terça-feira, 5 de maio de 2015

Conto- Cabelo Em Ovo


Eric do Vale

 
Já passava um pouco mais das dez horas da noite, quando Robson telefonou para Luiza informando de que estava com a lista de presença dos alunos dela, esquecida na sala dos professores. Não a encontrando e havendo precisão de chegar pontualmente à academia de ginástica, seu outro emprego, Robson achou melhor telefonar para ela naquele horário, pois sabia que Luiza também trabalhava à noite. Há menos de três meses, os dois tiveram um rolo, mas acabaram tornando-se bons amigos. Com o telefone na mão, Robson cantarolou: “Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada...”, música que havia escutado pouco antes de chegar em casa. Combinado de entregar-lhe a lista no dia seguinte, Robson mudou de assunto:
- A Isadora é muito chata, veio me perguntar por que eu insisto em conversar com você.
- Você teria algum rolo com ela, Robson?
- De jeito nenhum. Que história é essa, Luiza?
- Você sabe muito bem que, antes mesmo da gente ficar, havia um boato de que você e ela tinham um caso, sem falar que ela tinha uma queda por você.
- Luiza, eu nunca tive nada com ela e nem quero ter.
- Não mesmo?
- Ninguém sabe o dia de amanhã.
- Isso mesmo: ninguém sabe o dia de amanhã. Então, você teria alguma coisa com ela.
- Já disse que não, porém nunca se sabe o dia de amanhã.
- E comigo?
- Sim.
- Sim?
- E você, Luiza, teria alguma coisa comigo?
- Não, porque já somos uma página virada.
- Reformulo a pergunta:  se fosse o Luciano, você teria alguma coisa com ele?
- O Luciano é meu amigo.
-  Nada impede de vocês dois terem alguma coisa.
- Nem ele e nem eu não queremos nada.
- Do mesmo jeito, sou eu: não quero nada com a Isadora.
- Será?
- Eu já disse que não
- Mas, você acabou de falar que não sabe o dia de amanhã.
- Disse sim, mas eu não quero nada com a Isadora.
- Por quê?
- Não temos nada em comum.
- Isso não quer dizer nada.
- Que papo de doido é esse, Luiza?
-  Robson, você se contradisse: falou que não ficaria com ela, mas afirmou que não sabe o dia de amanhã.
- Do mesmo jeito que falei de você.
- Tenho as minhas dúvidas se na época em que tínhamos um “lance”, você não estava ficando com outras mulheres.
- Não estava.
- Eu não acredito.
- Mas, é verdade.
- Eu não acredito, Robson. Sinto muito, mas eu não acredito. Sabe por quê? Por causa daquela foto da moça de biquíni que você mostrou para o Carlinhos, quando não estávamos ficando mais. A Isadora me contou tudo, porque ela também viu essa foto. Vai negar?
- Não vou negar, porque você me falou sobre isso naquele “churrasco”. Reconheço que foi uma imaturidade minha, mas como você mesma disse: já não estávamos tendo mais nada.  E vou confessar: não rolou nada entre mim e essa mulher, no entanto reconheço que esse meu comportamento foi imaturo.
- Sabe, Robson, acho que você utilizou essa mulher como um pretexto para que eu terminasse com você, pois tenho absoluta certeza de que não teve coragem de terminar comigo. Então, eu tomei as rédeas para que, no seu entender, ficasse tudo “numa boa”.
- Reconheço que não tive coragem, mas não sou cafajeste.
- Eu não estou dizendo isso, Robson.
- Realmente, não tive coragem, mas entenda que quis ganhar tempo.
- “Ganhar tempo”. Que papo furado, Robson!
- Eu lhe juro que não quis que você assumisse essa responsabilidade, mas é preciso entender que não é bem assim: “não quero mais nada com você”. Eu precisava arrumar uma maneira de terminar.
- Fosse homem e enfrentasse a situação de cabeça erguida, com dignidade. Sabe, a Tainá é mais perseverante do que você. Mesmo sabendo que o meu negócio é homem, ela não desiste de mim. Já você, muito me impressionei de, nessa sexta-feira, ter aceitado sair conosco. Na época em que estávamos ficando, você nunca quis sair comigo.
- Naquela época, eu estava mal das pernas, você bem sabe disso.
-  Independente de qualquer situação financeira, quando se gosta movem-se céus e terras para estar próximo um do outro. Sem falar naquela sua situação mal resolvida com aquela vigarista. Eu não entendo, Robson, como você foi capaz de se envolver com ela!
- Ela foi um equívoco na minha vida. E sabe que isso tudo aconteceu, antes de ter te conhecido.
-  Aquela mulher é uma pirada! Ficava com o primeiro que aparecesse e depois do que ela te fez, você ainda foi atrás dela a fim de resolver o seu “caso mal resolvido”. Uma mulher que não vale nem os fundilhos da sua cueca! Se fosse pelo menos uma princesa, mas quando você me mostrou a foto dela, pensei: “Nem que o Robson se ajoelhasse aos meus pés, eu não iria querer mais nada com ele”. Depois dessa, sem comentários!
- Luiza, eu te juro que não pretendia voltar para ela, depois do que me fez. Apenas fiquei penalizado com a situação dela: arranjou um sujeito que não valia nada, aprontou com ela e a deixou com a mão na frente e a outra atrás, além de uma criança no ventre. Apesar de toda a cachorrada que me fez, nunca desejei o mal dela. Eu precisava vê-la para “acertar os ponteiros”. Era uma coisa minha, como tenho certeza de que você também tem coisas pendentes, embora insista em dizer o contrário. Mas, eu te digo: nunca fiquei com ninguém, quando você e eu estávamos tendo o nosso lance.
- Não acredito.
-Está bem, não vou abrir a sua cabeça.
- E por que você ficou comigo naquele churrasco, quando já não tínhamos mais nada?
- Porque pensava que poderíamos ter alguma coisa.
- Não seria mais fácil dizer que é por causa da sua natureza masculina?
- Olha, Luiza, eu posso ter errado com você de uma forma inconsciente, mas errei. Nada do que eu justificar vai trazer o passado de volta, mas é bem certo que no futuro eu mude os meus conceitos.
- Sabe, pouco me interessam os seus conceitos, agora. Já lavei toda a roupa suja e você não fez nada de mais, comparada a outras situações que vivenciei. Não tenho nada contra você e, se tivesse, obviamente que não estaríamos conversando, nesse horário, pelo telefone. Boa noite.

 Finalizada a ligação, Robson foi dormir e pensou: “Luiza, Luiza! Depois deste interrogatório, tenho certeza de que talento não lhe falta para ingressar na polícia.”. 





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