar coragem para abordá-lo e isso aconteceu no momento em que o viu dirigindo-se para a copa, onde foi tomar um cafezinho. Ela, para disfarçar, pegou uma xícara e quando foi se servir, ele perguntou:
- Açúcar? 
- Sim.
- Está muito forte.

-Como? 

-O café está muito forte.
- Não sou muito fã de café, para falar a verdade. 
- Já não posso dizer o mesmo. A propósito, como você se chama? 
-Dominique.
- Eu me chamo...
- Benvindo. _ Interrompendo-o.

-Mas, todos me chamam de Queiroz. Aliás, é muito difícil alguém me chamar pelo meu nome e até fico desconcertado, quando sou chamado de Benvindo. 

            -Desculpa.
-Você não sabia.
Depois do segundo gole, Dominique, sentindo-se mais à vontade, perguntou:
-Poderia, por gentileza, me tirar uma dúvida?
-  Pois não.
            -Por um acaso, você estudou no colégio Rui Barbosa?
            -Sim. Estudei da segunda até a quinta série, por quê? Não me diga que...
            -Digo sim: estudei, da terceira até a sétima série, lá e fomos colegas de sala.
            A formalidade de outrora terminou, naquele momento. Como ambos estavam bastante atarefados, acharam melhor conversarem em uma outra ocasião. De preferência, na hora do almoço.  E foi justamente nesse horário que ambos conversaram bastante:
            - Me conta, você tem algum contato com o pessoal? _ Perguntou Benvindo.
            -Nenhum, Benvindo. Desculpe, Queiroz.
            - Se quiser, pode me chamar de Benvindo. Não tem problema.
            -Tudo bem. Como eu dizia: não tenho nenhum contato com o pessoal da nossa sala. Ter até tenho, mas por meio destas redes sociais.
-Sorte a sua, porque eu me desliguei de todo mundo, desde que saí de lá.
-Por que?
-É uma boa pergunta.
            Eles continuaram conversando até terminarem o almoço e antes de retornarem a suas atividades, Benvindo deu a Dominique um papel contendo o número do telefone dele e falou:
-Pode ligar, quando quiser.
Algumas horas depois de ter chegado em casa, Dominique telefonou-lhe dando sequência a conversa, iniciada naquela manhã. Cientes de que o pessoal do trabalho eram muito observadores, acharam por bem conversarem pelo telefone a fim de evitarem comentários maliciosos e assim, prosseguiram, por vários dias.
Os assuntos eram variáveis e, às vezes, alternava-se com algum fato ocorrido, nos tempos de escola. Era quase que inevitável não falar desse período. Entretanto, o clima pesou, quando, certo dia, Dominique mencionou o nome de Fabiano:
-Não gostava e, até hoje, não gosto dele. _ Disse Benvindo.
-Por que?
-Por que?
Fabiano estudou com eles na segunda e terceira série até ser reprovado. Além de travesso, era uma dor de cabeça para os educadores e uma pessoa não muito desejável pelos seus colegas de classe. Apesar de lembrar-se de Fabiano, Dominique não entendeu o motivo de tamanha aversão que Benvindo tinha pelo ex-colega de classe e perguntou:
-O Fabiano era muito levado, mas acho que você está sendo muito radical, Benvindo.
-Radical? Deixa eu te contar uma história: uma vez, estava o Rodrigo e eu no pátio do colégio, durante o recreio. Por falar nisso, você se lembra do Rodrigo?
-Lembro sim. Inclusive, nunca mais tive notícias dele.
-Acredito que ele tenha se tornado engenheiro civil, pois, naquela época, já manifestava a vontade de seguir carreira nessa área. Sem falar do interesse que tinha pela matemática.
-Ele era um crânio e até fizemos vários trabalhos juntos.
-Queira Deus que tenha conseguido tornar-se engenheiro. Mas, como ia dizendo: estávamos ele e eu no pátio, durante o intervalo, quando o Fabiano apareceu e vendo que o Rodrigo segurava um sanduíche, pediu-lhe um pedaço. Como o meu amigo disse não, o Fabiano tomou o sanduíche dele.
-Que horror!
-Lembra-se do Marcel?
-Lembro, era um baixinho de óculos. Ele estudou conosco, na terceira série. E se não estou enganada, o Marcel saiu do colégio, após o fim do primeiro semestre.
-Sabe por que ele saiu de lá? Por causa do Fabiano que, a toda hora, o infernizava. E veja só como são as coisas: passados mais de dez anos, tive o desprazer de reencontrá-lo.
-Como foi isso, Benvindo?
- Encontrava-me no primeiro ano da faculdade, quando uma colega de sala que por sinal, residia no mesmo prédio, onde eu morava. Falou que o namorado dela me conhecia, pois havia estudado comigo, no colégio Rui Barbosa. Assim que ela me disse quem era, lembrei-me dele imediatamente. Na primeira vez que o vi, não me senti bem. Ele me contou que além de ter repetido mais um ano, bateu o recorde de suspensões e terminou expulso do Rui Barbosa, após ser pego roubando a cantina.
            -Meu Deus! Que malandro! Se, naquela época, ele já fazia isso, faço ideia, hoje.
-O mais surpreendente é que o Fabiano relatou-me tudo isso demonstrando um certo orgulho.
            - Que idiota!
- Enquanto a pobre da namorada dele trabalhava de dia e estudava a noite, o Fabiano vivia na casa dela sem fazer nada. Digo isso, porque o via com muita frequência, mas falava só o essencial com ele. As conversas do Fabiano eram tão bobas que, até hoje, eu não sei o que foi que aquela garota viu nele.
-O amor é cego.
            Terminada a conversa, ambos voltaram ao trabalho. Dominique, durante o expediente, lembrou-se do comentário de Benvindo: “Eu não sei o que foi que aquela garota viu nele”. Logo em seguida, falou para si própria:

            -Pelo jeito, ela não foi a única.   




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