Eric
do Vale
Após ter falado para o meu amigo que
existiam perguntas que já nasciam sem respostas, correu-me a ideia de elaborar
uma lista com essas interrogações. Cada vez que eu me lembrava de algum fato
marcante, escrevia uma pergunta e, para a minha surpresa, conseguia obter
alguma resposta, coisa que, até então, me parecia impossível de conseguir. Mas,
para toda regra sempre existiu, e existirá, uma exceção. Estava com treze anos,
quando fui estudar naquele colégio, e ela foi a primeira pessoa com quem eu
tive contato. Diariamente, vinha ao meu encontro com toda aquela simpatia e
solicitude para me perguntar se eu estava gostando do colégio e algo desse
tipo. A minha resposta era sempre sim. Houve
uma vez que, durante o intervalo, conversamos bastante e em pouco tempo, um
ficou sabendo da vida do outro. Depois desse dia, eu não sei dizer o que realmente
aconteceu para termos nos distanciando.
Só sei de uma coisa: eu tentei me
reaproximar, mas ela passou a mostrar-se cada vez mais arredia. O que eu
falasse ou fizesse era motivo suficiente para me hostilizar. Várias vezes, cogitei em procura-la com a
finalidade de perguntar o que estava acontecendo e saber se tinha feito alguma
coisa que a deixou magoada, mas o meu receio falava mais alto. Houve ocasiões em que pensei em partir para a
ignorância, porque não dava para suportar tanta implicância e a troco de quê?
Eu, uma vez, juntamente com uma parcela
da classe fui para a coordenação, porque não estávamos vestidos de acordo com o
uniforme do colégio. Por pouco, ficamos impedidos de assistirmos as aulas. Ela
também estava no meio e falou para a turma que não sabia desse novo
regulamento:
-Eu também não estava sabendo disso. _
Eu falei.
-Não estou falando com você. _ Ela
respondeu com tamanha agressividade.
Aquela resposta levou-me a
descartar qualquer possibilidade de reaproximação e o mesmo sentimento de
repugnância que ela tinha por mim, eu, naquele momento, passei a nutrir em
relação a pessoa dela.
No ano seguinte, mudamos de sala e não
tive mais notícias dela até que, onze anos depois, nos reencontramos por meio
de uma rede social. Não sei qual de nós tomou a iniciativa de enviar uma solicitação
de amizade. Acredito que tenha sido eu, embora não tenha tanta certeza disso. Dias
depois, ele me disse oi e eu, obviamente, correspondi. Logo, estávamos
conversando bastante. Esse seria o primeiro de muitos outros diálogos pelos
quais, respectivamente, trocaríamos e, quem sabe, tudo seria esclarecido. Assim, eu pensava.
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