terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Conto -Sem Resposta


                                                            Eric do Vale      


Após ter falado para o meu amigo que existiam perguntas que já nasciam sem respostas, correu-me a ideia de elaborar uma lista com essas interrogações. Cada vez que eu me lembrava de algum fato marcante, escrevia uma pergunta e, para a minha surpresa, conseguia obter alguma resposta, coisa que, até então, me parecia impossível de conseguir. Mas, para toda regra sempre existiu, e existirá, uma exceção. Estava com treze anos, quando fui estudar naquele colégio, e ela foi a primeira pessoa com quem eu tive contato. Diariamente, vinha ao meu encontro com toda aquela simpatia e solicitude para me perguntar se eu estava gostando do colégio e algo desse tipo. A minha resposta era sempre sim.  Houve uma vez que, durante o intervalo, conversamos bastante e em pouco tempo, um ficou sabendo da vida do outro. Depois desse dia, eu não sei dizer o que realmente aconteceu para termos nos distanciando.
Só sei de uma coisa: eu tentei me reaproximar, mas ela passou a mostrar-se cada vez mais arredia. O que eu falasse ou fizesse era motivo suficiente para me hostilizar.  Várias vezes, cogitei em procura-la com a finalidade de perguntar o que estava acontecendo e saber se tinha feito alguma coisa que a deixou magoada, mas o meu receio falava mais alto.  Houve ocasiões em que pensei em partir para a ignorância, porque não dava para suportar tanta implicância e a troco de quê?
Eu, uma vez, juntamente com uma parcela da classe fui para a coordenação, porque não estávamos vestidos de acordo com o uniforme do colégio. Por pouco, ficamos impedidos de assistirmos as aulas. Ela também estava no meio e falou para a turma que não sabia desse novo regulamento:
-Eu também não estava sabendo disso. _ Eu falei.
-Não estou falando com você. _ Ela respondeu com tamanha agressividade.
    Aquela resposta levou-me a descartar qualquer possibilidade de reaproximação e o mesmo sentimento de repugnância que ela tinha por mim, eu, naquele momento, passei a nutrir em relação a pessoa dela.  
No ano seguinte, mudamos de sala e não tive mais notícias dela até que, onze anos depois, nos reencontramos por meio de uma rede social. Não sei qual de nós tomou a iniciativa de enviar uma solicitação de amizade. Acredito que tenha sido eu, embora não tenha tanta certeza disso. Dias depois, ele me disse oi e eu, obviamente, correspondi. Logo, estávamos conversando bastante. Esse seria o primeiro de muitos outros diálogos pelos quais, respectivamente, trocaríamos e, quem sabe, tudo seria esclarecido.  Assim, eu pensava.



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