terça-feira, 11 de agosto de 2015

Conto- Contrabalança


     Eric do Vale

“Na Hora ‘H’
No dia ‘d’
Ninguém paga para ver
Tudo fica pra trás
Querem mais é esquecer.”
(A Verdade A Ver Navios: Humberto Gessinger)
           



Acompanhei o delegado até o local do crime, onde jazia o cadáver de uma mulher praticamente despida e deitada de bruços. Ao flagrá-la na cama com outro homem, o marido sacou a arma e, primeiramente, tentou atirar no amante, mas esse pulou a janela e fugiu enrolado no lençol. Ela também tentou fugir, mas terminou sendo baleada nas costas e, depois, na nuca. Mesmo já estando morta, ele atirou três vezes no rosto dela
   Advoguei por um período de três anos até ser aprovado no concurso para promotor de justiça daquele município que, sobre vários aspectos, não diferia das demais cidades interioranas do país.
A minha primeira iniciativa, logo que cheguei, foi reabrir o inquérito sobre o assassinato de um padre e constatei que havia muita gente graúda envolvida. Estava bem perto de desvendar aquele caso, quando, misteriosamente, o delegado foi transferido. Naquelas circunstancias, restava-me, muito a contragosto, dançar a música, conforme era executada.  
Impressionava-me saber que a prática daquele ato brutal partiu de uma pessoa que, segundo grande parte da população, apresentava um comportamento distinto. Eu, inclusive, o conhecia e por sinal, muito bem. Preso em flagrante, ele afirmou que o crime havia sido premeditado, pois, há tempos, tinha conhecimento de que a esposa o traia. Por isso, achou necessário “lavar a honra com sangue”.  Eu me perguntava: “Como é possível alguém ter esse tipo de pensamento, em plena contemporaneidade?”. O mais surpreendente é que todos, naquela cidade, estavam a favor dele, inclusive o delegado.    
 Quando eu a vi estendida no chão com cinco balas dundum cravadas no corpo, conclui que aquilo não passava de um crime hediondo e me questionei: “Está bem, ele tinha motivos para ter feito o que fez, mas será que havia precisão daquilo?” .
Dias depois, o amante dela veio até a minha sala e disse:
- Doutor, o destino está nas suas mãos, por isso o senhor tem que fazer justiça. Aquele patife tem que ser condenado.
-Isso fica a cargo do juiz.
-Mas, o senhor é promotor, portanto tem de acusá-lo.  Não imagina o perigo que ele representa para a sociedade, eu sei muito bem o que estou dizendo. Na noite do crime, ele parecia possuído pelo demônio. Se eu não tivesse pulado a janela... 
Ter ouvido aquilo me fez pensar que, até que enfim, existia, naquela cidade, uma voz sensata e como, anteriormente, havia dito: “Eu conhecia o réu e por sinal, muito bem”. Portanto, sabia que ele era totalmente incapaz de fazer mal a quem quer que fosse. Todavia, eu, na qualidade de promotor, tinha que cumprir com o meu dever.  
- Você está coberto de razão. _ Disse apertando-lhe a mão. – Agora, me responda: você, por um acaso, já se colocou no lugar do réu?
-Não entendi.
- É muito simples: suponhamos que você fosse casado e encontrasse a sua esposa na mesma situação em que ele a encontrou. Qual seria a sua reação? 





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