I
Naquela
sexta-feira, após o expediente, fui até um barzinho, onde tomei umas cervejas
com os meus colegas. Depois, entrei no meu carro e vaguei por aí decidido a,
tão cedo, não voltar para a casa. A minha rotina consistia no seguinte: da casa
para o trabalho; do trabalho para a casa. Por isso, resolvi modificar todo o
meu roteiro.
Estacionei
em frente a um clube noturno e lá entrei.
Pelo que pude notar, aquele espaço era frequentado por gente com mais de
trinta anos de idade. O repertorio musical era repleto de músicas dos anos 70 e
80. Sentei-me e pedi ao garçom que me
servisse uma cerveja.
Na
pista havia uma mulher de vestido preto e cabelos castanhos, quem era ela?
Provavelmente, devia ter uns 37,38, por aí. Quando o garçom me serviu, pedi-lhe
uma caneta emprestada e escrevi no guardanapo algo do tipo “Quero te conhecer”.
-Está
vendo aquela mulher de preto? _ Perguntei ao garçom.
-Sim.
-Entregue
este bilhete a ela, por favor.
Vi
quando ele entregou-lhe o bilhete e, em seguida, disse alguma coisa para ele.
Pensei: “Nessa eu dancei”. O garçom aproximou-se de mim e falou:
-Ela
pediu para que o senhor fosse até ela.
Fui
até lá e começamos a dançar. Depois nos sentamos e bebemos um pouco. Ela se
chamava Glória, era funcionária pública e, há pouco tempo, tinha se separado do
marido.
-Qual
é o seu nome? _ Perguntou Glória.
-Danilo.
É
claro que aquele não era meu nome e também não era professor universitário
coisa nenhuma, conforme eu tinha dito para ela.
II
Depois
daquela noite, passei a frequentar aquele espaço com maior assiduidade,
alternando os dias e as semanas. César, Otávio, Carlos, Miguel, esses eram
alguns dos nomes que eu utilizava para apresentar-me a elas, sem esquecer das
minhas “ocupações”: corretor de imóveis, escriturário, advogado, engenheiro,
agrônomo, policial...
Tenho
um caderno com os números de todas ela: Fátima, Stela, Olívia, Graça... Não sou
muito religioso, mas tenho que levantar as mãos para o céu, pois, até então,
nenhuma delas jamais desconfiou de nada.
III
Glória
não diferia nem um pouco das demais mulheres que frequentavam aquele espaço. A
maioria delas padeciam de frustrações amorosas.
Fico
me imaginando deitado em um divã e o(a) analista querendo saber sobre mim:
-Toma
algum medicamento?
-Não.
-Já
usou drogas?
-Nunca
Que
outas ele, ou ela, faria? Qual seria o meu diagnostico? Não fiz aquilo tudo por dinheiro, mas, pelo
menos, eu tenho certeza de que suprimi as carências de todas elas.
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