A
secretária me avisou que o chefe queria falar comigo, em particular. Eu sabia
que aquilo iria acontecer e por isso, já estava preparado. Antes de entrar, eu
me benzi e falei para mim mesmo: “Seja o Deus quiser.”. Lá estava ele, sentado
naquela cadeira e dando umas cachimbadas.
Assim
que me viu, fez um gesto para que eu me sentasse. Depois, abriu a gaveta da
escrivaninha, pegou um caderno, tirou o cachimbo da boca, e disse:
-Presumo que isto seja seu.
Não havia como negar, pois o meu
nome estava escrito nele.
-É de conhecimento de todo mundo,
aqui nessa empresa, que você costuma fazer anotações nesse caderno. _ Disse
ele.
Permaneci
em silêncio, dando a entender que aquilo era verdade.
Não
me lembro bem sobre o que eu, ontem, estava escrevendo nele, quando entrei na
sala do chefe para entregar-lhe um documento. Minutos depois, percebi que o
tinha esquecido na sala dele.
Fui
avisado pela secretária que o chefe tinha acabado de sair e só voltaria no
outro dia. Segurando o meu caderno, ele indagou-me:
-Então,
temos aqui um escritor?
Naquele
momento, pensei: “Ainda bem que, ontem mesmo, ajeitei o meu currículo e comecei
a enviá-lo.”. Então, o chefe continuou:
-Tomei
a liberdade de ler o que estava escrito nele.
Era
o que eu mais temia e já imaginava até o que ele iria dizer: “Por favor, não
fale. Não diga nada e nem ouse argumentar.”. Dito e feito:
-Por
favor, não fale. Não diga nada e nem ouse argumentar.
Ele
tinha que dizer aquilo. E prosseguiu:
-
Eu sei que o que fiz é ilegal, mas espero que entenda.
Ao
entregar-me o caderno, falou:
-
Vou te dar um conselho: procure fazer
caligrafia. Não vou negar que muito me interessou saber o que você tinha
escrito nesse caderno, mas, francamente, essa sua letra é uma negação! Por
isso, não entendi porcaria nenhuma.
Mal sabia ele que aquilo me deixou
bastante aliviado, pois, apesar de tudo, o meu pescoço estava a salvo.
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