Cecília
estava certa de que aquelas rosas que haviam lhe sido entregues, naquela manhã,
só podia ser de um único remetente: João Silvério. Tal convicção foi
confirmada, no momento em que ela abriu o cartão que veio junto com as flores.
Lisonjeada, Cecília telefonou-lhe para agradecer.
-Espero
que tenha gostado. _ Falou João Silvério.
-Você,
sempre muito romântico. Esse é o terceiro buquê que eu recebo, só nessa semana.
-
Quer dizer que eu tenho um concorrente?
-Que
nada.
-Você
gostaria de vir aqui em casa, hoje à noite?
Diante
daquela proposta, Cecília não teve como recusar.
Antes
de serem colegas de faculdade, eles já se conheciam nos tempos de colégio.
Depois que se formaram, nunca mais se viram. O reencontro dos dois aconteceu
meio que por acaso, quando o carro dele bateu no dela.
Ao
tirar satisfação com ele, Cecília o reconheceu imediatamente. Após os
cumprimentos, João Silvério a convidou para almoçar e Cecília, obviamente,
aceitou. Cada um falou de si: João
Silvério juiz e, há pouco tempo, tinha sido nomeado desembargador. Cecília
jamais advogou, embora tivesse se formado e passado na OAB. Quanto a vida
sentimental, João Silvério dizia-se um celibatário.
-Eu
fui casada duas vezes. _ Disse Cecília. - Atualmente, estou separada.
-Se
não me falha a memória, você foi casada com o Artur, nosso colega de faculdade.
-Exato.
Fomos casados por cinco anos. Depois,
casei-me novamente, mas não fui muito feliz nesse segundo casamento.
Depois
de comerem, cada um pegou o contato do outro e João Silvério combinou de se
falarem, à noite e finalizou:
-Vou
acertar com você o concerto do carro. Faço questão de pagar.
Ele
cumpriu com o que prometeu.
As
ligações tornaram-se frequentes, assim como as saídas para os bares e
restaurantes. João Silvério fazia questão de apanhá-la e deixá-la na casa dela.
Cecília
não pensou duas vezes em ir jantar na casa de João Silvério: foi ao salão, fez
as unhas e o cabelo. Usando o seu melhor vestido, ela o esperou na portaria do
prédio e quando avistou a estrela do Mercedes -Bens chegando, ficou de guarda. Ele
foi busca-la no portão e a conduziu até o seu carro.
Ao
entrarem naquele luxuoso apartamento com vista para o mar, João Silvério falou:
-Rita,
chegamos.
-Rita?
-É
a minha esposa.
Cecília
não entendeu nada e Rita apareceu.
-Querida,
você se lembra da Cecília? _ Perguntou João Silvério.
-Vagamente.
-Veja
como são as coisas: eu bati o meu carro no dela e ela, logo, me reconheceu.
-João
Silvério, você havia me dito que não era casado. _ Falou Cecília.
-Eu
menti.
-Por
quê?
-
Aquela batida foi proposital. Lembra-se dos tempos de escola? Se naquela época,
eu tivesse morrido, não faria diferença para você. Está lembrada de que quando éramos
universitários? Eu, nesse período, trabalhava como taxista e sempre que te
oferecia uma carona, você se recusava de tal maneira, preferindo os carrões daqueles
filhinhos de papai. Dentre os quais, aquele que foi o seu primeiro marido.
Esse, por sinal não passava de um falso rico. Depois, você se casou com um
vigarista, viciado em jogo que foi capaz de apostar o apartamento, onde vocês
moravam. Pensa que eu não fiquei sabendo disso? A Rita, minha esposa, era filha
de uma faxineira do colégio e estudou com muito sacrifício até ser aprovada em
medicina. Ela, na época de escola, sempre foi apaixonada por mim, mas eu, até
então, não sabia. Éramos universitários, quando começamos a namorar. E agora,
estamos aqui. Engraçado, não é?
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