sexta-feira, 1 de abril de 2016

Conto- Lixo Afetivo

Eric do Vale


           Acidentes acontecem e bem que eu gostaria que isso acontecesse, mas... Além de me faltar coragem, sou incapaz de fazer mal a uma mosca e você bem sabe disso. Nestas horas, invejo aqueles que, diante de um ímpeto, dão cabo na vida de alguém, isso até me faz lembrar um comentário de alguém que, uma vez, me disse: “Você pensa demais.”.
Nessa vida, é preciso pensar em tudo, por isso eu me pergunto: o que ganharia matando você? Para cometer um crime é necessário que tudo seja milimetricamente arquitetado. No entanto, você e eu, juntamente com os demais, sabemos que não há crime perfeito. 
Cedo ou tarde, a polícia descobrira os meus vestígios e então, pegaria uma cadeia brava. Apesar de ser réu primário e com bons antecedentes, o meu ato poderia ser considerado hediondo e depois, constaria que matei você à toa.
 Novamente, eu me pergunto:  o que é que eu ganharia com tal atitude? Partindo desse pressuposto, levo a crer que não faria feio, se as forças armadas me requisitasse como estrategista militar. Em contrapartida, eu seria uma vergonha, levando-se em conta o meu excesso de humanismo.
Várias vezes, diante do espelho, ensaiei dizer tudo isso que estou dizendo, agora. Mas, na hora H, bati em retirada, por quê? Medo, essa é a única razão que achei conveniente para utilizá-la como justificativa. Talvez, eu tenha uma resposta para isso em forma de pergunta: a troco de que eu iria me sujar à toa?  Tenho me feito essa pergunta, sempre.
Confesso que, muitas vezes, de longe acompanhei os seus passos na iminência de, quem sabe, colocar em prática o meu objetivo, mas a razão terminava falando mais alto. Por isso, chego à conclusão de que se existe alguém que, nessas condições, deve sair de cena, então sou eu. Só não sei como. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário