Tenho
uma vaga lembrança daquele aparelho de som que ficava na sala da nossa casa: era
de última geração. A minha mãe sempre falava desse rádio com uma certa
tristeza, porque o filho da senhora que trabalhava na nossa residência o
danificou.
Eu
devia ter, mais ou menos, uns quatro ou cinco anos de idade e, um dia, estava
brincando com os meus brinquedos, na sala, quando inventei de mexer no toca fitas.
De repente, a portinha do aparelho soltou-se.
Inconscientemente,
eu sabia que os meus pais ficaram bravos comigo, quando vissem o que fiz. De
fato, foi o que aconteceu. Todavia, o filho da empregada terminou carregando aquele
fardo.
Diariamente,
ela o trazia para a nossa casa. Lembro-me que ele não era de falar muito e
quando isso, raramente, acontecia, expressava-se muito mal.
-A
última pessoa que trabalhou aqui, em casa, tinha um filho que não falava quase
nada, porém era muito levado. Esse menino mexia em tudo e até quebrou um rádio
que tínhamos acabado de comprar_ Disse o meu pai, certa vez, para um conhecido dele.
A
minha mãe não deixou barato:
-
Depois que esse menino estragou o nosso aparelho, a mãe dele não continuou trabalhando
mais aqui, em casa.
Muitos
anos depois, quando voltávamos das compras, a minha mãe me perguntou:
-Lembra-se
daquele som que tínhamos e aquele menino estragou?
Não
me contive:
-Fui
eu quem quebrei?
-Você?
-Não
se lembra? Eu estava brincando com os meus brinquedos e aí...
-Está
se referindo a portinha do toca fitas?
-Sim.
-
Aquilo foi o de menos, comparado com o que aconteceu, depois.
Naquele
momento, tomei conhecimento de um fato que, até então, eu desconhecia.
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