sexta-feira, 27 de maio de 2016

Conto- Rompendo O Silêncio

Eric do Vale


Até então, eu não entendia direito o que realmente tinha acontecido
-Não fale nada do que você viu, ontem. Se você falar, o seu tio não vai mais te querer aqui, em casa. _ Falou a minha tia.
Obviamente, que acreditei naquilo, haja vista que, naquela época, eu me encontrava no auge dos meus oito anos de idade.
Tio Américo sempre me pareceu uma pessoa engraçada, e era. Principalmente, quando tomava umas cachaças. No entanto, não fugia a regra de todos que exageravam na bebida, tornando-se inconveniente.
Era quase meia noite e depois de ter tomado tudo o que tinha direito, falou para o meu pai:
-Vamos pegar o meu galo.
-Agora? Está muito escuro, por que não fazemos isso, amanhã?
-Não, eu quero agora!
De tanto insistir, partimos todos em comboio rumo aquele brejo e na hora de descer a ladeira, ele caiu sentado.
-Tá vendo aí? _ Disse o meu pai. - Vamos voltar.
-Está bem.
Tio Américo desequilibrou-se e caiu para trás, dando uma cambalhota. Sorte que ele estava bêbado, senão teria quebrado o pescoço. Ainda hoje, dou risada, sempre que me lembro desse fato.
O meu primo, um dia informou ao meu pai:
-O senhor não faz ideia do que aconteceu: tio Américo está todo desorientando.
-O que houve?
- Ele caiu bêbado da bicicleta e o carro quase o pegou. Graças a Deus, só quebrou o braço. Mas, não é só isso: a esposa o deixou. 
Quando fui atingindo a maturidade, escutei o meu pai conversando com um outro familiar nosso sobre o tio Américo:
-Apesar de viverem em atrito, eles nunca se separam. _ Falou o meu pai.
-E o Américo bate nela com frequência.
Ao ouvir aquilo, lembrei-me da vez em que eu estava hospedado na casa deles: devia ser quase dez horas da noite, quando o tio Américo despertou. Ele estava com acara toda inchada, em virtude da queda que sofreu, depois de ter bebido demais.
-Américo, por favor, vá deitar! _ Disse a esposa.
Tio Américo começou a xingá-la, conforme ia derrubando todos os objetos de enfeite da casa. Em seguida, esmurrou a mesa e disse vários palavrões.
-Eu vou te bater.
Graças a Deus, tio Américo não cumpriu com o que prometeu e voltou a dormir.
Jamais comentei com ninguém o que tinha acontecido e depois que fiquei sabendo que ele batia na esposa, tudo ficou muito claro para mim.



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