Eric
do Vale
“Tudo
parece ser tão real
Mas você viu esse filme também”
Mas você viu esse filme também”
(Baader-
Menhof Blues: Renato Russo)
Quando
não estava nos semáforos limpando os para-brisas dos carros, abordava algum pedestre
e pedia um trocado. Às vezes, ele recebia alguma coisa, mas isso acontecia
raramente. E quando o sinal fechava, dirigia-se para o primeiro carro que via e,
sem perguntar, começava assear os vidros. Tal atitude, porém, terminava custando-lhe
bastante caro. Além de ouvir a clássica frase: “Desculpe, não tenho dinheiro”,
era também obrigado a escutar intermináveis desaforos dos motoristas.
Uma
vez, quando aproximou-se de um carro, o motorista abaixou o vidro e gritou:
-Não
tenho dinheiro!
Ele,
imediatamente, esmurrou a porta e o ameaçou, gerando, assim, uma horrível discussão
em que ambos foram parar na delegacia. Ele, é claro, terminou sendo o mais prejudicado.
Isso
também acontecia com os pedestres:
-Um
dinheiro aí. _ Pedia ele.
E
insistia:
-Um
trocado.
Quando
alguém não lhe dava ouvidos ou o insultava, ele apelava para a brutalidade e
tirava na marra. Apesar de ser velho conhecido dos policiais, não demorava muito
para estar de volta as ruas e voltar a sua rotina.
Não
fazia pouco tempo que tinha retornado as ruas, quando viu um senhor passar perto
dele e foi direto ao assunto:
-Um
trocado, por favor.
O
velho não deu ouvidos e ele persistiu:
-Uma
graninha, meu tio.
Como
o velho continuou ignorando-o, ele apressou o passo, segurou no braço dele e alterou
a voz dizendo:
-Tu
é surdo? Quer que eu traduza? _ Apertando o braço dele mais forte.
-Tudo
bem, já entendi. _ Disse o velho levantando o polegar esquerdo.
Ao
soltar o braço dele, o velho colocou a mão no bolso e sacou um revólver. Ele
deu dois passou para trás, mas levou um tiro certeiro no coração.
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