quinta-feira, 3 de março de 2016

Contos- Melhor Assim

           
Eric do Vale

        Comecei a deletar uma por uma, quando me deparei com a mensagem do João Henrique: “Sempre tive muita estima pela pessoa que você é, Rubens. As brincadeiras, nos tempos de colégio, não passavam de meras molecagens.  Nunca te considerei um idiota, mas se você faz tanta questão disso...”.  
            Durante um ano, fomos colegas de sala e não havia um dia sequer em que ele não me pegasse para Cristo. Estando calado ou não, para o João Henrique não fazia diferença. Na concepção dele, eu era sempre motivo de escarnio.
 Quando não estava atirando bolinhas de papel, durante a aula, chamava-me de bichinha ou outro termo similar. O mais surpreendente disso tudo era que o infeliz liderava aquela massa. Feito aquele personagem do Sérgio Telles, eu me lembrava daqueles prisioneiros dos campos de concentração dos filmes de guerra e me perguntava até quando suportaria tudo aquilo.
A conclusão do meu terceiro ano pode ser resumida em uma única palavra: alivio. Contudo, dois anos depois, o João Henrique veio me procurar, na minha casa. Apesar de muito tenebroso, baixei a guarda e o fiz entrar. Conversamos um bocado e ele me disse que admirava muito a minha obstinação. Não vou negar que, depois que o João Henrique foi embora, eu continuei cabreiro. Até hoje, não entendi aquela vinda inesperada dele na minha casa.
            Algumas vezes, chagamos a nos encontrar de forma meio esporádica e ele não perdia a oportunidade de soltar uma piadinha sobre mim. Logo, conclui que não haveria a menor possibilidade de termos algum vínculo.
Em um desses encontros casuais, o João Henrique pediu o meu Facebook e apesar de ficar com o pé atrás, não havia como negar-lhe. Mal sabia eu que aceitando a amizade dele, no Facebook, estaria assinando a minha sentença. Minto, sabia sim. Entretanto, apelei para o meu bom censo, dando-lhe um voto de confiança na eminência dele ter amadurecido. Ah se arrependimento matasse!
            As piadinhas de outrora voltaram com mais força e qualquer coisa que eu postasse, lá vinha ele com os seus escárnios sobre mim. Por que aquilo? Conclui que a melhor coisa a fazer era excluí-lo e bloqueá-lo. Todavia, eu não poderia passar o tempo todo me escondendo e então, enviei-lhe esta mensagem: “Como é possível solicitar a “amizade” de alguém com quem você não simpatiza nem um pouco? Nos tempos de escola, eu só ouvi da sua boca palavras rudes a meu respeito e tudo o que eu fizesse, era motivo para você me ridicularizar na frente dos outros. E pelo jeito, as coisas, para você, continuam iguais. O que você pretende?”.
            Disse-lhe tudo o que, há muitos anos, estava entalado e finalizei: “A partir de hoje, esteja certo de que esta será a última vez que te dirijo a palavra.”.  Ele não deixou barato e também disse tudo o que pensava sobre mim, mas eu não dei a menor importância para as palavras dele.
            Agora, quase dois anos depois disso ter acontecido, deparei-me com essa mensagem. Li quantas vezes achei necessário até deletá-la.  Depois de desbloqueá-lo, enviei-lhe uma solicitação de amizade e não tardou muito para o João Henrique se manifestar teclando o seguinte: “Depois de tudo o que me falou, você tem acara de pau de me mandar uma solicitação de amizade! Faça o seguinte: leia a mensagem que você escreveu para mim.”.  Não tive dúvidas: melhor deixar as coisas como estão. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário