Eric do Vale
Comecei
a deletar uma por uma, quando me deparei com a mensagem do João Henrique:
“Sempre tive muita estima pela pessoa que você é, Rubens. As brincadeiras, nos
tempos de colégio, não passavam de meras molecagens. Nunca te considerei um idiota, mas se você
faz tanta questão disso...”.
Durante um ano, fomos colegas de
sala e não havia um dia sequer em que ele não me pegasse para Cristo. Estando
calado ou não, para o João Henrique não fazia diferença. Na concepção dele, eu era
sempre motivo de escarnio.
Quando não estava atirando bolinhas de papel,
durante a aula, chamava-me de bichinha ou outro termo similar. O mais
surpreendente disso tudo era que o infeliz liderava aquela massa. Feito aquele
personagem do Sérgio Telles, eu me lembrava daqueles prisioneiros dos campos de
concentração dos filmes de guerra e me perguntava até quando suportaria tudo
aquilo.
A
conclusão do meu terceiro ano pode ser resumida em uma única palavra: alivio.
Contudo, dois anos depois, o João Henrique veio me procurar, na minha casa. Apesar
de muito tenebroso, baixei a guarda e o fiz entrar. Conversamos um bocado e ele
me disse que admirava muito a minha obstinação. Não vou negar que, depois que o
João Henrique foi embora, eu continuei cabreiro. Até hoje, não entendi aquela
vinda inesperada dele na minha casa.
Algumas vezes, chagamos a nos
encontrar de forma meio esporádica e ele não perdia a oportunidade de soltar
uma piadinha sobre mim. Logo, conclui que não haveria a menor possibilidade de
termos algum vínculo.
Em
um desses encontros casuais, o João Henrique pediu o meu Facebook e apesar de ficar com o pé atrás, não havia como
negar-lhe. Mal sabia eu que aceitando a amizade dele, no Facebook, estaria assinando a minha sentença. Minto, sabia sim.
Entretanto, apelei para o meu bom censo, dando-lhe um voto de confiança na
eminência dele ter amadurecido. Ah se arrependimento matasse!
As piadinhas de outrora voltaram com
mais força e qualquer coisa que eu postasse, lá vinha ele com os seus escárnios
sobre mim. Por que aquilo? Conclui que a melhor coisa a fazer era excluí-lo e
bloqueá-lo. Todavia, eu não poderia passar o tempo todo me escondendo e então, enviei-lhe
esta mensagem: “Como é possível solicitar a “amizade” de alguém com quem você
não simpatiza nem um pouco? Nos tempos de escola, eu só ouvi da sua boca
palavras rudes a meu respeito e tudo o que eu fizesse, era motivo para você me
ridicularizar na frente dos outros. E pelo jeito, as coisas, para você,
continuam iguais. O que você pretende?”.
Disse-lhe tudo o que, há muitos
anos, estava entalado e finalizei: “A partir de hoje, esteja certo de que esta
será a última vez que te dirijo a palavra.”. Ele não deixou barato e também disse tudo o
que pensava sobre mim, mas eu não dei a menor importância para as palavras
dele.
Agora, quase dois anos depois disso
ter acontecido, deparei-me com essa mensagem. Li quantas vezes achei necessário
até deletá-la. Depois de desbloqueá-lo,
enviei-lhe uma solicitação de amizade e não tardou muito para o João Henrique se
manifestar teclando o seguinte: “Depois de tudo o que me falou, você tem acara
de pau de me mandar uma solicitação de amizade! Faça o seguinte: leia a
mensagem que você escreveu para mim.”.
Não tive dúvidas: melhor deixar as coisas como estão.
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