domingo, 24 de abril de 2016

Conto- Mundo Pequeno

Eric do Vale


Uma coisa que, naquele instante, passou pela minha cabeça foi: será que o marido dela sabe? O tempo deve ter sido muito generoso com ela, pois continuava mais esfuziante do que outrora. Quase perdi a cabeça, quando a vi, pela primeira vez, fazendo aquelas performances, na medida em que ia se despindo. Falta de aviso não foi: “Você não sabe com que está se metendo; essa mulher é chave de cadeia; você vai se dar mal;”. Se Jesus Cristo descesse aqui, na Terra, e repetisse tudo o que eu tinha escutado, também faria ouvido de mercador.
Peguei um uísque com gelo e conforme fui bebendo, continuei fazendo-me a mesma pergunta: será que o marido dela sabe? Não gostaria de estar na pele dele e por isso, fiquei imaginando como ele agiria, ao ser informado da vida pregressa dela. Talvez, ela já tinha lhe contado tudo, por que não? E se, naquele momento, eu decidisse abrir o verbo? Tomei mais uma dose e ponderei até constatar que era melhor pedir transferência daquele lugar. Mas, mal cheguei! Já sei: vou pedir exoneração. O que é que eu estou falando? Acho que bebi demais.
As minhas extravagancias permitiram com que ela acreditasse que eu fosse rico. Contudo, a realidade era outra: eu não passava de um duro que vivia da mesada que os meus pais, com todo o sacrifício, me mandavam. Graças a Deus, eles nunca souberam de nada e no que depender de mim, nunca saberão. Com receio de pedir mais dinheiro aos meus pais, passei a trabalhar, durante a noite, nos mais variados serviços: garçom, motorista de táxi, frentista, faxineiro. Chegava de madrugada e de manhã, bem cedo, eu já estava de pé para ir estudar.
Quando fui nomeado juiz, depois de ser aprovado em concurso, as autoridades promoveram um jantar de boas-vindas para mim. No meio de tantas apresentações, alguém me falou que eu tinha que conhecer a primeira dama e quando a vi... Essa não!


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