quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Conto- Aviso Prévio

Eric do Vale


                                                                                                          “Eu bato o protão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.”
(Trocando Em Miúdos: Chico Buarque & Francis Hime)


Um dia, isto haveria de acontecer. Já era sem tempo! Qual futuro eu teria, se continuasse trabalhando aqui?  Permaneceria na mesma função e caso mudasse de setor, receberia o mesmo salário de outrora. Só me restava procurar algo melhor e foi o que fiz.
Logo após solicitar o meu desligamento, tive a plena convicção de que fiz a coisa certa. Mas, não posso me esquecer de que, no ano passado, as coisas estavam difíceis e era preciso segurar a onda até cessar a tempestade.
Acordava as cinco e meia e depois das seis, caminhava vários metros até o ponto de ônibus para, a partir das sete horas, estar no batente. É muito raro alguém desse estabelecimento ser mandando embora. Muitos já tentaram, mas poucos, pouquíssimos, conseguiram. E tem aqueles que continuam tentando: faltando o trabalho, chegando atrasado ou enrolado o serviço.
Só tenho uma coisa a lamentar: estou saindo justamente no momento em que comecei a me entrosar com o pessoal. O que se há de fazer? São coisas da vida e que saber? Melhor assim.

Continuo acordando no mesmo horário e sempre que me desloco para o ponto de ônibus, resmungo: “Porcaria de emprego!”. E quando o ônibus começa a demorar, não me contenho: “Droga de trabalho”. Então, concluo: “Falta pouco”.      

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