Eric do Vale
-
Boa noite, seu Guimarães! _ Falou Marlene quando o viu chegando.
Ele
a cumprimentou, assim que entrou no elevador, e trocaram mais duas palavras.
Cristina, amiga de Marlene, balançou a cabeça, simbolizando um cumprimento, e
assim que seu Guimarães saiu, ela fez um sinal negativo com a cabeça deixando
visível a repulsa que sentia por ele.
Ao entrarem no apartamento, Marlene
não se conteve:
- Eu não entendo esta sua implicância,
Cristina. Juro por Deus que não consigo entender.
-
É simples, Marlene: eu não gosto dele.
-Por quê?
-Você ainda pergunta? Não acho esse
homem legal.
- E quem é que você acha legal? Me
diga. Desde que eu te conheço, só escuto você dizendo: “Não gosto de fulano,
não gosto de cicrano, não gosto de beltrano. Não confio nesse, naquele...”.
Ninguém, para você, é digno de confiança.
-Estou mentindo?
-Por um lado, você tem razão. Mas,
acho que, as vezes ou sempre, você é muito radical. Eu não entendo por que essa
antipatia pelo seu Guimarães.
-Se esqueceu de que eu trabalho na
mesma firma que ele? Marlene, eu sei muito bem o que estou dizendo. Desde que
comecei a trabalhar lá, a Suely e a Carmem me advertiram de que ele não era uma
pessoa confiável.
- Cristina, você esqueceu de um
detalhe: eu já trabalhei lá. Além disso, a Carmem e a Suely são duas
fofoqueiras, vivem falando de Deus e o mundo. Apesar de ter convivido pouco com
o seu Guimarães, eu sempre gostei e gosto muito dele. Acho-o muito educado e
bastante discreto.
Fosse no trabalho ou no prédio,
pouco se sabia a respeito dele. Mesmo sendo muito reservado, seu Guimarães era
bastante cordial. Não fazia distinção de ninguém e conversava com todo
mundo.
Vez
ou outra, ele tirava do bolso um bloquinho de anotações e começava a escrever.
A zeladora, certa vez, brincou:
-Seu Guimarães, o senhor parece um
detetive com esse caderninho, sabia?
Ele
levou aquilo na esportiva.
Quando
não estava de posse da caderneta, escrevia em qualquer folha de rascunho. Seu
Guimarães dirigia-se ao bar que ficava próximo ao apartamento dele para beber
alguma coisa e jogar conversa fora.
O
bar estava situado de frente a uma praça, onde havia uma igreja e há alguns
metros, ficava um templo evangélico. No domingo, aquele espaço ficava repleto
de gente e seu Guimarães observava aquele movimento todo tendo em mãos os seus
inseparáveis instrumentos de trabalho: a
caneta e o bloquinho de anotações.
No
trabalho, havia quem dissesse que o seu Guimarães era um X9, essa foi a tese
defendida por Carmem, Suely e, posteriormente, por Cristina. Os moradores do prédio e o pessoal do bar
juravam que ele era um policial disfarçado ou um detetive particular.
Havia
até quem dissesse que seu Guimarães era algum assassino em série ou profissional.
Tudo isso, no entanto, não passavam de meras especulações. A única coisa
concreta era que ninguém, até hoje, conseguiu saber o que tanto ele redigia
naquele caderninho.
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