domingo, 12 de julho de 2015

Conto- A Loira


Eric do Vale

Feito aquele soldado japonês que, durante a Segunda Guerra Mundial, permaneceu vinte e nove anos no seu posto, em uma ilha deserta, acreditando piamente que o confronto não havia acabado, eu caminhava pelas galerias e depois, voltava para o ponto de encontro na ânsia de que alguém pudesse aparecer.
 De saída do cursinho, a Carla me falou:
- O pessoal está combinando de sair, hoje á noite. Está afim?
Como eu iria fazer uma prova, no dia seguinte, dei poucas garantias. Entretanto, mudei de ideia, naquela mesma hora.   Combinamos, juntamente com a turma, de nos encontrarmos no shopping, por volta das 19:00.  
-Aquele que chegar primeiro, espera pelo outro, na porta do cinema. _ Falou o Bruno.   
De domingo à domingo, queimando as pestanas com um único objetivo: passar no vestibular. Eu tinha certeza de que aquilo era somente uma fase e assim que ingressasse na faculdade, iria à forra.
Cheguei com dez minutos de antecedência, porque morava a alguns metros do shopping. Fiquei um bom tempo na livraria e quando deu dezenove horas, dirigi-me ao local combinado e esperei pelos meus amigos. Passados quinze minutos, ninguém havia chegado. Telefonei para o Bruno e esse me disse que infelizmente não poderia comparecer, porque houve um contratempo. Depois, liguei para a Carla, porém o celular dela encontrava-se fora de área.
Além de não possuir o número das demais pessoas que também marcaram presença, a bateria do meu celular estava fraca e não demorou muito tempo para descarregar. Era inacreditável que todo mundo tivesse desistido, na última hora! Mesmo assim, não perdi a esperança de que viessem.
Aproximei-me de uma loira perguntando as horas e ela me respondeu que eram oito e meia. Fiquei mais um pedaço na porta do cinema e prestes a ir embora, fui abordado por um homem:
-Quem é aquela loira que você estava conversando?
- Não sei. Eu só perguntei as horas a ela.
- Ela é muito bonita.
-É verdade.
-Ela está esperando alguém?
- Não sei dizer.
-Por que você não chega junto?
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele me veio com esta:
-Deve ser um travesti.
Não dei ouvidos, pois, naquele instante, eu só pensava em ir embora.
-Vai dizer que você também não pegaria? _ Perguntou ele.
- A loira?
-Não, um travesti.
-Você é homossexual?
-E se eu for, tem algum problema?
-De maneira alguma, desde que não mexa comigo.
-Talvez, eu esteja enganado e ela não seja um travesti.
-Eu já vou indo.
-Já?
-Sim. Preciso acordar cedo, amanhã.
Não prestei atenção ao que ele dizia e sai sem olhar para trás pensando: “Será?!”.






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